Barbatanas para que vos quero

Os peixes e outros seres marinhos estão a fugir dos seus habitats tradicionais para outros locais com temperaturas mais adequadas, mais prósperas e com condições para a reprodução.

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Jose Cabezas/Reuters

Está oficialmente aberta uma migração marítima global que está a provocar uma crise de refugiados subaquáticos. Sardinha, salmão, sardinela, lula e lagosta são alguns dos seres marinhos que diariamente dão à barbatana para sobreviverem. Impulsionada pelo aquecimento da água dos mares e oceanos, a vida marinha está em movimento numa perturbada luta pela sobrevivência.

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Está oficialmente aberta uma migração marítima global que está a provocar uma crise de refugiados subaquáticos. Sardinha, salmão, sardinela, lula e lagosta são alguns dos seres marinhos que diariamente dão à barbatana para sobreviverem. Impulsionada pelo aquecimento da água dos mares e oceanos, a vida marinha está em movimento numa perturbada luta pela sobrevivência.

Os peixes e outros seres marinhos estão a fugir dos seus habitats tradicionais para outros locais com temperaturas mais adequadas, mais prósperas e com condições para a reprodução, defende o Ocean Schock, um projecto de investigação da Reuters sobre o impacto das alterações climáticas nos oceanos. O total de seres envolvidos nesta diáspora maciça é de certeza muito mais elevado do que as 140 milhões de pessoas que se espera que tenham de migrar até 2050 devido às alterações climáticas.

Até então, a temperatura dos oceanos tem funcionado da seguinte forma: as correntes marinhas movimentam a água morna entre o Norte e o Sul, dos trópicos até latitudes mais frescas, enquanto a água fria é “bombeada” desde os pólos até aos climas mais quentes. Sem estas correntes a moderar a temperatura, a vida na Terra não seria possível. No entanto, o aumento da temperatura dos oceanos das últimas décadas provocou alterações nas correntes. Em parte, estas mudanças são invisíveis para nós que vivemos em solo terrestre, mas o mesmo não sentem os seres marinhos.

A população de sardinhas portuguesas está quase em colapso ao longo da costa atlântica desde a Galiza até ao Sul de Portugal. Os produtores de salmão da Noruega devem ter que se deslocar para as regiões árcticas. Desde 1995 que as comunidades de sardinela da Mauritânia já se deslocaram 320 quilómetros. Para evitar as águas quentes, as lulas do Japão estão a nadar para o Norte. Desde as décadas de 80 e 90 até agora que a captura de lagosta do estado do Maine nos Estados Unidos aumentou de 50 para 85%.

A degradação climática está a ser rápida e imprevisível. Certo é que assistimos, impávidos e serenos, a uma ruptura global das espécies marinhas que ameaça os nossos próprios meios de subsistência, as nossas culturas locais e o equilíbrio dos oceanos. Além de acções políticas e empresariais necessárias, também nós cidadãos devemos actuar. Podemos passar a ingerir mais algas produzidas de forma sustentável e ingerir menos peixe de grande porte, optando pelos peixes mais pequenos e mais abaixo na cadeia alimentar marinha.

É por estas e por outras que o World Wildlife Fund (WWF) alerta, no recente relatório Planeta Vivo 2018, que nós somos a primeira geração com uma visão clara do valor da natureza e do enorme impacto que temos sobre ela, mas que podemos também ser a última que pode agir para inverter esta tendência. Pomos mãos à obra?