Alguém soube que Thom Yorke é fã de filmes de terror
Durante a tournée de Ok Computer o vocalista dos Radiohead passava os momentos on the road a ver O Exorcista, conta-nos. Agora lembraram-se de lhe pedir que compusesse para um filme de terror: Suspiria chega às salas quinta-feira.
Sobre filmes, Thom Yorke, dos Radiohead, 50 anos, declara-se “um aborrecido fã de [realizador Stanley] Kubrick “como toda a gente” da sua idade. Também aprecia filmes de terror. “Provavelmente não terá sido a coisa mais adequada para fazer, mas durante o período do [álbum] OK Computer, quando estava a debater-me com alguns problemas, sentava-me sozinho no fundo do autocarro a ver O Exorcista. Gosto de filmes de terror que são, de modo geral, assustadores, como O Senhor Babadook. Esse filme é mesmo fixe.”
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Sobre filmes, Thom Yorke, dos Radiohead, 50 anos, declara-se “um aborrecido fã de [realizador Stanley] Kubrick “como toda a gente” da sua idade. Também aprecia filmes de terror. “Provavelmente não terá sido a coisa mais adequada para fazer, mas durante o período do [álbum] OK Computer, quando estava a debater-me com alguns problemas, sentava-me sozinho no fundo do autocarro a ver O Exorcista. Gosto de filmes de terror que são, de modo geral, assustadores, como O Senhor Babadook. Esse filme é mesmo fixe.”
É interessante. por isso, que a primeira banda sonora que Thom Yorke compõe apareça só agora, seja para Suspiria, a versão de Luca Guadagnino do filme de Dario Argento de 1977. “Estas foram as primeiras pessoas suficientemente loucas para acharem que eu conseguiria fazê-lo”, afirma em tom suave o principal compositor dos Radiohead desde que o grupo se formou em Oxford em 1985. “As outras únicas pessoas que alguma vez me pediram — e costumo rir com o meu amigo Ed Norton acerca disto — foram as de Fight Club/Clube de Combate. Mas eu tinha terminado a digressão do OK Computer e não conseguia sequer pensar direito, quanto mais compor uma banda sonora.”
Jonny Greenwood, o guitarrista dos Radiohead que compõe para Paul Thomas Anderson desde Haverá Sangue, 2007, deu-lhe conselhos. “Essencialmente passou o tempo a gozar comigo porque sabe a maneira como funciono. Existe um grau de caos que me acompanha. O Jonny é mais metódico, mas ao longo dos anos fui observando como ele fazia, por isso a modos que percebo — mas não totalmente. Deu-me conselhos: ‘Trabalha em abstracto e não trabalhes para o ecrã, porque não estás habituado a isso.’ Também me disse para trabalhar com o argumento antes de me começarem a mandar coisas e em cerca de três semanas obtive a maior parte das ideias centrais sobre a direcção que iria tomar.”
Temas da banda italiana de rock progressivo Goblin destacavam-se no filme de Argento. “Gosto muito da música dos Goblin mas não conhecia o filme original, porque não sou conhecedor de cinema”, assume Yorke. “Mas vi-o várias vezes e tornou-se óbvio que eles fizeram aquilo rapidamente e de forma muito intensa. É efectivamente extrema e muito daquela época. É a narrativa daquele filme, que é quase como um vídeo de rock alongado, enquanto isto que faço é inteiramente diferente. De certa forma, foi um alívio entrar num mundo completamente diferente que o Luca estava a tentar criar.”
Guadagnino escreveu-lhe “uma carta muito simpática”. Encontraram-se em Turim. “Normalmente neste tipo de conversas começo logo ‘ná, isso não é a minha onda’, mas houve qualquer coisa na forma como ele falava e a confiança que depositava em mim que me fizeram pensar no assunto.” Reuniram-se de novo num café em Londres. “O Luca estava a falar-me acerca de Volk [a peça coreográfica dentro do filme] e disse-me que queria algo muito simples. ‘Quero um relógio, quero qualquer coisa que o acompanhe.’ Mas eu tinha outra ideia na cabeça em termos de como deveria soar, como iria preencher o espaço sonoro na sala e cada coluna de som teria a passar uma ligeira derivação da ideia melódica. No final acabou por acontecer isso e o ponto alto ao ver o filme foi perceber que ficou como eu tinha pensado que iria ficar.”
