Pai, o lugar na Tailândia onde ficas, e ficas, e ficas só mais um pouco
A leitora Patrícia Caeiros partilha a sua experiência na Tailândia.
Pai, um lugar que eu, sinceramente, nem estava à espera.
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Pai, um lugar que eu, sinceramente, nem estava à espera.
Quando saí de Portugal de mochila às costas para a Ásia pela segunda vez, parti com ainda menos planos do que da primeira. Sem expectativas. Num daqueles impulsos que nos fazem fazer as coisas, comprei um bilhete para uma só pessoa para aterrar na Tailândia, e abalei. Marquei uma noite num hostel em Banguecoque, só porque tinha que ter uma morada para entrar no país e, quanto ao trajecto, pus uns pins no mapa nos lugares onde dois amigos já tinham estado, sem pensar muito ou sequer pesquisar onde iria a seguir à capital. O modo de viajar não haverá de ser muito diferente daquele de há dois anos, pensei. Há apenas uma diferença: vou sozinha.
E hoje estou aqui, em Pai, num refúgio que nem sabia que existia antes de chegar a Chiang Mai. Todos falam de Chiang Mai. Todos dizem o mesmo: tens que ir a Chiang Mai. E eu, que ao fim de dois dias já tinha visto o lugar, que, diga-se de passagem, sim, vale a pena, digo antes: tens que ir a Pai. Ou então deixa-te estar, que isto é giro é com pouca gente.
Somos maioritariamente estrangeiros a percorrerem as pequenas ruas deste lugar. Há os locais, ou os de Burma (Birmânia), como se me apresentam, mas nos passeios pelas estradas daqui são os ocidentais que dominam. É estranho que este lugar esteja a ser qualquer coisa de marcante, quando aquilo de que gosto, que é a autenticidade do país, das suas gentes, da sua cultura, seja ultrapassado em número por quem é da América, da França, do Japão, da Coreia do Sul, do Canadá, ou de tantos outros sítios. E, no entanto, há qualquer coisa aqui.
Talvez sejam as montanhas que guardam este lugar perto da fronteira, ou a música e o jazz que se fazem de improviso, e o piano em dedos de um talento ímpar que por acaso está no mesmo hostel que eu, e que, por isso, tenho a sorte de ouvir todos os dias. Ou talvez sejam os cafezinhos como o Art in Chai, que têm um ambiente relaxante onde as palavras ganham vida. Ou então, e suspeito que talvez sejam essas as grandes responsáveis, são as histórias e as pessoas que aqui estão ao mesmo tempo que eu, e que, como eu, vão ficando, e ficando, e ficando.
Eram para ser dois dias. Já vai em seis. Pergunta-me o que fiz, e respondo-te que fiquei a aproveitar aquilo que temos de mais precioso: o tempo. Aqui à volta, podes ir numa tour ver uma série de lugares bonitos, ou alugar uma mota e ir por aí, ou então fazes como eu, que não gosto de ir atafulhada no meio de muita gente, e que não sei conduzir esses veículos de duas rodas, e perguntas por aí por um local motorbike driver, que ele leva-te onde os daqui sabem ir: Kho-Kuu-So Bridge, Pambok Waterfall, Canyon, e terminas num barzinho no meio do nada sem ninguém, o Sundown Playground, e bebes uma imperial, ou um sumo, enquanto conversas em inglês e a tua vista se delicia com os campos de verde que se abrem cheios de arroz à tua frente em tons de final de dia.
Patrícia Caeiros