Sindicato diz que protesto em Setúbal é um "problema global"
Empresa de trabalho portuário admite colocar anúncios na imprensa para recrutar 30 estivadores para os quadros. Para a semana está prevista a escala de 27 navios em Setúbal. Mas ninguém se atreve a dizer quantos vão conseguir acostar.
O Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística (SEAL), que está a apoiar a paralisação dos trabalhadores de Setúbal, vai manter-se “o tempo que for preciso” solidário com os estivadores que estão há mais de dez dias parados à porta do porto, recusando-se a trabalhar.
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O Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística (SEAL), que está a apoiar a paralisação dos trabalhadores de Setúbal, vai manter-se “o tempo que for preciso” solidário com os estivadores que estão há mais de dez dias parados à porta do porto, recusando-se a trabalhar.
Em causa estão trabalhadores eventuais, que têm contratos diários de trabalho e que, por causa da paralisação, vão ter “um mês muito difícil em termos de remuneração”. “Mas nós somos uma classe solidária, arranjamos maneira de os apoiar. Assim como estamos a apoiar os trabalhadores de Leixões, que estão há 22 meses a ser perseguidos, e a receber menos dez mil euros num ano só porque decidiram filiar-se no nosso sindicato”, explica ao PÚBLICO, António Mariano.
O presidente do SEAL recorda que os trabalhadores que estão a paralisar o porto de Setúbal não são, sequer, filiados no SEAL – “até porque não temos por hábito aceitar sócios em situação precária, sem estarem nos quadros das empresas”. Mas conseguiram “pela sua força e união”, diz, chamar a atenção do país para um problema “de apenas uma empresa [referindo-se à Autoeuropa]", quando em causa está uma questão global.
Apesar de todos os apelos para o fim do conflito, vindos de empresas - Confederação da Indústria Portuguesa, Conselho de Carregadores Portugueses e Associação Industrial da Península de Setúbal (AISET) -, de estruturas sindicais - a UGT a condenar a contenda, a CGTP a apelar para que o Governo force uma solução - e até das autoridades portuárias e governamentais, é imprevisível o desfecho deste braço-de-ferro.
António Mariano recusa-se a manter o foco na Operestiva, a empresa de trabalho portuário que ainda esta sexta-feira, em conferência de imprensa, disse continuar a manter o seu plano de contratar 30 estivadores para os quadros. E que admitiu recorrer a anúncios na imprensa para o conseguir, se for preciso.
Foi ao tentar desencadear esse processo de contratação, e depois de assinar contrato com dois estivadores, que a paralisação foi convocada. Os estivadores de Setúbal, apoiados pelo SEAL, não aceitam que haja contratação de trabalhadores numa altura em que está em curso, desde final de Julho, uma greve ao trabalho extraordinário.
“Temos uma greve ao trabalho extraordinário a abranger oito portos nacionais. É uma greve em solidariedade com os estivadores que estão a ser discriminados. Porque não aceitamos que um estivador em Leixões, só porque pertence a este sindicato, ganhe apenas 700 euros, quando um estivador em Lisboa, pelo mesmo trabalho, receba 2200 euros. Estamos a falar de um problema global. Não estamos a falar apenas no porto de Setúbal”, insiste Mariano.
Para a semana de 19 a 23 de Novembro estão previstos para o porto de Setúbal um total de 27 navios de mercadorias: um porta-contentores, três petroleiros, um graneleiro, um navio de carga geral, 10 tanques, oito transportes especiais, dois navios frigoríficos e um de transporte de cimento. Ninguém se atreve a adivinhar quantos poderão escalar no porto ou quantos terão de ser desviados.
É a imprevisibilidade do negócio que, justificou o director da Operestiva em conferência de imprensa, leva a que as empresas tenham de se socorrer de trabalhadores eventuais, lembrando que estes estão dependentes da data e da hora a que chegam os navios e da carga que trazem. "O que podemos fazer é repetir a promessa que fizemos em Setembro do ano passado, se as cargas regressarem ao Porto, podemos contratar mais trabalhadores", afirmou Diogo Marecos.
A Operestiva recorda que ninguém por parte das empresas portuárias se recusou a reunir-se com o SEAL, "desde que tal ocorra em segurança”. “A Operestiva e as demais empresas estão disponíveis, como sempre estiveram, para reunir com o sindicato, desde que a greve seja cancelada”, afirma a empresa.
António Mariano responde que as condições para que a greve seja desconvocada já foram explicadas em Setembro, “inclusive à ministra do Mar”, recorda o presidente do SEAL. Nessa proposta, diz Mariano, o sindicato não exigia a contratação de todos os trabalhadores precários que prestam serviço em Setúbal. Mas fazia exigências sobre quem teria prioridade em fazer turnos suplementares, ou horas extraordinárias. “E que seriam sempre os trabalhadores que não estivessem no quadro das empresas. Para garantirmos, sempre, que há trabalho para todos”, explicou Mariano.
Ou seja, a divergência não é se devem contratar 30 estivadores, como pretende a empresa Operestiva, ou 48 estivadores, como chegou a sugerir o SEAL. “A questão é mais vasta, é global, atinge todos os portos, e estamos a falar sempre das mesmas três empresas: o grupo Yildrim, a ETE e o grupo Sousa. E obriga a que nos garantam que deixam de perseguir os filiados neste sindicato noutros portos”, reafirma Mariano.