O dia em que Rooney voltou só para dizer adeus
Mais de um ano depois do anúncio da retirada da selecção, o melhor marcador de Inglaterra regressou a Wembley para uma última aparição. Foram 120 jogos e 53 golos. Ponto final.
O que teria acontecido se, em 2001, Wayne Rooney tivesse aceitado o convite da federação irlandesa de futebol para integrar as selecções jovens? Esta é uma pergunta que ficará para sempre sem resposta, porque o avançado, cuja avó nascera na Irlanda, desde cedo assumiu com fervor a sua paixão por Inglaterra. Dentro de campo, provou-a vezes sem conta, tornando-se no segundo jogador com mais internacionalizações de sempre e no melhor marcador da história da equipa nacional. A partir de hoje, segui-la-á apenas na qualidade de adepto.
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O que teria acontecido se, em 2001, Wayne Rooney tivesse aceitado o convite da federação irlandesa de futebol para integrar as selecções jovens? Esta é uma pergunta que ficará para sempre sem resposta, porque o avançado, cuja avó nascera na Irlanda, desde cedo assumiu com fervor a sua paixão por Inglaterra. Dentro de campo, provou-a vezes sem conta, tornando-se no segundo jogador com mais internacionalizações de sempre e no melhor marcador da história da equipa nacional. A partir de hoje, segui-la-á apenas na qualidade de adepto.
Wembley abriu nesta quinta-feira as portas a uma despedida há muito adiada. Rooney anunciara a retirada da selecção no dia 23 de Agosto de 2017, num comunicado em que revelava ter rejeitado uma convocatória de Gareth Southgate. Praticamente sem espaço no "seu" Manchester United, o avançado decidiu regressar às origens, justificando a decisão de se afastar da equipa nacional com a necessidade de se concentrar no Everton. Mas ficou no ar a ideia de que era uma separação demasiado abrupta.
Para cima da mesa ainda foi lançada a hipótese de um adeus oficial num encontro diante da Eslováquia, no ano passado. A preparação para o Mundial 2018 e o novo desafio entretanto abraçado por Rooney (a mudança para os EUA, onde actualmente representa o DC United) contribuíram, porém, para inviabilizar esse cenário. O Inglaterra-EUA desta quinta-feira foi, por isso, uma espécie de crónica de uma despedida anunciada, reforçada por essa ligação simbólica entre os dois países que decorre das escolhas de carreira do avançado.
Apesar do tremendo contributo de Wayne Rooney para o passado recente de Inglaterra, a sua "convocatória" para este embate de preparação não foi pacífica. E uma das vozes que se agigantaram na indignação foi a de Peter Shilton, icónico guarda-redes da selecção entre 1970 e 1990 que detém o estatuto de mais internacional de sempre (125 jogos) e que não terá apreciado o facto de o compatriota se aproximar um pouco mais do seu recorde: "As internacionalizações não devem ser dadas como presente", apontou.
Foi o 120.º encontro de Rooney pela selecção. E o último, nunca é de mais sublinhar. O avançado de 33 anos, natural de Croxteth, Liverpool, veio entretanto explicar, a propósito, que só aceitou o convite porque sabia que não teria impacto no legado de outro colega. Quem também sentiu necessidade de comentar por cima do comentário de Shilton foi o próprio seleccionador, Gareth Southgate: "É uma pena que ele tenha de vir defender a sua chamada [à selecção]". Para bom entendedor...
Se há jogador que nunca precisou de favores para chegar onde chegou foi Wayne Rooney. Foi o mais jovem de sempre a representar Inglaterra, quando saltou do banco no dia 12 de Fevereiro de 2003 no embate com a Austrália, então com 17 anos e 111 dias. Foi o mais jovem de sempre a marcar pela selecção A, num jogo com a Macedónia, a 6 de Setembro - tinha 17 anos e 317 dias. E também deixaria a sua marca no Euro 2004, com golos e demonstrações de qualidade e de força que fizeram dele uma das grandes revelações do torneio realizado em Portugal.
Sven-Goran Eriksson, o técnico que o lançou na selecção A, recorda-se bem dos predicados do goleador, que iam muito para além do talento natural: "Lembro-me de que, quando os treinos acabavam, ele não queria sair do campo. Queria ficar a bater livres directos, a fazer remates à baliza". "Ele era forte, um trabalhador, um grande jogador que tinha tudo o que se exige a um futebolista. Tinha maturidade, aos 17 anos. Quando lhe disse, antes da sua estreia, que ia ser titular ele limitou-se a responder 'OK', como se fosse normal. Não era normal, aos 17 anos", prosseguiu o sueco.
A afirmação plena de Rooney no Campeonato da Europa de 2004 só foi travada por uma lesão no encontro com Portugal. O seu momento de forma na altura e a mais-valia que trazia à equipa levaram, então, muitos adeptos a acreditarem que a caminhada da selecção inglesa poderia ter sido outra, não tivesse o avançado fracturado um dedo do pé, nos quartos-de-final. Assim como muitos defenderam, também, que nos anos que se seguiram foi a equipa que não acompanhou o avançado (e não o contrário) rumo a objectivos palpáveis, que permitissem actualizar o título internacional conquistado no longínquo ano de 1966.
É verdade que a energia, o compromisso, a potência muscular, a capacidade de finalização e a submissão a um bem maior de Rooney (sim, porque o avançado desempenhou várias funções na equipa, desde o papel de extremo ao de número 10, ao longo dos anos para acomodar outros jogadores e as diferentes ideias dos seleccionadores) não foram suficientes para conduzir Inglaterra à conquista de troféus. Mas o goleador, o mais prolífico de sempre por Inglaterra, com 53 golos em 120 jogos, foi sempre encarado como solução e nunca como problema.
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"É realmente o maior goleador que alguma vez tivemos. Creio que tomou a decisão acertada para ele e para o Gareth Southgate. Sai ainda no topo e como melhor marcador de sempre. Que forma fantástica de se despedir de uma carreira internacional fabulosa", anotou Phil Neville, companheiro de várias jornadas competitivas, quer no Manchester United, quer ao serviço da selecção. Quem também partilhou o balneário com Wayne foi Michael Owen, outro dos prodígios do futebol britânico: "Sai sempre por cima. Uma carreira internacional de que pode orgulhar-se".
O reconhecimento dos seus pares chegou também nesta quinta-feira ao relvado de Wembley, em forma de uma guarda de honra feita pelos jogadores que alinharam na partida de preparação diante dos EUA. Acompanhado dos filhos, que vestiam camisolas com a inscrição "Daddy 120", Rooney foi ao encontro do representante da federação inglesa (FA) e de Harry Kane, o goleador de serviço no futebol britânico, que lhe ofereceu um emblema dourado de Inglaterra.
A partir daí, iniciou-se a contagem decrescente à espera do momento em que o seleccionador decidisse lançar o número 10 em jogo. Aconteceu aos 57', a troco da saída de Jesse Lingard. Levantaram-se os adeptos nas bancadas e, com eles, cartazes de apoio a um jogador que ainda vai entusiasmando na Major Soccer League. Mesmo sem o contributo directo (leia-se assistência ou finalização) de Rooney - que terá como último golo da carreira internacional o 1-0 marcado à Islândia no Euro 2016 -, Inglaterra fechou em 3-0 o triunfo obtido sobre os norte-americanos. Foi a estreia a marcar para Callum Wilson, na também estreia pela selecção A. E, quem sabe, o render da guarda no ataque britânico.