Investigadores criam app que lhe diz se o vinho que compra é falsificado
A CorkID foi desenvolvida pelo INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial) e funciona como uma espécie de impressão digital para rolhas de cortiça.
A cortiça é um material de personalidade inimitável, tanto pela sua capacidade de isolamento térmico e acústico como pela sua impermeabilidade a líquidos e gases, ou até pela sua elasticidade e capacidade de ser comprimida.
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A cortiça é um material de personalidade inimitável, tanto pela sua capacidade de isolamento térmico e acústico como pela sua impermeabilidade a líquidos e gases, ou até pela sua elasticidade e capacidade de ser comprimida.
Foi por reunir um conjunto de características tão variadas e por já fazer parte da embalagem clássica da maior parte dos vinhos que uma equipa do INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial) a escolheu como matéria-prima para criar um sistema que seja capaz de combater a contrafacção de vinhos.
“O processo é simples”, explica Ana Reis, directora da área de tecnologias avançadas de fabrico do INEGI e coordenadora do projecto. “Em fábrica tem de ser feita a recolha de uma imagem, neste caso do topo da garrafa onde se encontra a rolha. A imagem é armazenada na base de dados a que o utilizador tem acesso na aplicação. Quando está perante a garrafa fotografa-a; a aplicação vai fazer uma pesquisa e se a ‘impressão digital’ da rolha em questão estiver na base de dados quer dizer que o vinho não é falsificado e é dada ao utilizador uma luz verde.”
No entanto, a aplicação só funcionará se as garrafas de vinho não tiverem o invólucro de plástico ou de outro material semelhante que tape a parte de cima da rolha. Nessas situações, o utilizador só poderia utilizar a app depois de fazer a compra do produto ou caso vá beber o vinho num restaurante ou bar, situação em que, normalmente, a rolha de cortiça já está pronta a fazer o tradicional ‘'pop'’.
A ideia, conta Ana Reis, surgiu com o pedido de uma empresa do grupo Corticeira Amorim que a pensar no problema da contrafacção, a empresa queria arranjar uma forma simples de controlar a autenticidade do produto sem comprometer as embalagens e a forma clássica de rolhamento das bebidas.
“Dessa primeira ideia surgiu a CorkID porque a cortiça por ter uma textura que é sempre diferente, como uma espécie de impressão digital, dá-nos a possibilidade de termos um padrão único, que, ao contrário de outros sistemas no mercado, não pode ser copiado e colado”, explica a coordenadora do projecto. “Não existem duas rolhas de cortiça com uma textura igual”, remata.
O projecto desenvolveu-se e passou a estar do lado de quem comercializa o produto, uma vez que a fotografia tem de ser tirada no momento em que o vinho está a ser engarrafado.
Desde 2014 que a Sogrape Vinhos colabora com o INEGI noutros projectos e a empresa vinícola já se mostrou interessada na utilização do sistema, disponibilizando até as suas instalações para que no início do projecto a aplicação fosse desenvolvida directamente na fábrica.
No entanto, a equipa procura agora uma entidade que esteja interessada em fazer a ponte entre a app que já se encontra a funcionar e a sua execução numa empresa comercializadora de vinhos.”Nós não temos capacidade de pôr uma equipa inteira a montar sistemas, câmaras e uma base de dados completa, somos apenas a incubadora da ideia”, diz Ana Reis.
A aplicação não tem só interesse para a resolução do problema da contrafacção, mas também pode ser usada como estratégia de marketing. Quando o cliente compra um vinho e tem a aplicação instalada, basta inserir os seus dados e o produtor mediante a autorização do utilizador sabe quem comprou o vinho, que idade tem e onde o adquiriu, fazendo com que a empresa possa adaptar a sua estratégia de mercado a essas informações.
A aplicação, garante Ana Reis, já funciona, e “o próximo passo seria adaptá-la ao cliente porque ao ter uma marca interessada é criada uma base de dados de todos os vinhos da empresa, permitindo também ao consumidor aceder a um banco de informação sobre aquele vinho em concreto”.
A equipa de investigadores já submeteu um pedido de patente. Aguarda agora um parceiro que queria desenvolver a ideia, que pode também ser adaptada a outros negócios que utilizem a cortiça como produto base.