"Estamos a construir uma nova Angola", diz João Lourenço

O Presidente de Angola defendeu que os dois países não podem ficar pela partilha de interesses económicos e avisou que a relação sólida existente "precisa de ser alimentada com a vontade de ambas as partes e reiterada com gestos e atitudes".

Foto
João Lourenço discursa na AR Rui Gaudêncio

O Presidente angolano afirmou esta quinta-feira na Assembleia da República que o desafio imediato do seu mandato é "construir uma nova Angola". "Estamos a construir uma nova Angola, de transparência, de concorrência leal nos negócios, com um ambiente de negócios cada vez mais amigo do investimento", disse João Lourenço na sessão solene que lhe foi dedicada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Presidente angolano afirmou esta quinta-feira na Assembleia da República que o desafio imediato do seu mandato é "construir uma nova Angola". "Estamos a construir uma nova Angola, de transparência, de concorrência leal nos negócios, com um ambiente de negócios cada vez mais amigo do investimento", disse João Lourenço na sessão solene que lhe foi dedicada.

Depois de 16 anos de "paz duradoura e irreversível", agora é o tempo de "encarar novos desafios com vista a garantir o aprofundamento da democracia e desenvolvimento do país", afirmou João Lourenço. Para esse objectivo, o executivo angolano estabeleceu duas frentes de batalha: o combate à corrupção e o desenvolvimento baseado na diversificação da economia.

No primeiro caso, o Presidente angolano há 13 meses no cargo realçou "a necessidade de moralização da sociedade em geral", "da base ao topo", à qual afirma juntar-se um conjunto de medidas que "pretende repor a autoridade das instituições do Estado, tornando o país mais seguro e mais atractivo para o turismo e o investimento privado." 

No campo do desenvolvimento, o Presidente angolano destacou a diversificação da economia aos sectores não pretrolíferos, com vista a "reduzir as importações de bens essenciais, aumentar a oferta de bens produzidos no país, aumentar o volume de exportações e de arrecadação de divisas e aumentar a oferta de emprego". Para isso, elegeu como "principal actor o investidor privado, nacional ou estrangeiro?". 

Mais "gestos e atitudes" a reiterar "relação sólida"

João Lourenço falou também sobre as relações entre Portugal e Angola que, disse, precisam de chegar a uma cooperação ainda mais estreita. "Portugal representa para nós um parceiro importante, com quem mantemos uma relação sólida que, como em qualquer outra relação, precisa de ser permanentemente alimentada e reiterada com gestos e atitudes de ambas as partes".

O Presidente angolano garantiu que a sua intenção é "manter a profunda amizade" com Portugal, reiterando a ideia de que Angola "está aberta a uma maior presença de empresários portugueses" na sua economia. Mas não só: "Gostaríamos que as nossas relações não se reduzissem à mera partilha de interesses económicos e empresariais", mas também na partilha de "consultas políticas, diplomáticas e parlamentares permanentes", assim como na troca de informação na educação, tecnologia, ciência, cultura e desporto.

Rematando o seu discurso pela CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Presidente angolano defendeu que esta tem uma "singularidade" e um "carácter único e original que devia ser mais "valorizado e explorado pelos governos" dos dois países. E afirmou estar convicto de que esta sua visita contribua para voltar a dinamizar a "parceria estratégica e privilegiada" entre Portugal e Angola.

Preocupações geopolíticas

João Lourenço deixou ainda as suas preocupações com alguns conflitos latentes em vários pontos do globo e com as alterações climáticas, condenou o racismo e a xenofobia, assim como a "ingerência externa" de alguns Estados na situação interna de outros. Defendeu a necessidade de uma acção concertada dos países para o combate ao crime organizado, ao tráfico de seres humanos e de armas.

Em termos geopolíticos, pediu o fim dos conflitos no Iémen e na Síria - que "causaram uma das maiores catástrofes de todos os tempos", com migrações em massa -, defendeu o direito do povo palestiniano a criar o seu próprio Estado, saudou o "esforço desenvolvido pelas duas Coreias, EUA e China para a redução da tensão e fim do conflito, desmilitarização e possível unificação" da península coreana?.

Porém, João Lourenço mostrou-se também apreensivo com o "possível retorno à guerra fria caso as duas super-potências não primem pela contenção e bom senso" na forma como abordam algumas questões estratégicas.

No final do discurso, João Lourenço foi aplaudido de pé por todos os parlamentares, à excepção do deputado do PAN e pela maioria do Bloco – apenas José Manuel Pureza e Heitor de Sousa se levantaram, enquanto Jorge Campos aplaudiu sentado.

Depois da sessão solene no plenário, voltaram a ouvir-se os hinos nacionais dos dois países executados pela Banda da GNR nos Passos Perdidos, e depois a comitiva seguiu para o salão nobre do Parlamento para os habituais cumprimentos.