Oito tendências que vão mexer com as nossas viagens
Vamos comprar mercearia em aviões e levar o trabalho para hotéis. Compraremos mais online, mas não teremos medo de desligar. Os sinais de mudança estão aí.
A ideia de que as companhias de aviação vendem transporte, os hotéis fornecem alojamento e que as câmaras municipais se promovem para atrair mais turistas é menos verdade em 2018 do que era há dez anos. E será ainda menos verdade em 2019 e diante, se se acreditar nas oito megatendências globais do turismo que vêm escalpelizadas no relatório da Euromonitors International, divulgado na semana passada.
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A ideia de que as companhias de aviação vendem transporte, os hotéis fornecem alojamento e que as câmaras municipais se promovem para atrair mais turistas é menos verdade em 2018 do que era há dez anos. E será ainda menos verdade em 2019 e diante, se se acreditar nas oito megatendências globais do turismo que vêm escalpelizadas no relatório da Euromonitors International, divulgado na semana passada.
Exemplo 1: a Lufthansa fez uma parceria em 2017 com um retalhista alemão para criar um “supermercado voador”. A ideia era permitir aos passageiros comprar mercearia através de uma aplicação online durante o voo de regresso, sendo as compras entregues no domicílio no momento em que os passageiros chegam a casa. A experiência durou três meses, mas mostrou como as parcerias e a digitalização andam de mãos dadas na tentativa de alargar os pontos de contacto com o cliente.
Exemplo 2: os hotéis Accor lançaram a AccorLocal, uma app (iOS e Android) para as comunidades locais e não para quem procura alojamento. O objectivo é fornecer pequenos-almoços, aulas de ginásio ou ioga, espaços de trabalho ou serviço de entrega e recolha de encomendas à vizinhança e não vender-lhes quartos para dormir.
Exemplo 3: duas cidades portuguesas, Lisboa e Ponta Delgada, fazem parte de um lote de 11 cidades que estão a testar medidas para tornar o turismo mais sustentável. Uma das iniciativas é o lançamento de uma app, a Waste App (iOS e Android), que encoraja boas práticas entre turistas, premiando-os com pontos que são convertíveis em produtos, serviços e descontos. É uma estratégia de “gamification”, em que a experiência do viajante se aproxima das regras de um jogo e se alinha com a estratégia de desenvolvimento sustentável dos municípios.
Cada um destes exemplos é ilustrativo das megatendências que estão a transformar o turismo, uma indústria que não pára de crescer nem de mudar: a procura e a oferta estão cada vez mais conectadas; os consumidores aspiram a ter mais experiências, sem fricções nem atritos, enquanto viajam; preocupam-se com o ambiente, a vida saudável e uma vivência mais “ética”; as empresas apostam em parcerias para aumentar o contacto com o cliente e vender serviços cruzados; a digitalização é usada para responder às mudanças demográficas, das fronteiras dos mercados e para reinventar a compra.
Lidas assim, estas oito megatendências parecem uma colectânea de chavões. Mas quando se junta as histórias e as peças do globo, vemos que somos nós que não estamos a perceber os sinais.
A Airbus anda a vender viagens de helicópteros “à la Uber” no México; em São Paulo, fez parceria com a Audi na última Primavera, para um serviço de transporte terrestre e aéreo completo.
Na Ásia há uma miríade de soluções de pagamento electrónico a substituir as notas. O mesmo se passa em África, regiões onde a carteira está a cair em desuso mais rapidamente do que na Europa. A mudança demográfica, com o declínio da classe média nos países ricos e a ascensão da mesma nos países emergentes, será um dos desafios que a indústria do turismo tem de acompanhar. Até porque se a maioria das compras no turismo ainda são offline, as compras online vão aproximar-se dos 50% em quota de mercado ainda em 2018.
A protecção do ambiente é outra tendência forte. E a eliminação do plástico uma prioridade. A Ryanair prometeu eliminar o plástico não reciclável da frota aérea nos próximos cinco anos. As cadeias Hilton, Hyatt e Marriott anunciaram a morte das palhinhas de plástico. A empresa Loliware inventou um substituto, palhinhas comestíveis ou biodegradáveis, feitas a partir de algas.
A ideia de reformular a ética do viajante estende-se do ambiente à saúde pessoal – na Ásia, o conceito FOMO (Fear of Missing Out) está a ser substituído pela proposta JOMO (Joy of Missing Out). Em vez de vender com base na premissa de que estamos sempre ligados, haverá mais empresas a tentar vender com a premissa de que precisamos de desligar da Net. Por exemplo, as agências que propõem viagens às escuras – uma tendência visível nos últimos dois anos na Web Summit, em Lisboa, com diversas startups a apostarem neste negócio: vender viagens a clientes sem desvendar o destino. Ou como diz uma das mais badaladas empresas deste segmento, a Black Tomato: “Por vezes, é preciso perdermo-nos para nos reencontrarmos.”