Dez meses de liderança de Rui Rio no PSD: de ataque em ataque
Dirigentes do PSD queixam-se de que “há um conjunto de acções sistemáticas visando a direcção do PSD”.
Há dez meses que Rui Rio foi eleito líder do PSD e há dez meses que subsistem as queixas, por parte da direcção, de que a nova liderança está a ser alvo de boicote. “Não é um caso isolado. É uma sequência de casos. Todas as semanas aparece um caso diferente sobre o qual se faz um alarido enorme”, disse, há dias, o vice-presidente Salvador Malheiro na TSF.
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Há dez meses que Rui Rio foi eleito líder do PSD e há dez meses que subsistem as queixas, por parte da direcção, de que a nova liderança está a ser alvo de boicote. “Não é um caso isolado. É uma sequência de casos. Todas as semanas aparece um caso diferente sobre o qual se faz um alarido enorme”, disse, há dias, o vice-presidente Salvador Malheiro na TSF.
Também David Justino, que em Agosto chamava a atenção, no jornal Sol, para o facto de as críticas a Rui Rio beneficiarem o PS, assumiu na SIC Notícias, na sexta-feira, que “há um conjunto de acções sistemáticas visando a direcção do PSD”.
A última polémica a envolver o PSD teve a ver com o registo de presenças do deputado e actual secretário-geral, José Silvano. Mas em dez meses, a lista é extensa.
Os relvados de Malheiro
Os problemas de Salvador Malheiro começaram antes do congresso, quando ainda era director de campanha de Rui Rio. Em Janeiro, soube-se que o Ministério Público estava a investigar um esquema de financiamento de relvados sintéticos em Ovar, onde Malheiro era presidente da câmara. O suposto esquema envolveria não só o autarca, mas também os clubes desportivos do concelho.
Elina: o caso do congresso
Ainda decorria o congresso do PSD quando estalou a primeira polémica da era de Rui Rio. Elina Fraga, a nova vice-presidente, havia apresentado uma queixa-crime contra o governo de Pedro Passos Coelho por causa do mapa judiciário aprovado pelo Conselho de Ministros de então. Já após o conclave, soube-se da existência de um inquérito judicial em torno da sua gestão à frente da Ordem dos Advogados. Fraga disse desconhecer qualquer investigação e classificou de “persecutória” a auditoria na base do inquérito.
Eleição por uma unha negra
Quatro dias depois do conclave, Fernando Negrão foi a votos para a liderança da bancada do PSD. Entre os 89 deputados, conseguiu 35 votos a favor, 32 brancos e 21 nulos. Foi o pior resultado dos últimos 16 anos, pelo menos, mas Negrão assumiu na vitória. Com o apoio de Rio. No entanto, disse: “Há um problema, não de natureza política, mas de natureza ética, há um problema neste grupo parlamentar, porque houve pessoas que aceitaram integrar a lista e depois terão votado em branco”.
Uma falha curricular
A nova direcção do PSD ainda não estava há um mês em funções quando se deu a primeira demissão: Feliciano Barreiras Duarte deixou o cargo de secretário-geral do partido, depois de se comprovar nunca havia tido o estatuto de “visiting scholar” da Universidade da Califórnia, em Berkeley, como explicitava o seu currículo. “Há um aspecto do currículo de Barreiras Duarte que estava a mais, não estava preciso, e ele corrigiu”, começou por dizer Rui Rio, desvalorizando a notícia.
A revelia da bancada
Em Junho, os deputados do PSD votaram a favor do projecto do CDS-PP sobre combustíveis, uma atitude considerada “gravíssima” e tomada “à revelia” de Rui Rio, disse na altura fonte da direcção do partido à Lusa. Os deputados não aceitaram a crítica e lembraram que a indicação de voto foi enviada por e-mail pela direcção que o líder do partido escolheu.
Acordos com o inimigo
Assim que assinou os primeiros dois acordos com o Governo, abateram-se sobre Rui Rio críticas de que o PSD estava a funcionar como uma muleta do PS. Luís Montenegro deu voz ao descontentamento. “Qual é a finalidade do PSD? Ser mais uma muleta do PS ou alternativa?”, questionou-se na TSF. “Corre o perigo de ser percepcionado como tal.”
Candidatos processados
Numa decisão polémica, o PSD anunciou, no regresso das férias, que iria processar os candidatos autárquicos com gastos injustificados nas campanhas de 2017. O primeiro foi Marco Baptista, que concorreu pelo PSD à Câmara da Covilhã e foi derrotado. “Se alguém se quer propor governar o país tem de saber também governar a sua casa”, justificou Rui Rio.
Bancada silenciada
Teresa Morais escreveu um artigo nas páginas do PÚBLICO intitulado: “Deixem-nos trabalhar”. O texto serviu para explicar melhor o que dissera no dia anterior, na reunião da bancada do partido, durante a qual fez uma dura intervenção em que acusou Rio de silenciar muitos deputados que têm experiência e vontade de trabalhar. Negrão reagiu, negando haver indicações para silenciar deputados.
As presenças de Silvano
José Silvano, secretário-geral do PSD, faltou a duas sessões plenárias na Assembleia da República, como noticiou o jornal Expresso, mas a sua presença foi validada pela deputada Emília Cerqueira (soube-se mais tarde). A própria assumiu que naturalmente tinha acesso à palavra-passe que Silvano usa para entrar no computador do hemiciclo, mas garantiu que só “inadvertidamente” poderia ter validado a sua presença, ludibriando os serviços.