Um buraco na Cultura

A recuperação do Convento da Saudação é uma prioridade urgente para a cultura do nosso país.

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Na madrugada de domingo, 14 de outubro, ruiu a abóbada de uma das salas mais emblemáticas do Convento da Saudação em Montemor-o-Novo. Por si só tal não espantaria, derivado ao estado catastrófico em que se encontra grande parte do património edificado no nosso país. Mas o que torna absurda esta situação é que o Convento da Saudação alberga um dos mais vibrantes projetos culturais em Portugal, com um prestígio internacional e um reconhecimento generalizado dos seus pares, dos diversos júris a que se submete, da crítica e da sociedade civil em geral.

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Na madrugada de domingo, 14 de outubro, ruiu a abóbada de uma das salas mais emblemáticas do Convento da Saudação em Montemor-o-Novo. Por si só tal não espantaria, derivado ao estado catastrófico em que se encontra grande parte do património edificado no nosso país. Mas o que torna absurda esta situação é que o Convento da Saudação alberga um dos mais vibrantes projetos culturais em Portugal, com um prestígio internacional e um reconhecimento generalizado dos seus pares, dos diversos júris a que se submete, da crítica e da sociedade civil em geral.

De facto, o Espaço do Tempo – centro multidisciplinar de residências artísticas dirigido pelo coreógrafo Rui Horta – é um lugar de criação de excelência, onde se revelaram e apoiaram muitos dos nossos criadores de referência, lugar de importância crucial para afirmação das nossas artes performativas ao longo das últimas décadas, extravasando largamente o seu âmbito regional. A título de exemplo promove, desde há anos, o mais importante evento de internacionalização dos nossos criadores contemporâneos, a Plataforma Portuguesa de Artes Performativas, frequentado por dezenas de programadores e diretores de todo o mundo, estando igualmente presente nas mais importantes redes internacionais onde se bate constantemente pelos nossos criadores. 

E o que motiva esta tomada pública de posição é que, ao longo de 18 anos cumprindo o seu papel ímpar na nossa cultura, e chamando incansavelmente a atenção para a degradação desse património, o Estado nunca tenha cumprido a sua obrigação, envolvendo-se decididamente na sua recuperação, não só premiando esta estrutura, mas igualmente sinalizando a importância de estar no interior do país. É absurdo que num momento em que os sucessivos governos falam em valorizar o interior, esta tragédia anunciada possa acontecer num projeto âncora para o Alentejo e para o país.

Esta é, pois, uma chamada de atenção para as prioridades das nossas políticas culturais bem como para a necessidade de se olhar a cultura no seu todo, reconhecendo os lugares silenciosos mas vibrantes, geradores de conteúdos, e não apenas os locais onde a arte se apresenta, reconhecendo a importância de uma política de descentralização cultural que tenha em conta todo o nosso território e não apenas os grandes centros. 

Se criadores como Tiago Rodrigues, André e. Teodósio, Pedro Penim, Jorge Andrade, Tónan Quito, Tânia Carvalho, Marlene Freitas, Vítor Roriz, Sofia Dias, Clara Andermatt, entre tantos e tantos outros (o Espaço do Tempo acolhe cerca de 400 artistas anualmente), têm percursos intimamente ligados ao Convento da Saudação, por que razão o nosso Estado não é capaz de reconhecer a excelência deste património colocando a sua recuperação no centro das suas prioridades e criando as condições para que a nossa criação se afirme dignamente?

Mesmo estando vazio, nada justificaria que se deixasse cair um dos maiores e mais relevantes monumentos nacionais no sul do nosso país. Mais gritante é ainda este abandono, tendo em conta esta exemplar ocupação até porque, ao longo dos anos, o Espaço do Tempo, apoiando-se nos parcos recursos da Câmara Municipal de Montemor e nos seus próprios recursos, tudo tem feito para não deixar degradar ainda mais este monumento, tornando-se virtualmente seu guardião e protetor.

Hoje, por elementares questões de segurança, o Espaço do Tempo está na eminência de abandonar o Convento da Saudação e poder encerrar as suas atividades. 

Este buraco na Cultura é uma vergonha nacional!

A recuperação do Convento da Saudação é uma prioridade urgente para a Cultura do nosso país! 

Alfredo Sendim, agricultor

Álvaro Domingues, geógrafo, professor na Fac. Arquitectura da Un. do Porto

Ana Figueira, directora da Companhia Instável

Anabela Mota Ribeiro, jornalista

Ana Sousa Dias, jornalista

André e. Teodósio, membro do Teatro Praga

António Barreto, sociólogo

António da Câmara Manuel, director dos festivais Temps d’images e FUSO

António Jacinto, professor universitário e investigador 

António Jorge Gonçalves, artista visual

António Jorge Pacheco, gestor cultural

Antonio Pedro Vasconcelos, realizador

António Torres, performer 

Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra

Carlos Pinto de Sá, presidente da Câmara de Évora

Carlos Vaz Marques, jornalista.