Manter o público na expectativa
Musicalmente Yorke não quis olhar para 1977. “Queria olhar para coisas anteriores, para o Krautrock, Tangerine Dream, coisas com os primeiros sintetizadores. Havia uma liberdade e energia patentes nesse período.” Cantor, compositor e multi-instrumentista, o segredo da sua carreira, sublinha, é manter o público na expectativa. “Não consigo fazer o que as pessoas querem que faça. Pode parecer uma maldição mas é uma bênção. Enquanto banda, Radiohead, não conseguíamos fazer apenas o que era necessário, estávamos sempre a fazer o que não era necessário. Fico nervoso quando as coisas são fáceis. A principal razão para ter aceite este filme foi sair da minha zona de conforto. Há uma frase do [David] Bowie: se estamos confortáveis com aquilo que fazemos, então estamos no sítio errado. Temos de nos deslocar para um local onde não sabemos muito bem o que está a acontecer.”
Nos últimos anos também encontrou uma nova liberdade enquanto intérprete. Em palco, num recente concerto a solo em Milão, estava visivelmente divertido. “Actuar é agora uma forma de celebração. Antes nunca estava confortável com a ideia de que sou um intérprete e isso soa a estupidez, mas cresci com um monte de bandas que me parecia que iriam resistir a isso. E depois percebi que não era verdade. Um dos meus maiores heróis é Michael Stipe [REM] e é um intérprete natural em todas as situações — ele vai adorar-me por eu ter dito isto!”.
Yorke, artista a solo, como se define? “É tão diferente. Ainda nem sequer percebi bem. Só agora estou a começar a perceber, porque dou por mim em palco e não tenho ninguém à minha volta. É como o teatro, mas não sou um actor.” Enfrentar os jornalistas num festival de cinema é mais difícil. “É como arrancar um dente, não é o meu mundo. Sinto-me peixe fora de água. Esta não é uma posição que naturalmente escolheria para me colocar. Estou aqui porque estou muito orgulhoso daquilo que fizemos e da música que criámos e obriguei-me a ir a um local onde normalmente nunca escolheria ir. Preferia estar lá fora. Aqui dentro é assustador.”
Quando os Radiohead deram um concerto em Israel no ano passado os fotógrafos estiveram em força na cobertura dos protestos contra o facto de a banda tocar ali. “Oh, meu Deus, foi uma loucura”, recorda. “Escondemo-nos num restaurante durante 40 minutos enquanto todos os fotógrafos andavam a correr atrás de nós. Mas estou contente por termos tocado lá.” Está mesmo? A banda pagou um preço por essa decisão? Muitos artistas têm cancelado espectáculos em Israel. “Há fãs dos Radiohead que provavelmente nos criticam por isso. É o preço que temos que pagar. Criticam-nos porque, na opinião deles, teremos comprometido os nossos princípios éticos. Estão no seu direito. Toda a gente tem que tomar as suas próprias decisões.”
Ao longo dos anos tem sido activista a favor de várias causas, incluindo o meio ambiente, os direitos humanos. Agora, apenas se envolve “às vezes”. “Trabalhei muito, e durante muito tempo, na questão das alterações climáticas e isso acaba por ter efeitos sobre mim”, confidencia. “Por isso agora apenas escolho envolver-me em qualquer coisa quando me sinto suficientemente forte. Cada vez que colocamos a cabeça de fora podemos levar um tiro. Não quero parecer egoísta, mas tem um efeito sobre nós. As coisas que escreviam sobre mim eram perturbadoras. Tenho que ser honesto: não consigo lidar muito bem com isso.”
E não lhe falem em selfies nem em redes sociais.