Turquia acusa EUA de “olhar para o lado” no caso Khashoggi

Reacções às declarações de Trump sobre a hipótese de o príncipe herdeiro ter ordenado o assassínio do jornalista: “talvez sim, talvez não”.

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Manifestação em apoio de Jamal Khashoggi Osman Orsal/Reuters

A Turquia acusou esta quarta-feira os Estados Unidos de tentarem ignorar o assassínio do jornalista saudita a viver nos EUA Jamal Khashoggi depois de, na véspera, o Presidente americano Donald Trump ter prometido manter-se um parceiro sólido do regime de Riad.

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A Turquia acusou esta quarta-feira os Estados Unidos de tentarem ignorar o assassínio do jornalista saudita a viver nos EUA Jamal Khashoggi depois de, na véspera, o Presidente americano Donald Trump ter prometido manter-se um parceiro sólido do regime de Riad.

Trump disse que não tinha como saber se o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que de facto tem o poder no país, ordenou o assassínio do jornalista no consulado saudita em Istambul. “Talvez sim, talvez não.” Mas independentemente disso, a relação Washington-Riad mantém-se firme, disse, sublinhando que a Arábia Saudita é um “grande aliado” na luta contra o poder iraniano no Médio Oriente.

Numan Kurtulmus, vice-presidente do partido AKP do Presidente Recep Tayyip Erdogan, classificou as declarações como “uma comédia”. “Não é possível para uma agência de espionagem como a CIA, que sabe a cor do pêlo do gato que anda no jardim do consulado saudita, não saber quem deu esta ordem” para matar Khashoggi. “Isto não é credível nem para a opinião pública dos EUA nem para a do mundo”.

A CIA acredita que a ordem para matar o jornalista foi dada pelo próprio príncipe herdeiro. A Turquia tem dito que a ordem foi dada “ao mais alto nível” do regime, sem acusar directamente o príncipe.

Mohammed bin Salman (mais conhecido como MBS) deverá participar na reunião do G20 na Argentina no final do mês (a Arábia Saudita costuma enviar representantes mais abaixo na hierarquia do regime), depois de ter tentado mostrar numa conferência em Riad que as ondas de críticas ao regime não estão a ter efeitos práticos. Mas segundo responsáveis argentinos, a presença não está 100% decidida. “Está na lista de presenças mas ainda pode mudar de ideias”, disseram ao Guardian.

A Arábia Saudita negou que o príncipe herdeiro tivesse ordenado o assassínio. Depois de várias explicações contraditórias, na semana passada Riad afirmou que Khashoggi foi morto e o seu corpo desmembrado quando “negociações” para o convencer a regressar à Arábia Saudita falharam. O Ministério Público saudita pediu a pena capital para cinco suspeitos, mas disse que príncipe não sabia dos seus planos.

Khashoggi não se considerava crítico do regime nem dissidente. Elogiou algumas políticas recentes mas criticou duramente outras. Na sua afirmação sobre o assunto, Donald Trump chamou a atenção por um pormenor: classificou Khashoggi como “inimigo do regime”, algo que Riad nunca fez.