Borba: interesses económicos tiveram mais peso que segurança de pessoas

O encerramento da antiga EN255 foi discutido há quatro anos entre empresários, presidente da Câmara de Borba e Direcção Regional de Economia. Mas houve quem se opusesse.

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Nuno Ferreira Santos

Há cerca de quatro anos, a Direcção Regional da Economia (DRE) reuniu, a seu pedido, com uma dezena de empresários de Borba e o presidente da câmara, António Anselmo, no edifício dos paços do concelho, para debater a segurança da antiga estrada nacional 255, situação que suscitava apreensões.

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Há cerca de quatro anos, a Direcção Regional da Economia (DRE) reuniu, a seu pedido, com uma dezena de empresários de Borba e o presidente da câmara, António Anselmo, no edifício dos paços do concelho, para debater a segurança da antiga estrada nacional 255, situação que suscitava apreensões.

Num debate realizado esta terça-feira no estúdio da Rádio Campanário, de Vila Viçosa, depois da tragédia que matou pelo menos duas pessoas (o número de mortos pode chegar aos cinco), Luís Sotto-Mayor, administrador da Marmetal, um dos empresários que participou naquela reunião, adiantou pormenores sobre o teor da discussão que então teve lugar e que terá resultado uma situação de “impasse”.

A DRE pretendia identificar o problema e apresentar soluções alternativas para a estrada que passara de nacional e municipal há cerca de uma dezena de anos e que a população já definia como um caminho perigoso.

Luís Sotto-Mayor recorda que os perigos estavam sinalizados, frisando que a DRE “propunha o seu encerramento”, posição que estaria suportada em vários estudos que já haviam sido realizados sobre a EN255. “Eles [DRE] tinham conhecimento do perigo que a estrada apresentava”, frisou.

O empresário lembra que a discussão não foi pacífica, com alguns dos participantes na reunião a lançar a suspeita sobre os que defendiam o encerramento da estrada. “Havia muita oposição à solução da parte de alguns empresários”, salientou Jorge Plácido, que explora a pedreira onde ocorreu a derrocada da arriba. Suspeitavam que os empresários que propunham o seu encerramento defendiam “interesses económicos” como a extracção do mármore que estava por debaixo da estrada.

Tanto Luís Sotto-Mayor como Jorge Plácido, dois dos visados na acusação, garantem: “nunca esteve na nossa mente tirar qualquer partido em explorar a estrada”. A solução, acrescentaram, teria de ser encarada “com urgência” por temerem um desfecho trágico.

Mas a “maioria” dos empresários que participaram na reunião mostrou "oposição ao encerramento da estrada”. Alegavam que, em termos de custos de transportes dos seus produtos, os encargos seriam muito maiores, com a construção de uma estrada alternativa, prossegue Jorge Plácido, que então defendeu ser necessário encerrar a antiga EN255 numa extensão de dois quilómetros, explicando que, desde 2001, observava a “susceptibilidade do talude” que era atravessado pela estrada que aluiu. O empresário diz que já não explorava a pedreira onde ocorreu o acidente há ano e meio, e que a zona onde caiu a barreira não extraía pedra há três anos.

Artur Batanete, que também administra a exploração de uma pedreira nas proximidades da zona acidentada, diz ter interiorizado uma certeza: “Se o caminho não fosse encerrado a estrada ia colapsar a qualquer momento”. Era um assunto para ser tratado com a rapidez que se impunha, observa o empresário recordando que o presidente da câmara “assumiu que a estrada era para encerrar" porque não havia segurança.

Mas a reunião terminou num impasse e os defensores do encerramento confiaram que uma decisão para o problema seria tomada. Como ninguém dizia nada, “estranhámos”, lembra Artur Batanete, até que “a tragédia chegou ao fim de quatro anos”.

“Os opositores não consideraram os riscos e agora, estão calados”, critica Jorge Plácido, que diz esperar que nenhum deles lhe telefone. A população vai comentando que a ganância do dinheiro é que foi mais forte.