Como identificar, coleccionar e eliminar o Plasticus Maritimus, agora em livro

Podemos ajudar a combater a poluição marinha “sem entrar em desespero”? Ana Pêgo, bióloga marinha responsável pelo projecto Plasticus Maritimus, juntou-se à editora infanto-juvenil Planeta Tangerina e criou um guia de campo para (salvar) o mar.

Foto
Ilustração de Bernardo P. Carvalho

Os guias de campo, explica a bióloga marinha Ana Pêgo, orientam os cientistas nas explorações ao ar livre. “Foram feitos para passear e ajudam a identificar as diferentes espécies” que aparecem pelo caminho — e quando o passeio é feito ao longo da praia, um guia actualizado não pode deixar de identificar uma “nova espécie invasora”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os guias de campo, explica a bióloga marinha Ana Pêgo, orientam os cientistas nas explorações ao ar livre. “Foram feitos para passear e ajudam a identificar as diferentes espécies” que aparecem pelo caminho — e quando o passeio é feito ao longo da praia, um guia actualizado não pode deixar de identificar uma “nova espécie invasora”.

Nome científico (inventado): Plasticus Maritimus, o projecto de consciencialização ambiental de Ana que ganhou forma numa página de Facebook em 2015 e que saltou agora para as páginas de um livro. O Plasticus Maritimus, Uma Espécie invasora é um guia de campo ilustrado para quem quiser identificar, recolher, coleccionar e ajudar a eliminar o plástico marinho. Com textos de Ana Pêgo e Isabel Minhós Martins e ilustrações de Bernardo P. Carvalho, o livro foi editado pela Planeta Tangerina, conhecida editora infanto-juvenil.

Foto
A capa do guia de campo Plasticus Maritimus, editado pela Planeta Tangerina Ilustrações de Bernardo P. Carvalho

Nele, os autores começam por fazer um retrato do problema da sopa de plástico, explicam a importância dos oceanos, mostram os objectos mais comuns que dão à costa — e “os mais exóticos” —, falam dos problemas da reciclagem e dos plásticos descartáveis, descrevem como organizar uma passeio na praia seguro e divertido para apanhar e coleccionar lixo, levantam a pontinha do véu da esperança. E contam a história da bióloga marinha que decidiu “arregaçar as mangas” e ter um “papel activo” (“ser activista significa isso mesmo”) na solução de um problema que a “desesperava”.

Em todas as explorações à beira-mar que faz, a bióloga marinha encontra centenas de exemplares da “espécie que não existe, mas existe”. Em vez de tentar, sozinha, “limpar a praia toda e repetir o processo no dia a seguir”, Ana decidiu voltar-se para o beachcombing e juntar a ciência à arte. Só apanha os objectos que gosta de coleccionar, seja para depois mostrar em workshops e salas de aulas, para construir esculturas e imagens ou para descobrir a história que contam. “Gosto de apanhar lixo marinho, lixo que já viajou pelo mar.” O que, no caso do plástico, pode significar viagens de centenas de anos e milhares de quilómetros.

“São estas histórias que, não tendo piada nenhuma, acabam por ter graça”, ri-se, a pensar na aparente contradição. É por isto que muitas vezes chama aos objectos encontrados “tesouros” e é por isso que os guarda em meticulosas colecções, explica, na página 177 do livro. “Lixo é lixo. Mas descobri que alguns pedaços de lixo podem ser interessantes pela sua raridade, pelas histórias que podem contar e até pelo que nos podem dar a conhecer sobre o mar, as correntes, a erosão, os poluentes.” 

Foto
O resultado de algumas recolhas de Ana Pêgo Ana Pêgo

O guia já está disponível para venda online (16,11 euros) e começa esta semana a chegar às livrarias. Vai ser lançado oficialmente no domingo, 18 de Novembro, na Parede, a partir das 15h30 — o encontro integra inclusive um passeio pela praia. O que calha bem, até porque com os dias de chuva e ventos fortes aproximam-se “as melhores alturas para fazer recolhas de lixo na praia” — atenção, deve-se no entanto “fugir aos dias de tempestade”.

“No Outono, costuma haver algumas marés vivas e, por isso, muito lixo que com o fim do Verão já não é retirado todos os dias", explica Ana. Nestas alturas não se encontram apenas os resíduos que voam das esplanadas ou dos “caixotes do lixo a abarrotar”, mas também os que já viajaram num “curso de água” ou “desde os esgotos das casas”. “Quatro quintos do lixo marinho têm origem em actividades que acontecem em terra; um quinto em actividades no mar: pesca, navios de passageiros, aquacultura, plataformas petrolíferas”, relembra a activista, no guia. 80 por cento dele, sublinha, é plástico.

Direccionado para um público mais jovem, o livro quer também motivar os pais a serem "mais activos" e pôr o tema nos currículos escolares. "Dizemos que somos um país do mar, mas tem-se falado muito pouco dele nas escolas", lamenta. É como se escreve no livro"Precisamos de criar uma rede enorme de pessoas de todas as idades, profissões, regiões." "E eu acredito que estamos num bom caminho", remata.