A tourada é um espectáculo e o PS também
António Costa admite que há uma "divergência" entre o grupo parlamentar do PS e o Governo sobre a descida do IVA para as touradas
Primeira evidência: o Governo, através da ministra da Cultura, corroborada por António Costa, está decidido a não incluir a tourada entre os espectáculos que serão objecto da redução do IVA de 13 para 6% no Orçamento do Estado. Segunda evidência: a maioria da bancada parlamentar está tão convencida do contrário, a começar pelo seu líder parlamentar Carlos César, que nem demorou mais de dez minutos a concluir que deveria apresentar uma proposta nesse sentido. Terceira evidência: apesar dos dez minutos de debate, a decisão divide o partido entre pró-touradas e antitouradas, entre distritos do Sul e distritos do Norte. Às vezes, o PS é um partido surpreendente. E consegue ser tão inesperado a ponto de agradar a Manuel Alegre e de surpreender o próprio secretário-geral e líder do Governo.
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Primeira evidência: o Governo, através da ministra da Cultura, corroborada por António Costa, está decidido a não incluir a tourada entre os espectáculos que serão objecto da redução do IVA de 13 para 6% no Orçamento do Estado. Segunda evidência: a maioria da bancada parlamentar está tão convencida do contrário, a começar pelo seu líder parlamentar Carlos César, que nem demorou mais de dez minutos a concluir que deveria apresentar uma proposta nesse sentido. Terceira evidência: apesar dos dez minutos de debate, a decisão divide o partido entre pró-touradas e antitouradas, entre distritos do Sul e distritos do Norte. Às vezes, o PS é um partido surpreendente. E consegue ser tão inesperado a ponto de agradar a Manuel Alegre e de surpreender o próprio secretário-geral e líder do Governo.
O PS decidiu afrontar Costa porque alguns dos seus deputados são aficionados e defensores da tradição (afinal, as touradas à corda na Ilha da Terceira têm 400 anos), o impacto no orçamento é praticamente nulo e Centeno não se vai imiscuir nessa discussão sobre consciência e política fiscal e, talvez, apesar de dizerem o contrário, não apreciarem muito a nova ministra da Cultura. Para ficar de consciência tranquila com Costa e Alegre, César garante liberdade de voto aos deputados, como se esta questão colocasse as mesmas dúvidas que a legislação sobre a eutanásia e a morte medicamente assistida.
É verdade que estamos mais habituados a divergências políticas — foi assim que se lhe referiu o primeiro-ministro — entre o Governo e os partidos da oposição do que entre o Governo e a bancada do seu partido. É verdade também que outras divergências já tinham sido visíveis nesta legislatura, nomeadamente entre Carlos César e Vieira da Silva (a propósito do código do trabalho ou das reformas antecipadas). Mas não há outro exemplo tão claro de divergência pública e notória entre o líder do Governo e o líder da bancada, o que explica a dureza do comentário de Costa: “Estou muito surpreendido com esta iniciativa do grupo parlamentar do PS. Se fosse deputado, votaria contra. Espero que a proposta do Governo passe e que haja uma redução da taxa do IVA” para os espectáculos de dança, teatro, etc, “mas que não haja uma redução da taxa do IVA para os espectáculos tauromáquicos”.
No actual quadro parlamentar, tudo é possível: coligações positivas, coligações negativas, divórcios e uniões de facto. A tourada continua a ser um espectáculo e o PS também.