Professores e IVA das touradas geram desacordo na "geringonça"
Bancadas apresentaram muito perto de mil propostas de alteração ao Orçamento de Estado para 2019.
Entre centenas de propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2019 entregues há pelo menos duas que deixam adivinhar um desentendimento à esquerda: a contagem do tempo de carreira congelado à função pública (incluindo professores) e o IVA aplicado às touradas.
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Entre centenas de propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2019 entregues há pelo menos duas que deixam adivinhar um desentendimento à esquerda: a contagem do tempo de carreira congelado à função pública (incluindo professores) e o IVA aplicado às touradas.
No caso da função pública, o PCP admite como prazo máximo sete anos para que os funcionários sejam totalmente ressarcidos, nos respectivos salários, com a contagem integral do tempo de serviço das carreiras. Mas o pagamento tem de iniciar-se já em Janeiro de 2019. O BE prevê que essa recuperação se faça em cinco anos, a contar já a partir de 2019, a um ritmo a definir pelas negociações. Contudo, se as negociações falharem, essa recuperação terá de ser paga a 20% ao ano, a partir de 2019. Os trabalhadores que estejam perto da reforma podem optar pela conversão do tempo de serviço não contabilizado em antecipação da idade da reforma em termos a definir por negociação.
Estas propostas entram em choque com a posição do Governo que estabeleceu a contagem de dois anos, nove meses e 18 dias em decreto-lei, mas este ainda nem sequer foi publicado em Diário da República. À direita, PSD e o CDS têm propostas idênticas sobre as carreiras da função pública e que remetem para as negociações entre Governo e sindicatos. Os dois partidos têm pedido ao Governo a divulgação de dados relativos ao impacto financeiro da contagem do tempo de serviço, mas só o CDS inscreveu essa exigência nas propostas de alteração.
Com a polémica acesa entre a bancada parlamentar do PS e o próprio primeiro-ministro, o IVA a aplicar as touradas também divide a "geringonça". O PCP coloca-se ao lado do CDS e PSD ao defender o IVA reduzido a 6% para todos os espectáculos, independentemente do local onde se realizem, incluindo as touradas. O próprio PS apresentou uma proposta contra o Governo ao avançar com a redução para 6% do IVA, quando a ministra da Cultura Graça Fonseca tinha defendido a taxa em 13% para a tourada por considerar que “as civilizações evoluíram”. Já o BE discorda frontalmente e avança mesmo com a subida para a taxa máxima de 23% do IVA para os espectáculos tauromáquicos, com o argumento de que não são “forma de arte” e por isso o Estado pode dispensar-se do seu financiamento. E o PAN veio entretanto admitir repensar o seu sentido de voto favorável ao OE, se o IVA das touradas descer.
Especulação imobiliária
O PSD propõe que, em sede de IRS, seja diferenciada a tributação das mais-valias imobiliárias em função do tempo de duração da titularidade do imóvel. Se os particulares venderem o imóvel em menos de um ano, a tributação incidirá sobre a totalidade das mais-valias e se venderem entre um e dois anos sobre 75% das mesmas. Se a venda ocorrer entre dois e 15 anos, incidirá apenas sobre 50%. Esta percentagem desce para 25% se o negócio ocorrer entre 15 e 30 anos. A partir dos 30 anos, haverá isenção sobre as mais-valias obtidas. Mantêm-se as isenções em caso de reinvestimento noutra habitação permanente e abre-se a excepção para as heranças.
A proposta do BE pretende criar um novo regime de tributação das mais-valias imobiliárias que tem em conta não só o valor da compra e venda do imóvel, mas também o montante aplicado em obras de reabilitação e o tempo durante o qual se conserva a propriedade do imóvel. Os bloquistas criam um adicional para empresas e fundos imobiliários (estes últimos até aqui isentos).
O PS limita-se a querer um regime especial para os maiores de 65 anos, que podem vender a sua casa e reinvestir esse dinheiro noutros produtos que não habitação, mas com algumas condições de prazos.
Habitação
O PSD propõe o aumento do valor que fica isento de IMT (Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis), passando de 90 para 130 mil euros. No IMI, o PSD propõe a descida para 0,25% do limite mínimo a cobrar pelas autarquias. O PS não faz qualquer proposta nesta área, porque tenciona tratar disso no grupo de trabalho sobre a habitação logo a seguir à aprovação final do Orçamento – ou seja, durante o mês de Dezembro.
IRS
Por proposta do PS, os filhos de pais separados com guarda partilhada passarão a ter acessos para o registo de despesas no IRS específicos para cada progenitor. Para incentivar a poupança, o PS propõe que o regime fiscal para o resgate de planos de poupança reforma seja uniformizado, quer os planos sejam recebidos de uma só vez ou faseadamente.
Outras taxas de IVA
O PAN – Pessoas-Animais-Natureza propõe o alargamento da isenção do IVA de dez mil para 15 mil euros para os trabalhadores sem contabilidade organizada para efeitos do IRS (recibos verdes) ou IRC (empresas em nome individual).
O PS propõe que os donativos em dinheiro ou género aos comités olímpico e paralímpico ou a entidades desportivas com estatuto de utilidade pública fiquem isentos de IVA em 10% do seu valor (agora é de 5%).
ISP
O CDS insiste na revogação do adicional do Imposto sobre Combustíveis (ISP), o que permitiria regressar a valores de 2016. A mesma causa é agora adoptada pelo PSD em sede de OE. Depois de o Governo ter prometido a redução do adicional sobre a gasolina, o PCP admitiu estar a negociar com o Governo em torno destas matérias, mas prefere esperar pela publicação da portaria.
Energia
O PCP e o BE propuseram a redução do IVA para 6% na electricidade da potência contratada até 6,9kw. É uma questão que nenhuma das duas bancadas dá como fechada e que ainda pode ter desenvolvimentos até ao final do processo orçamental.
Educação
O OE prevê que a propina máxima no ensino superior passe a ter o valor de dois Indexantes dos Apoios Sociais (IAS), fixando-se nos 856 euros, uma queda de mais de 200 euros relativamente ao valor actual. A medida foi negociada pelo BE, mas à direita não é pacífica. O PSD e o CDS estão contra, mas divergem na solução: os sociais-democratas preferem aplicar o montante relativo à redução de propinas na construção de residências universitárias, enquanto os centristas querem canalizar a mesma verba para as bolsas, permitindo o aumento do número de alunos carenciados com apoio.
Os socialistas estão dispostos a corrigir o valor para a elegibilidade dos alunos do ensino superior para continuarem a ter direito a bolsas apesar da redução das propinas, propõem o aumento das bolsas para as regiões do interior e de baixa densidade (de 1500 para 1700).
O PEV conseguiu compromisso da criação de mais de 100 salas na educação pré-escolar.
Taxa municipal de protecção civil
A criação de uma taxa municipal para a protecção civil está condenada. Depois de PSD, CDS e BE terem anunciado que votaram contra, o PCP veio juntar-se, o que implica o chumbo da medida que serviria para financiar a protecção civil. Como contraproposta, os comunistas vão apresentar uma medida para que as receitas provenientes dos prémios de seguro possam assegurar o financiamento das câmaras municipais para que cumpram as competências que lhes estão atribuídas na protecção civil.
Municípios
O PS quer que os municípios possam contrair empréstimos para aquisição da participação que privados tenham em empresas semipúblicas municipais desde que seja para passarem a deter uma participação qualificada.