Cidadãos admitem "sair à rua" contra megaprojecto de Entrecampos
Termina esta quinta-feira o prazo para os investidores apresentarem propostas de compra da antiga Feira Popular, cuja hasta pública decorre na sexta.
Os signatários de uma petição que pede a “interrupção da Operação Integrada de Entrecampos” para se fazer “uma verdadeira discussão pública” sobre o assunto escreveram uma carta a Fernando Medina com dúvidas e críticas ao projecto e à forma como ele foi apresentado e debatido. Os peticionários admitem manifestar-se na rua ou até recorrer à Justiça contra a intenção da autarquia.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os signatários de uma petição que pede a “interrupção da Operação Integrada de Entrecampos” para se fazer “uma verdadeira discussão pública” sobre o assunto escreveram uma carta a Fernando Medina com dúvidas e críticas ao projecto e à forma como ele foi apresentado e debatido. Os peticionários admitem manifestar-se na rua ou até recorrer à Justiça contra a intenção da autarquia.
“Não podemos deixar de lhe dizer que estamos a equacionar todos os cenários, e com a disposição de sairmos à rua, povo de Lisboa que somos, avançando com acção popular que nos mobilizará e a muitos mais. Podemos assegurar-lho, sr. presidente. Porque depois da política, chegou a hora dos lisboetas; o tempo da luta do povo!”, lê-se na missiva que seguiu esta quarta-feira para os Paços do Concelho – um dia antes de terminar o prazo para a entrega de propostas de compra dos terrenos da antiga Feira Popular.
Para esta sexta-feira está marcada a hasta pública destes lotes que, a correr como a câmara deseja, será o pontapé de saída para a Operação Integrada que os 282 peticionários queriam ver mais discutida. “Está o sr. presidente de consciência tranquila relativamente a este processo? Acredita mesmo que os lisboetas foram informados quanto a esta operação?”, questionam na carta. “Parece-lhe razoável que tenha concedido apenas 20 dias (a começarem no final de Maio e terminarem no final de Junho do ano corrente, o que só poderia ser pior se terminasse mesmo já na silly season em vez de na véspera dela) para que os lisboetas pudessem pelos seus próprios meios inteirar-se sobre as páginas e páginas de documentação que referiu constituírem o processo e pronunciarem-se sobre as mesmas?”
Esta petição foi entregue em Julho à assembleia municipal e ainda aguarda que a 3ª comissão (de Urbanismo) produza um relatório final, que depois será discutido em plenário. Mesmo que isso aconteça a muito breve trecho, a venda dos terrenos da antiga Feira Popular já não deverá ser evitada.
“Não temos vínculo partidário, não temos interesse(s) em qualquer grupo financeiro e não somos contra alguma coisa que se faça naqueles terrenos, mas que não seja qualquer coisa”, dizem os signatários na carta, levantando várias questões. “Anuncia a criação de mais de 15 mil empregos, zonas de comércio, mais de 750 novas casas de habitação: tudo naquela zona. E quantos novos carros naquela zona (e na cidade) representam esses números, sr. presidente? Sabe-o? Potencialmente 15 mil novos carros naquela zona não serão um problema para toda a cidade? Se sim, porque não o diz? Acha que o estudo de tráfego que apresentou tem qualidade?”
“Manifestou respeito para com aqueles que investem na cidade, e que considera que devem investir sem sentirem que há riscos para as suas decisões. Mas nem uma palavra de respeito para com os lisboetas, sr. presidente!? Porquê? Porque podem ser incómodos para os planos superiormente traçados por V. Ex.ª?”, disparam os autores da carta.
Os terrenos da antiga feira vão ser vendidos em três bocados, uma vez que as duas tentativas de alienação anteriores – que previam a venda num só lote – fracassaram. A câmara espera arrecadar pelo menos 180 milhões de euros. Naquela zona vai nascer, segundo Medina, um “centro de escritórios de alta qualidade”.