Inspecção aponta falhas nos cuidados a idosos nos hospitais e depois da alta
Inspecção-Geral das Actividades em Saúde realizou auditorias a dez hospitais. Detectou “fragilidades e ineficiências” em relação ao atendimento e falhas na comunicação de casos de violência sobre idosos.
Nem sempre, após receberem alta dos hospitais, os idosos mais vulneráveis têm garantida a continuidade de cuidados quando vão para casa. Esta é uma das fragilidades detectadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) num conjunto de auditorias que realizou a dez hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre 2017 e 2018. O objectivo da IGAS era avaliar as estratégias desenvolvidas para a melhoria de acesso das pessoas com mais idade aos cuidados de saúde.
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Nem sempre, após receberem alta dos hospitais, os idosos mais vulneráveis têm garantida a continuidade de cuidados quando vão para casa. Esta é uma das fragilidades detectadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) num conjunto de auditorias que realizou a dez hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), entre 2017 e 2018. O objectivo da IGAS era avaliar as estratégias desenvolvidas para a melhoria de acesso das pessoas com mais idade aos cuidados de saúde.
A avaliação de políticas de diferenciação positiva para as pessoas idosas no SNS começou no ano passado, com auditorias a cinco unidades: os centros hospitalares Universitário de Coimbra, Porto, Algarve e hospitais de Évora e Garcia de Orta (Almada). O objectivo, começou por explicar a IGAS num primeiro parecer publicado no início deste ano, é “avaliar o desempenho da entidade na óptica do acesso, da equidade e da segurança das pessoas idosas vulneráveis, incluindo aquelas que se encontram em situação de risco ou perigo de maus tratos ou violência”. Nessa altura, ficou logo definido que mais cinco unidades iam passar pelo mesmo tipo de avaliação.
Este ano foram auditados os centros hospitalares Barreiro-Montijo, Médio Tejo, Tondela-Viseu e os hospitais de Santarém e Santa Maria Maior (Barcelos). O parecer emitido em Outubro aponta várias “fragilidades e ineficiências” em relação ao atendimento e acompanhamento dos idosos.
“Nas altas para o domicílio de idosos frágeis ou vulneráveis nem sempre está garantida a continuidade do apoio ao doente/família e/ou a elaboração e execução de planos de intervenção personalizados, baseados na promoção da saúde e das capacidades funcionais”, começa por dizer a IGAS. “Na área clínica e na social verificam-se constrangimentos com impacto no protelamento das altas, tais como a falta de respostas sociais adequadas ou atempadas” ou carências ao nível do apoio domiciliário e dos cuidados paliativos.
Repetem-se assim as conclusões do parecer emitido na sequência das auditorias realizadas em 2017, que referiam já que tinham sido “identificadas falhas no planeamento precoce das altas hospitalares, relacionadas com a falta de sinalização atempada”, com particular impacto nos idosos que vivem sozinhos ou que cuidam de outros idosos.
Segundo dados do Barómetro de Internamentos Sociais, da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, a 19 de Fevereiro deste ano estavam internadas nos hospitais do SNS por motivos sociais 960 pessoas (ou seja, clinicamente já não havia justificação para estarem internadas). Aguardavam resposta da rede de cuidados continuados ou as famílias não tinham condições para as receber em casa.
No âmbito da prevenção de violência e sinalização de idosos em risco, diz a IGAS, que apesar de existirem nos hospitais Equipas de Prevenção da Violência de Adultos (EPVA), verificam-se, nalguns casos, “falhas de ligação, comunicação, articulação” entre os serviços onde são detectados casos de violência doméstica e as EPVA. O parecer refere que não é dado tempo, dentro do horário semanal, aos profissionais para o desenvolvimento de actividades destas equipas.
Na intervenção do ano passado, a IGAS concluíra que a maioria dos hospitais auditados não conseguiu dizer “com exactidão” o número de casos sinalizados e acompanhados entre 2015 e 2016 de idosos vítimas de violência doméstica ou de outro tipo de maus tratos.
Falhas nos equipamentos
Entre outras ineficiências detectadas estão a necessidade de adequação de espaços físicos que limitam o acesso a pessoas com mobilidade reduzida — “barreiras físicas e falhas nos equipamentos” — e o facto de nem todas as unidades fazerem o acompanhamento dos casos mais antigos inscritos nas listas de espera para primeira consulta e cirurgia, “ficando evidenciada a falta de fiabilidade de alguns registos relativos a utentes indevidamente contabilizados em lista de inscritos para cirurgia”.
A IGAS deixa uma lista de recomendações para melhoria do seguimento dos utentes idosos. Por exemplo: reforçar a articulação entre hospitais e centros de saúde, para que, após a alta hospitalar, seja garantido aos idosos apoio domiciliário ou cuidados paliativos. E apostar em formação na área da geriatria e de gestão de conflitos, sensibilizando os profissionais de saúde para as questões de negligência e maus tratos de idosos.
Assegurar a composição integral das EPVA e garantir que quem integra estas equipas tem tempo para acompanhar os doentes são outras sugestões. Quanto às listas de inscritos para cirurgias, a IGAS diz que as unidades devem garantir a sua actualização e auditar os tempos de espera.