Guerra dos Tronos: chegou o novo livro, e mostra a angústia do escritor antes do penálti televisivo

Sangue e Fogo, pré-história de uma das sagas mais populares das últimas décadas, chega a Portugal numa altura em que George R.R. Martin confessa: "Tive noites negras da alma em que bati com a cabeça no teclado e disse ‘Deus, alguma vez vou acabar isto?’".

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O livro de George R.R. Martin que muitos fãs preferiam que fosse outro é editado em Portugal sexta-feira. Sangue e Fogo é mais uma bifurcação no universo que o escritor norte-americano vem criando há mais de 20 anos e é uma das grandes narrativas de massas do século XXI: os livros da saga As Crónicas de Gelo e Fogo já venderam mais de 90 milhões de cópias, a série televisiva é a mais importante produção da década. Obra lateral à saga que tenta terminar há sete anos, chega em plena angústia de um autor. Martin sente o “peso” da popularidade da sua criação, bate “com a cabeça no teclado” para terminar o livro em falta, The Winds of Winter. Vive a experiência única de ser um criador ultrapassado pela sua criação.

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O livro de George R.R. Martin que muitos fãs preferiam que fosse outro é editado em Portugal sexta-feira. Sangue e Fogo é mais uma bifurcação no universo que o escritor norte-americano vem criando há mais de 20 anos e é uma das grandes narrativas de massas do século XXI: os livros da saga As Crónicas de Gelo e Fogo já venderam mais de 90 milhões de cópias, a série televisiva é a mais importante produção da década. Obra lateral à saga que tenta terminar há sete anos, chega em plena angústia de um autor. Martin sente o “peso” da popularidade da sua criação, bate “com a cabeça no teclado” para terminar o livro em falta, The Winds of Winter. Vive a experiência única de ser um criador ultrapassado pela sua criação.

“A série [de televisão] atingiu tal popularidade em todo o mundo, os livros têm sido tão populares e tão bem recebidos pela crítica que cada vez que me sento estou muito consciente de que tenho de fazer algo excelente, e tentar fazer algo excelente é um peso considerável a carregar”, confessou há dias numa reveladora entrevista ao Guardian.

O novo livro é descrito pelo diário espanhol El Mundo como “a metadona para os junkies de George R.R. Martin”. Sangue e Fogo chega a Portugal três dias depois do lançamento nos EUA, e em dois volumes, à semelhança do que aconteceu com os cinco livros já existentes d’As Crónicas de Gelo e Fogo, que deram azo a dez tomos. O primeiro sai esta sexta-feira para as livrarias e o segundo da série A História dos Reis Targaryen será lançado pela Saída de Emergência em Fevereiro. “É um dos grande lançamentos do mercado editorial português neste final de ano”, diz ao PÚBLICO Paulo Batista, director comercial da editora. “Quer na nossa loja, quer nas restantes livrarias online, as pré-vendas atingiram valores acima da média habitual e com uma maior antecedência.” A “maior aposta" do Inverno da Saída de Emergência terá uma primeira tiragem de 11.500 exemplares, número significativo para os padrões actuais em Portugal.

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Ilustração do novo livro, da Batalha de Fishfeed Doug Wheatley/Penguin Random House

"Este é o meu Silmarillion"

Sangue e Fogo, que recua milhares de anos em relação à história que em 1996 começou, não é ainda o sexto e muito aguardado volume da saga central: há sete anos que o autor deixou em suspenso a história de dinastias, dragões mágicos e violência medieva que é hoje conhecida pela ampla designação de “A Guerra dos Tronos” – título do primeiro livro, mas sobretudo título da série da HBO (estreada em Portugal no canal SyFy) que a tornou num fenómeno transversal.

O novo livro “não é um romance tradicional. É uma História imaginária”, apressou-se Martin a esclarecer numa das poucas entrevistas que deu nas últimas semanas, à Entertainment Weekly, e tem um estilo de “manual”, diferente dos livros que o popularizaram. “Este é o meu Silmarillion”, brincou, aludindo à colectânea do seu ídolo, J.R.R. Tolkien, que expande a mitologia do universo de O Senhor dos Anéis. Não haverá capítulos a partir do ponto de vista de cada personagem, como n’ d’As Crónicas de Gelo e Fogo, mas há um narrador pouco fiável, um mestre que faz a crónica da família Targaryen – Martin gosta de subjectividade no seu trabalho, e o cânone das histórias por si criadas é cada vez mais complexo.

