Compras online crescem, mas continuam longe da média europeia
Portugal está há anos a recuperar terreno face à União Europeia. Continua, porém, perto do fundo da tabela.
O hábito de fazer compras online cresceu significativamente em Portugal desde o início da década. Hoje, perto de quatro em cada dez residentes compram produtos ou serviços através de um computador ou telemóvel. É uma prática impulsionada pela massificação da tecnologia, por um crescimento da literacia digital e por um aumento da oferta por parte das empresas. Mas o país continua longe da média europeia, num fenómeno em que a dimensão geográfica, os hábitos e até os muitos dias de sol também desempenham um papel.
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O hábito de fazer compras online cresceu significativamente em Portugal desde o início da década. Hoje, perto de quatro em cada dez residentes compram produtos ou serviços através de um computador ou telemóvel. É uma prática impulsionada pela massificação da tecnologia, por um crescimento da literacia digital e por um aumento da oferta por parte das empresas. Mas o país continua longe da média europeia, num fenómeno em que a dimensão geográfica, os hábitos e até os muitos dias de sol também desempenham um papel.
Em 2010, apenas 15% faziam compras online. Naquela altura, o país era diferente: pouco mais de metade da população usava a Internet (actualmente são mais de três quartos), os smartphones eram uma novidade nas lojas, e serviços como o Netflix, o Airbnb e a Uber estavam a anos de distância. Ao longo dos últimos oito anos, todas estas tecnologias se massificaram, trazendo consigo novos hábitos de consumo. Os supermercados facilitaram as encomendas online, comprar na Amazon ou no eBay tornou-se banal, e não falta quem peça refeições através de uma aplicação.
O resultado é que, em 2018, 37% das pessoas entre os 16 e os 74 anos a residir em Portugal fizeram compras online, segundo números do Instituto Nacional de Estatística divulgados nesta quarta-feira. No ano passado, eram 34%.
“Vínhamos de um ponto de partida muito baixo na adopção da Internet. A população com acesso à Internet tem vindo a crescer e, no número de compradores online, também vemos essa aproximação [à União Europeia] a crescer”, observa Alexandre Nilo Fonseca, presidente da Acepi, uma associação empresarial dedicada ao comércio electrónico e digitalização das empresas.
Ainda assim, o uso do comércio electrónico em Portugal é inferior à média europeia, que em 2017 (o ano mais recente para o qual há dados) estava nos 57%. Portugal surgia em 22.º lugar na lista, próximo de países como a Grécia, Itália e Chipre, e muito distante das posições cimeiras, ocupadas pelos países do norte europeu, que historicamente estão na linha da frente no uso de tecnologias de informação.
Não é só a massificação mais tardia da tecnologia e uma menor literacia digital que justificam a posição portuguesa na tabela. “Temos menos compradores online por razões históricas e culturais”, explica Nilo Fonseca. “Por comparação com outros países europeus, temos melhores centros comerciais. O país é relativamente pequeno e normalmente conseguimos encontrar uma oferta no mundo físico. E somos dos países da Europa com maior número de horas de sol, as pessoas gostam de sair à rua.” Até o hábito de andar de bicicleta – muito mais enraizado em alguns países nórdicos – torna as compras online mais atractivas naqueles países: é mais difícil passar num supermercado para fazer compras quando não se está de carro.
Roupa, desporto e viagens
Em Portugal, a roupa e os produtos desportivos são as compras mais frequentes, segundo o INE. É uma opção que, por um lado, reflecte os preços baixos encontrados pelos consumidores em sites internacionais, aos quais 90% dos consumidores online recorrem, segundo um relatório recente da Acepi. Por outro, mostra a adaptação de um sector onde as fronteiras entre online e mundo físico se esbateram. Os grandes retalhistas de moda (tal como acontece noutros sectores) combinam agora a venda online com a possibilidade de recolha, reembolso ou troca em loja, aliciando consumidores para o tipo de compra que, em tempos, implicava experimentar antes de comprar.
Em segundo lugar na lista estão as viagens e reservas de alojamento. São compras que têm sido impulsionadas pela popularidade crescente de sites como o Booking e o Airbnb, bem como pela modernização dos sites das empresas de transportes e ainda pelo aparecimento de vários serviços online que permitem comparar preços e encontrar os voos mais baratos.
Geograficamente, continua a haver fronteiras marcadas entre as regiões que mais compram e aquelas onde esta prática é mais rara – mas o país tem vindo a tornar-se mais uniforme. A Área Metropolitana de Lisboa está no topo da tabela. Nesta região, mais de um terço dos cibernautas faz compras online (o INE não apresenta dados isolados para a Área Metropolitana do Porto, que surge integrada na região Norte). Seguem-se a Madeira, os Açores e o Alentejo, que são também as três regiões que registaram maior crescimento desde 2010. Aqui, a penetração da tecnologia foi mais tardia e o recurso ao comércio online pode ser em parte explicado pela falta de opções de comércio físico em muitas localidades.
Já o perfil de quem mais compra online é desenhado com as mesmas linhas da idade e do acesso à educação que habitualmente caracterizam a adopção de tecnologia. A prática é mais frequente nas faixas etárias até aos 34 anos, caindo gradualmente à medida que a idade avança. Os estudantes compram mais do que os trabalhadores e os que têm formação superior fazem-no mais vezes do que os restantes.
Os meios de pagamento preferidos entre os portugueses continuam a ser a transferência bancária, o Multibanco e o cartão de crédito. Mas a adopção de ferramentas como o PayPal e o MB Way (da SIBS, a proprietária do Multibanco) tem vindo a crescer. Um estudo do Cetelem, um banco de crédito pessoal, apontou que perto de um terço dos utilizadores usam este tipo de serviços, uma subida face a 2017.
Mais do que uma questão de acesso à Internet ou de meios de pagamento, os inquéritos do INE sugerem que não fazer compras online é também uma questão de opção. Embora quase metade ainda refira problemas de confiança, dois terços das pessoas disseram simplesmente não ter necessidade de recorrer ao comércio electrónico. E foram 85% os que apontaram como razões a “preferência pelo contacto pessoal ou força do hábito” e a “fidelidade aos comerciantes”. com Rita Marques Costa