Qual o maior problema das agências de viagens actualmente? A TAP

O representante do sector critica a pontualidade e a performance da companhia aérea portuguesa – o que se traduz em milhões de euros gastos com atrasos – e acredita ainda que as agências de viagens recuperaram totalmente da crise em 2018.

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Pedro Costa Ferreira quer melhorar o diálogo com a transportadora portuguesa Paulo Pimenta

O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) afirma que "o maior problema" que estas empresas enfrentam actualmente é "a performance da TAP", com quem continuam a dialogar, apesar de já ter sido mais fácil. O sector das agências de viagens deverá no final do ano ter recuperado totalmente do início da crise, estima ainda o responsável, dizendo que o volume de negócios deve crescer no global entre 9% a 10%.

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O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) afirma que "o maior problema" que estas empresas enfrentam actualmente é "a performance da TAP", com quem continuam a dialogar, apesar de já ter sido mais fácil. O sector das agências de viagens deverá no final do ano ter recuperado totalmente do início da crise, estima ainda o responsável, dizendo que o volume de negócios deve crescer no global entre 9% a 10%.

"O nosso maior problema, neste momento, é a performance da TAP. Isso é que nos preocupa, porque é a má performance da TAP que temos de gerir todos os dias junto dos nossos clientes. Neste momento, a TAP à cabeça tem uma performance de pontualidade muito, muito desagradável", afirma Pedro Costa Ferreira em declarações à Lusa, a propósito do 44.º Congresso Nacional da APAVT que começa esta quinta-feira, em Ponta Delgada, nos Açores.

Segundo o mesmo responsável da APAVT, que citou dados da empresa especializada OAG, em Julho deste ano, "a performance da TAP em termos de voos com pontualidade era de 47% 'on time', o que colocava a TAP no ranking 181 de 201 companhias que eram acompanhadas por essas estatísticas".

Já em Setembro, "aparentemente a pontualidade teria melhorado um bocadinho – nada de extraordinário – 50,9%, porém é uma pequena mentira porque, se é verdade que subiu um bocadinho a pontualidade, isso deveu-se muito mais ao mês do ano do que propriamente à competitividade da TAP em termos de pontualidade", acrescenta.

"A verdade é que o ranking da TAP de Julho para Setembro desceu de 181 para 186 em 198 companhias aéreas", salienta Pedro Costa Ferreira.

Assim, e tendo em conta que "a pontualidade é o primeiro critério do corporate [viagens de negócios]" e que para as agências de viagens este segmento "é um negócio extremamente importante", pode calcular-se "as dificuldades" que as agências têm tido em gerir a vida dos clientes, explica o presidente da APAVT.

Milhões de euros em atrasos

A 15 de Novembro, o presidente executivo (CEO) da TAP, Antonoaldo Neves, disse, em Vila Nova de Gaia, que os atrasos na TAP este ano custaram mais 40 milhões de euros do que em 2017. O gestor da transportadora admitiu que este valor é "muito penalizante", não só para quem viaja, mas também para a empresa, dadas "as compensações" que é obrigada a pagar.

No entanto, Pedro Costa Ferreira, assinala que a juntar-se à falta de pontualidade têm existido "más experiências no embarque e também alguma quebra de serviço a bordo".

"Em todo o caso, a pontualidade parece-me ser, neste momento, o ponto mais importante da falta de qualidade do serviço da TAP", reforça, lembrando que o CEO da TAP também disse, recentemente, numa entrevista que "houve mau planeamento da formação das tripulações, apesar de tudo um bocadinho compensada pelo facto dos pilotos estarem a voar em dias de folga e de férias", para acrescentar que isso "não apaga o número em si" e é esse que "preocupa" a APAVT.

Instado a especificar de que forma é que esses constrangimentos atingem a actividade das agências de viagens, Pedro Costa Ferreira deu alguns exemplos.

"A grande questão é que são os agentes de viagens quem está atrás da cortina a tratar das necessidades de um cliente que perdeu um avião ou uma reunião, ou perdeu uma ligação, ou pela falta de pontualidade. Não há outra maneira de dizer. (...) A principal consequência para o cliente, já sabemos, é a perda de qualidade da viagem e para a agência de viagens é a perda de rentabilidade, pois, para a mesma viagem, estamos a cumprir, obviamente, os nossos deveres de boas práticas e, portanto, o acompanhamento de uma viagem que já foi vendida é feita com muito mais tempo e muito mais custos", explica.