Camané, cantor

Claudia Galhós, jornalista e escritora

Clara Andermatt, coreógrafa

David Lopes, director-geral da Fundação Francisco Manuel dos Santos 

Delfim Sardo, curador e professor universitário

Dieter Jaenicke, director do Internationale Tanzmesse nrw

Elisabete Paiva, directora artística do Festival Materiais Diversos

Francisco Louçã, professor universitário

Fernando Oliveira, director do Teatro Académico de Gil Vicente 

Francisco Frazão, director artístico do Teatro do Bairro Alto

Gonçalo Amorim, director artístico do TEP e do FITEI

Henrique Cayatte, designer

Hélia Correia, escritora

Henrique Amoedo, encenador, coreógrafo

Hortênsia Menino, presidente da Câmara de Montemor-o-Novo

Inês Barahona, dramaturga

Isabel Abreu, actriz  

Jaime Rocha, jornalista

Jan Martens, coreógrafo

João Guimarães, gestor cultural

João Appleton, engenheiro civil, especialista em reabilitação 

João Luís Carrilho da Graça, arquitecto

João Paulo Santos, artista de circo

João Garcia Miguel, artista visual e performativo

João Guimarães, gestor cultural

João Manzarra, apresentador e actor

João Matos, arquitecto, professor da Universidade de Évora

João Pedro Vaz, actor, encenador e director artístico d’A Oficina

Joana Gama, pianista

John Ashford, director do Aerowaves

John Romão, encenador e programador cultural

Jorge Andrade, encenador, director artístico da mala voadora

Jorge Soares, médico, professor

José Vítor Malheiros, consultor

José Capela, cenógrafo, director artístico da mala voadora

Jefta Van Dinter, coreógrafo

Julião Sarmento, artista plástico

Júlia Schmidt, professora universitária

Júlia Seixas, professora universitária

Lídia Jorge, escritora

Lígia Soares, coreógrafa e dramaturga

Luís Guerra, bailarino 

Luís Tinoco, compositor

Luis Vieira, programador e director artístico do FIMFA Lx e da companhia A Tarumba

Maria de Sousa, professora emérita, Universidade do Porto

Maria do Céu Ramos, secretária geral da Fundação Eugénio de Almeida

Maria João Guardão, jornalista e realizadora

Maria Mota, cientista, directora do Instituto de Medicina Molecular

Mariana Brandão, direcção artística Temps d'Images

Mickael de Oliveira, investigador, autor e encenador

Miguel Fragata, encenador

Miguel Lobo Antunes, gestor cultural

Miguel Seabra, actor, encenador

Mónica Bettencourt Dias, directora do Instituto Gulbenkian de Ciência

Nan van Houte, director-geral do IETM

Nuno Faria, curador director do CIASJG 

Nuno Rebelo, músico

Olga Roriz, coreógrafa e directora da companhia Olga Roriz

Patrícia Vasconcelos, directora de casting

Paula Garcia, directora-geral e de programação Teatro Viriato

Paulo Ribeiro, coreógrafo

Pedro Norton, gestor

Pedro Carneiro, músico

Pedro Gil, actor

Pedro ‘Peixe’ Cardoso, músico

Pedro Penim, actor encenador

Pedro Sena Nunes, cineasta, docente e programador cultural 

Pia Kraemer, presidente da European Dance House Network

Raimundo Cosme, encenador

Raquel André, artista

Raquel Castro, actriz, encenadora

Ricardo Paes Mamede, economista e professor universitário

Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva

Romeu Runa, bailarino 

Rui Cardoso Martins, escritor

Rui Lima, músico

Rui Tavares, historiador

Rui Tentúgal, jornalista

Rui Torrinha, director artístico Centro Cultural Vila Flor

Rui Vieira Nery, musicólogo e professor universitário

Rute Ribeiro, programadora, marionetista e co-directora da companhia A Tarumba

Sofia Dias, bailarina, coreógrafa

Sérgio Martins, músico 

Tânia Carvalho, coreógrafa

Teresa Silva, coreógrafa e bailarina

Teresa Simas, bailarina

Tónan Quito, actor, encenador

Tiago Rodrigues, director artístico Teatro Nacional D. Maria II

Viriato Soromenho Marques, catedrático de Filosofia na Universidade de Lisboa

Vitor Afonso, programador Teatro Municipal da Guarda

Vítor Belanciano, jornalista 

Victor Hugo Pontes, encenador/coreógrafo

Vítor Roriz, bailarino, coreógrafo

Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico

N.R.: Lista de subscritores actualizada a 21.11.18