Operadores ponderam usar estivadores de Aveiro em Setúbal
Sindicato diz que esta é uma atitude “irresponsável” dos operadores portuários, “em despudorado e notório conluio” com o Governo.
O porto de Setúbal continua paralisado esta quinta-feira de manhã, com cerca de quatro dezenas de trabalhadores a fazerem plantão junto das instalações, mas continuando a recusar-se cumprir as escalas de trabalho. O Ministério do Mar, a administração do porto de Setúbal e Sines e os operadores portuários estão a tentar encontrar uma solução para este bloqueio, que está a prejudicar as exportações portuguesas. A mobilização de trabalhadores eventuais do Porto de Aveiro é uma das hipóteses equacionadas.
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O porto de Setúbal continua paralisado esta quinta-feira de manhã, com cerca de quatro dezenas de trabalhadores a fazerem plantão junto das instalações, mas continuando a recusar-se cumprir as escalas de trabalho. O Ministério do Mar, a administração do porto de Setúbal e Sines e os operadores portuários estão a tentar encontrar uma solução para este bloqueio, que está a prejudicar as exportações portuguesas. A mobilização de trabalhadores eventuais do Porto de Aveiro é uma das hipóteses equacionadas.
Ao PÚBLICO, o presidente do Conselho Português de Carregadores (CPC), Pedro Galvão, disse que o organismo acompanha a situação com preocupação no curto prazo, mas também pelos impactos futuros.
“As empresas estão a transferir a carga para ser embarcada noutros portos que estão a funcionar normalmente, quer em Portugal quer em Espanha. Tal significa custos adicionais e menor competitividade, e isso são más notícias para a indústria exportadora e os seus trabalhadores no curto prazo”, diz Pedro Galvão.
Eleito pelo CPC em representação da Secil, Galvão acrescenta ainda que a experiência das empresas é a de que “uma parte do tráfego desviado não volta” — por “vários motivos”, entre os quais “a negociação de melhores condições e mais confiança noutros portos”. “Não são boas notícias para o porto de Setúbal”, conclui.
Tensão em Setúbal
Enquanto não é conhecida a solução para o desbloqueio, o clima de tensão está instalado em Setúbal. Esta quinta-feira, os estivadores de Setúbal precários estão particularmente expectantes. Tentam perceber qual será a eficácia de uma convocatória feita junto dos estivadores de Aveiro para se deslocarem, sob protecção policial, para Setúbal durante três dias. A reacção no Porto de Setúbal não foi a melhor e no local comenta-se a melhor forma de dar "as boas-vindas" àqueles trabalhadores.
O Sindicato dos Estivadores e Actividades Logísticas (SEAL) divulgou, em comunicado, uma alegada mensagem telefónica enviada por um dirigente da GTA – Empresa de Trabalho Portuário de Aveiro ligada à ETE e à Ylport, a indagar quantos estivadores estariam disponíveis para “fazer parte de uma equipa requisitada para colmatar as falhas no porto de Setúbal durante três dias”, e que nesse trabalho seria assegurado “transporte, dormida, escolta de segurança pública e salário a informar atempadamente”.
De acordo com o que pode ser lido no SMS enviado aos estivadores, a GTA explica que é um plano provisório e de prospecção de encontro de soluções e que estava a ser articulado “com as empresas de estiva associadas, o sindicato dos estivadores de Aveiro e o Ministério do Mar”.
A ideia é requisitar os eventuais do porto de Aveiro que tenham formação para substituir uma "indisponibilidade" de eventuais com formação do porto de Setúbal. A questão da formação dos eventuais é relevante, porque não é qualquer operário que pode trabalhar com os terminais ro-ro (roll-on-roll-off) em causa. E também é verdade que em Setúbal e em Aveiro os terminais ro-ro têm muitas diferenças entre si.
Para o presidente do SEAL, António Mariano, esta é uma atitude “irresponsável” dos operadores portuários, “em despudorado e notório conluio com a tutela do sector”.
Na opinião do sindicalista, os trabalhadores “estão a ser irresponsavelmente usados como carne para canhão” e a ser conduzidos para o Porto de Setúbal “com o intuito de potenciar conflitos entre trabalhadores para, assim, tentarem responsabilizar o SEAL por eventuais consequências de actos irresponsáveis”. com Francisco Alves Rito