Para explicar a biodiversidade actual das ilhas é preciso olhar para passado distante

Ilhas portuguesas incluídas na análise que considera que não chega olhar para os últimos 20 mil anos e que é preciso recuar até aos 800 mil.

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Ilha de São Jorge, Açores Pedro Cunha/Arquivo

Um estudo que envolveu mais de 50 ilhas vulcânicas, incluindo os Açores e a Madeira, conclui que a biodiversidade só pode ser compreendida se se para a variação do nível do mar dos últimos 800 mil anos.

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Um estudo que envolveu mais de 50 ilhas vulcânicas, incluindo os Açores e a Madeira, conclui que a biodiversidade só pode ser compreendida se se para a variação do nível do mar dos últimos 800 mil anos.

Publicado na revista Global Ecology and Biogeography, o trabalho “contradiz a maioria dos estudos na área, que consideram apenas níveis do mar extremos registados num passado recente, há cerca de 20 mil anos”, explica o comunicado do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.

A flutuação do nível do mar tem-se alterado ao longo de milhares de anos entre muito baixo, durante períodos frios, e muito alto, durante períodos quentes, influenciando “a riqueza e distribuição geográfica das espécies que actualmente habitam estas ilhas”. “Hoje em dia o nível do mar é relativamente alto, mas durante grande parte dos últimos milhões de anos o clima foi mais frio e, por consequência, o nível do mar era mais baixo do que actualmente", esclarece o comunicado.

Apesar de ter em conta essas alterações, muita da investigação feita na área da biodiversidade tem-se concentrado “nos níveis do mar actuais, ou considerado um período específico e de curta duração do passado recente da Terra como determinante para os padrões actuais de biodiversidade: o Último Máximo Glacial, um período excepcional que teve lugar há cerca de 20 mil anos quando os lençóis de gelo se encontravam na sua maior extensão e, portanto, os níveis do mar se encontravam extremamente baixos”.

A equipa, liderada por Sietze Norder, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, contou com a colaboração do Grupo de Biodiversidade da Universidade dos Açores e olhou para dados sobre a riqueza de espécies de caracóis terrestres e plantas com flores de 53 ilhas oceânicas vulcânicas de 12 arquipélagos de todo o mundo, incluindo os Açores, a Madeira, as Galápagos, Canárias e o Havai.

A combinação da informação recolhida com “dados sobre a ocorrência de milhares de espécies permitiu aos investigadores explorar o papel da dinâmica ambiental do passado na definição dos padrões actuais de biodiversidade”.

“As ilhas oceânicas vulcânicas são locais excelentes para estudar o papel das flutuações do nível do mar a longo prazo na modelação dos padrões de biodiversidade, pois são habitadas por muitas espécies endémicas, que não ocorrem em mais nenhum lugar do mundo”, nota Sietze Norder. “Muitas vezes estas espécies endémicas evoluíram numa ilha ao longo de grandes escalas de tempo e, portanto, experienciaram vários ciclos de subida e descida do nível do mar.”