Como dizia ao PÚBLICO David Lavery, professor universitário norte-americano especialista em televisão e narrativa, A Guerra dos Tronos “é uma narrativa vasta” – uma narrativa em expansão, multiplataformas, um verdadeiro universo. Mas leitores e espectadores depositam talvez a maior expectativa no “material de origem”, como o próprio Martin o descreve, a história sobre Westeros que já desde 2016 vem sendo contada em primeira mão, com novidades inéditas, pela série de televisão, que já ultrapassou o que está escrito nos livros. “Vou contar a minha história, e eles vão contar a história deles”, anunciava o autor numa convenção em 2015.

“Em Winds, tenho uns dez romances diferentes e estou a fazer malabarismo com as linhas temporais”, explicou à Entertainment Weekly, depois de ter detalhado dias antes ao Guardian que cada cada um desses romances dentro de um romance tem “um protagonista diferente, cada um com o seu elenco de actores secundários e antagonistas e aliados e amantes à sua volta, tudo isso a tecer-se de uma forma muito complexa": “É muito, muito desafiante.”

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Doug Wheatley/Penguin Random House

De volta a Westeros

A pressão é grande. Tão grande que o escritor já teve de ser defendido por outro escritor, o seu correligionário Neil Gaiman: “George RR Martin não é a vossa bitch”, lembrou aos leitores que exigiam que Martin se despachasse a escrever o sexto e penúltimo livro da saga. “Há dias em que me sento de manhã com o meu café e caio na página e quando acordo é noite e o meu café ainda ali está, gelado, e passei o dia em Westeros”, diz, feliz, ao Guardian. Mas “às vezes é difícil entrar nesse estado de transe”.

A pressão vem de uma série televisiva que começou por ser uma versão complementar e entretanto se tornou, para muitos, a verdadeira e talvez definitiva versão de uma história apaixonante, e que pertence aos fãs. “Sei que há por aí muitas pessoas que estão muito zangadas comigo porque Winds of Winter não está terminado”, reconhecia à Entertainment Weekly. “E eu próprio estou zangado por isso. Gostava de o ter terminado há quatro anos. Tive noites negras da alma em que bati com a cabeça no teclado e disse ‘Deus, alguma vez vou acabar isto?’ A série está a avançar cada vez mais e eu estou cada vez mais atrasado. O que raio se passa? Tenho de fazer isto.’” Não é, garante, “como se estivesse estado sete anos de férias”: tem escrito outros livros, está a trabalhar noutras séries de televisão, e está a tentar. “Há muito tempo que não tenho um livro de Westeros e ninguém sabe isso mais do que eu. Sei isso tanto quanto os meus fãs hardcore mais zangados.”

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Doug Wheatley/Penguin Random House

É natural que os leitores procurem nas páginas ilustradas de Sangue e Fogo o que pode ele dizer sobre The Winds of Winter – e há algumas ideias sobre a origem dos dragões da heroína Daenerys, outras sobre a linhagem de Tyrion Lannister, no fundo “algumas [pistas] que são importantes”. “Mas não vou assinalá-las. Os leitores terão de as encontrar e descobrir se são pistas ou engodos”, antecipa Martin sobre o livro que o deixa feliz por ter conseguido terminá-lo. Entretanto, em Abril de 2019 chega a oitava e última temporada televisiva de A Guerra dos Tronos, com seis episódios longos como filmes, que dirá de sua justiça quanto à sua versão dos acontecimentos em torno de Jon Snow (ou Jon Nieve, em Espanha) e companhia.

De outra dessas poucas entrevistas para promover Sangue e Fogo, percebeu-se que Martin está agora algures nas montanhas, na cabana onde normalmente se entrincheira quando tem de acabar um livro. Como disse ao Wall Street Journal, o livro que está a acabar é, finalmente, The Winds of Winter.

Notícia corrigida às 9h50: título da tradução em português da saga