Sobre o congresso da APAVT, e questionado sobre se tem havido diálogo com a companhia que, a ver pelo programa, tem diminuído a presença nesta reunião anual das agências de viagens, Pedro Costa Ferreira responde: "Não há como não admitir que a visibilidade da companhia no seio do nosso congresso [antes parceira] é hoje menor do que há anos atrás, mas do ponto de vista da representação de um sector e do presidente dessa associação terá de haver sempre abertura para um diálogo futuro".

"Não creio que seja possível aumentar a qualidade da viagem e a segurança dos nossos passageiros se não houver diálogo de quem está mais perto deles, que são os agentes de viagens, e quem mais os transporta em Portugal, que é a TAP", sublinha ainda.

O presidente da APAVT ressalva: "Não estou a dizer que a TAP não dialoga, mas não há como não reconhecer que hoje a qualidade do diálogo com a TAP não é tão boa como em anos anteriores. E não há também como não reconhecer que defendemos melhorá-lo [o diálogo] sem estarmos ofendidos, porque em negócio o que nos deve definir sempre é a estabilidade dos nossos clientes e a qualidade da nossa 'performance'".

Recuperar da crise

"O histórico recente das agências de viagens é um histórico de crescimento. As agências de viagens cresceram nos últimos anos mais do que a economia nacional, cresceram mais do que o sector turístico, cresceram mais do que o transporte aéreo e, este ano, apesar de todas estas novas dificuldades e atmosferas normativas, contamos acabar o ano com um crescimento no lazer de cerca de 10% e no corporate [segmento de viagens de negócios] não estaremos longe dos 8% ou 9%", afirmou o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) à Lusa.

Sem concretizar o valor global do volume de negócios estimado, Pedro Costa Ferreira diz, no entanto, que só na venda de bilhetes de avião das companhias aéreas regulares o valor estará próximo dos 900 milhões de euros.

"Temos uma estatística importante que é a venda de bilhetes aéreos em companhias aéreas regulares – a que chamamos o BSP – e estamos no acumulado a Setembro a crescer 7%, o que é um número francamente atraente para o sector, sobretudo se pensarmos nas extraordinárias dificuldades operacionais que este ano tivemos de gerir junto dos nossos clientes motivados pela quebra de 'performance' da qualidade da TAP", explica Pedro Costa Ferreira.

Assim, "se falarmos só em passagens aéreas regulares estaremos muito próximos dos 900 milhões de euros este ano", acrescenta.

Posto isto, no global – viagens de lazer e corporate – em volume de negócios o presidente da APAVT afirma poder estimar-se um crescimento entre "os 9 e os 10%" em 2018.

"É um número francamente atraente se pensarmos que nos últimos anos temos crescido a taxas muito semelhantes. Diria que atingimos este ano, certamente, os números de 2008 e podemos dizer que recuperámos totalmente do início da crise", destaca.

Para as contas, contribui a entrada em vigor em Julho último da nova directiva de viagens organizadas, mas cuja quantificação do acréscimo de custos o responsável diz não ter, até porque a operação do sector "ficou com custos mais altos", mas também é verdade que, como "em qualquer operação económica", esses custos são repercutidos ao consumidor, assinala.

"Portanto, há um equilíbrio que acaba mais cedo ou mais tarde por atingir-se", sublinha.

"Como sabemos, esta nova directiva traz responsabilidades acrescidas às agências de viagens e também mais segurança aos consumidores que viajam com as agências de viagens. Havia, naturalmente, algum receio, porque era um quadro legislativo completamente novo do ponto vista das responsabilidades e até dos custos. A grande verdade é que enfrentámos um verão já com este quadro normativo e correu bem", nota Pedro Costa Ferreira.

Segundo o presidente da APAVT, "a normalidade das operações, de facto, foi a regra" e a associação desenvolveu seguros que permitiu às agências colocá-los no mercado e segurarem o novo risco existente.

"Desse ponto de vista, penso que podemos estar todos satisfeitos, a transposição [da directiva] revelou-se capaz de organizar a nova atmosfera de relacionamento entre clientes e agências de viagens e, sobretudo, os agentes de viagens também revelaram estar à altura das novas responsabilidades", afirma.