Melancólicos filhos do Youtube (e outras músicas)

Um percurso pelos sons deste Super Bock em Stock — os que dão para dançar devagarinho e os épicos.

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Vai ser curioso ver como é que os Saxophones vão conseguir reproduzir a comovente intimidade do seu disco de estreia numa situação de festival

Vai ser curioso, vai: como raio é que os Saxophones vão conseguir reproduzir a comovente intimidade do seu disco de estreia numa situação de festival? Música feita de quase nada, uma guitarrista, duas vozes, muita tristeza – como?

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Vai ser curioso, vai: como raio é que os Saxophones vão conseguir reproduzir a comovente intimidade do seu disco de estreia numa situação de festival? Música feita de quase nada, uma guitarrista, duas vozes, muita tristeza – como?

Bom, a hora e o sítio ajudam: num festival convencional aquela melancolia perdia-se entre milhares de pessoas a olhar para telemóveis e espanhóis que nunca se calam. Mas às 23h45 de sábado, no São Jorge, em Lisboa – isto talvez configure uma situação de uma certa sacralidade, de disposição para ouvir.

São um caso danado, os Saxophones: com um orçamento para marketing que era menos que zero, foram ajudados pelo boca-a-boca, o partilha-a-partilha – basicamente toda a gente os descobriu graças ao algoritmo do YouTube, que por afinidade os foi colocando na lista de coisas a ouvir apropriadas para o teu gosto (sejas lá tu quem fores). Lentos, melancólicos, providos de uma guitarra acústica e pouco mais, foram lentamente tornando-se numa banda de culto, sobre a qual recaem imensas expectativas.

Sábado parece ter sido dedicado às bandas cujo escasso nome se deve aos mistérios do YouTube – exemplo disso são, também, os Still Corners: pesquisem por The Trip, um colosso psicadélico a leste dos nossos dias, pesquisem por Black Lagoon (e depois dêem um pulo ao Coliseu, às 21h, este sábado). Além disso, sábado parece dedicado à melancolia: Tim Bernardes, que é vocalista de O Terno, tornou-se caso de culto com Recomeçar, disco de 2017 que foi (mais uma vez) sendo descoberto lentamente. Recomeçar, avisa-se, é só corações destruídos, indicado, portanto, a lamechas e gente em processo de recuperação emocional das feridas provocadas em vale de lençóis (sábado, 20h30, Tivoli).

E, como se não bastasse, há o grande Elvis Perkins (filho do trágico Anthony), às 20h15, na Estação Ferroviária do Rossio, com a sua folk que em disco é orquestrada e muito bonita. Para dançar devagarinho há a excelente electrónica dos Jungle, às 00h30, no Coliseu.

Também se pode dançar ao som de Natalie Prass – e com isto estamos na sexta (porque este texto começou pelo fim e só agora chegou ao princípio). The Future and the Past, o mais recente disco, tem muito de r’n’b e de funkzinho suave, não descurando a melodia – experimentem picar Short court style. Prass actua esta sexta-feira às 23h45, no São Jorge, óptima hora para sentir o efeito de música melosa no sistema de navegação da anca.

Há Conan Osiris, às 22h15, e no mínimo há curiosidade para ver até que ponto pode chegar este curioso fenómeno de excelentes beats e voz (procura eufemismo) idiossincrática. Ainda no capítulo das vozes: vale a pena espiar a de Nakhane, às 22h na Casa do Alentejo; uma hora mais cedo, pura e épica pop com Manuel Fúria, no Coliseu.