Rebelião tory ganha adeptos, “Brexit” de May ganha aliados
Mais de vinte deputados do Partido Conservador anunciaram envio de cartas a pedir moção de desconfiança a May, no dia em que a primeira-ministra preencheu vagas de ministros demissionários e recebeu apoios de Gove e Fox.
Theresa May não vai a lado nenhum e não se cansa de o reafirmar. A primeira-ministra britânica tem estado debaixo de fogo de opositores e colegas de partido por causa do esboço do acordo, alcançado com Bruxelas, para a saída do Reino Unido da União Europeia, mas não tem qualquer intenção de o abandonar, renegociar ou de o deixar nas mãos de outra pessoa. A intransigência da líder não deixa, por isso, outra solução à ala eurocéptica do Partido Conservador senão continuar a angariar esforços para promover uma moção de desconfiança. Mas também há quem se coloque ao lado de May.
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Theresa May não vai a lado nenhum e não se cansa de o reafirmar. A primeira-ministra britânica tem estado debaixo de fogo de opositores e colegas de partido por causa do esboço do acordo, alcançado com Bruxelas, para a saída do Reino Unido da União Europeia, mas não tem qualquer intenção de o abandonar, renegociar ou de o deixar nas mãos de outra pessoa. A intransigência da líder não deixa, por isso, outra solução à ala eurocéptica do Partido Conservador senão continuar a angariar esforços para promover uma moção de desconfiança. Mas também há quem se coloque ao lado de May.
A começar por Stephen Barclay. O secretário de Estado da Saúde foi confirmado esta sexta-feira como novo responsável máximo pela pasta do “Brexit”, ocupando o cargo deixado vago por Dominic Raab, que bateu com a porta a May, na sequência do prolongado e tenso Conselho de Ministros de quarta-feira, do qual resultou a aprovação do rascunho do divórcio entre Londres e Bruxelas.
Ex-director do banco britânico Barclays e deputado por North East Cambridgeshire, Barclay não é o mais famoso membro do Governo, mas cumpre o requisito mínimo para o cargo que também já foi de David Davis: é pró-“Brexit”. Segundo um porta-voz de May, a sua missão será zelar pela “preparação doméstica” da saída da UE e fazer “aprovar a legislação do ‘Brexit’ no Parlamento”.
No executivo de May há também lugar para Amber Rudd. A antiga ministra do Interior regressa ao cabinet para substituir Esther McVey que, tal como Raab, abandonou o barco e o ministério do Trabalho, em protesto contra o acordo da primeira-ministra. E para o lugar do secretário de Estado para a Irlanda do Norte, John Penrose substituiu o demissionário Shailesh Vara.
A primeira-ministra recebeu ainda dois apoios importantes de elementos da ala “brexiteer” do Governo nesta sexta-feira: Michael Gove e Liam Fox. O ministro do Ambiente não aceitou o lugar de Raab, mas decidiu manter-se no Governo, para ajudar Theresa May a vender o seu “Brexit” a todas as forças políticas representadas na Câmara dos Comuns de Westminster – Labour, DUP, SNP, Liberais-Democratas e o próprio Partido Conservador têm deputados que já assumiram que vão votar contra o texto definitivo do tratado de saída, numa sessão plenária prevista para meados de Dezembro.
Na mesma linha, o responsável pelo Comércio diz estar com May porque o seu acordo “é melhor do que um no deal”. “Não somos eleitos para fazer aquilo que queremos, mas para fazer o que nos impõe o interesse nacional”, sublinhou Fox.
Do outro lado da barricada tory, porém, não pára de aumentar o número de deputados que querem ver May e o seu “Brexit” pelas costas e que estão dispostos a desafiar a sua autoridade.
Mais de vinte conservadores com assento parlamentar anunciaram publicamente terem enviado cartas a Graham Brady, líder do 1922 Committee – o grupo dos deputados do partido que não detêm cargos no Governo –, a exigir uma moção de desconfiança à primeira-ministra. E há expectativa de poder atingir brevemente as 48 missivas necessárias para se convocar uma votação nesse sentido – os media britânicos apontam para terça-feira.
Confirmando-se esse cenário, serão necessários 158 votos – em 315 deputados – para derrubar May e lançar nova corrida à liderança do Partido Conservador. Uma eventualidade que deitaria por terra a ratificação do esboço do acordo de saída com os restantes 27 Estados-membros da UE.
Bruxelas mantém calendário
Atenta ao que se passa em Londres, Bruxelas mantém uma postura reservada. E não abre mão da calendarização traçada. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, confirmou na quinta-feira a convocatória dos chefes de Governo para uma cimeira que servirá para “finalizar e formalizar o acordo de saída” e que acontecerá a 25 de Novembro, “a não ser que algo de extraordinário aconteça”.
Fontes do Conselho disseram, no entanto, que mesmo que Theresa May caia, a cimeira não será desmarcada. Se for esse o caso, o encontro servirá para os líderes europeus discutirem os planos de contingência para um cenário de “hard-‘Brexit’”. Isto porque em Bruxelas torce-se o nariz à renegociação do acordo técnico.
“Temos em cima da mesa um projecto de acordo que foi fechado ao nível técnico pelas equipas das negociações e que é condicional ao processo de ratificação”, afirmou uma fonte europeia. “A equipa [de Michel Barnier] acredita ter cumprido o seu mandato e que a margem de manobra negocial para promover mudanças de fundo neste rascunho está esgotada. Se alguém quiser fazer essas alterações, terá de assumir a responsabilidade pelo seu impacto. Aliás, chegámos ao momento em que todos têm de assumir as suas responsabilidades”. Com Rita Siza, em Bruxelas.