Morreu o poeta Alexandre Vargas (1952-2018)

Tradutor de Peter Hammill e Patti Smith, a música era também uma das grandes fontes da sua própria poesia. Filho mais novo do escritor José Gomes Ferreira, tinha 65 anos.

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O poeta Alexandre Vargas foi encontrado morto esta quarta-feira, em sua casa, não sendo ainda conhecidas as causas da morte. Filho mais novo do escritor José Gomes Ferreira, estreou-se como poeta com o livro Morta a Sua Fala, publicado em 1977 na prestigiada colecção das Iniciativas Editoriais, que o seu pai inaugurara em 1956 com o volume Eléctrico.

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O poeta Alexandre Vargas foi encontrado morto esta quarta-feira, em sua casa, não sendo ainda conhecidas as causas da morte. Filho mais novo do escritor José Gomes Ferreira, estreou-se como poeta com o livro Morta a Sua Fala, publicado em 1977 na prestigiada colecção das Iniciativas Editoriais, que o seu pai inaugurara em 1956 com o volume Eléctrico.

Tendo publicado regularmente desde o final dos anos 70 até meados da década seguinte, Alexandre Vargas remeteu-se depois a um prolongado silêncio, só quebrado em 1997 com a sua colaboração na obra colectiva Múltiplos de Três, com Rui Caeiro e Miguel Torres-Chaves.

Em 2002, Amadeu Baptista e Luís Adriano Carlos escolheram-no para abrir a sua antologia Poesia Digital: 7 Poetas dos anos 80, onde divulgam vários poemas inéditos de Alexandre Vargas, designadamente do livro inédito Terminal Transe, que o autor teria há muito pronto a publicar, e para o qual Luis Manuel Gaspar chegou a desenhar várias ilustrações em 1987, mas que acabou por nunca sair.

Já no seu livro de estreia, mas sobretudo a partir do volume seguinte, Cyborg (Livros Horizonte, 1979), a poesia de Vargas está cheia de referências à música pop, do psicadelismo de Syd Barrett ao rock progressivo dos King Crimson ou de Peter Hammill. O líder dos Van der Graaf Generator foi mesmo uma das suas principais referências: o poeta português entrevistou-o e traduziu as suas letras para o volume Camaleão na Sombra da Noite, que publicou em 1990 na colecção Rei Lagarto, da Assírio & Alvim. Alguns anos antes, em 1983, Vargas já publicara na mesma editora, com o título Witt, as suas traduções de Patti Smith.

Em 1981, o poeta chega à colecção Círculo de Poesia, da Moraes, com Vento de Pedra, e publica no mesmo ano, em colaboração com Rui Baião e João Candeias, o livro-envelope Ubris. Seguem-se mais dois títulos, ambos de 1984: Organum (Fenda) e Lua Cisterna (& etc).

Segundo o esquema já experimentado em Cyborg de juntar um conjunto de textos, em verso e em prosa, a um extenso poema final que dá título ao livro, Organum é talvez o volume onde as referências à música são mais frequentes e eclécticas. Num dos poemas do livro, Vargas escreve: “Sinto-me, falo pela tua boca Syd Barrett”. E termina o mesmo texto com uma referência expressa à canção See Emily Play, que Barrett compôs para o álbum inaugural dos Pink Floyd: “E Emily que brinca, que brinca até desapareceres…”

Nascido a 31 de Dezembro de 1952, Alexandre Vargas Gomes Ferreira era filho de José Gomes Ferreira e da sua segunda mulher, Rosália Abecassis Vargas, e meio-irmão do arquitecto Raul Hestnes Ferreira, que morreu em Fevereiro deste ano.