Costa distinguiu forcado por “sensibilidade e valentia próprios” da “arte taurina”

Na deliberação da Câmara Municipal de Lisboa, subscrita pelo então presidente António Costa, justifica-se a atribuição da medalha ao forcado pelo seu papel naquilo que é descrito como a “arte” e “cultura” taurinas. Gabinete do primeiro-ministro rejeita acusações de contradição.

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O gabinete do primeiro-ministro rejeita as acusações de contradição, mas a deliberação, que assinalou a decisão da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de condecorar um forcado, foi subscrita pelo então presidente António Costa e, no documento, aprovado por unanimidade, não faltam elogios a José Luís Gomes pela “sensibilidade e valentia próprios desta arte taurina”.

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O gabinete do primeiro-ministro rejeita as acusações de contradição, mas a deliberação, que assinalou a decisão da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de condecorar um forcado, foi subscrita pelo então presidente António Costa e, no documento, aprovado por unanimidade, não faltam elogios a José Luís Gomes pela “sensibilidade e valentia próprios desta arte taurina”.

O assunto talvez não merecesse polémica se o agora primeiro-ministro, António Costa, não tivesse escrito, a 11 de Novembro, uma carta aberta ao socialista Manuel Alegre, na qual afirma rejeitar “a tourada como manifestação pública de uma cultura de violência ou de desfrute do sofrimento animal”. Mais, escreveu ainda: “Choca-me que o serviço público de televisão transmita touradas. Mas não me ocorre proibir a sua transmissão.”

Nas redes sociais, onde já circula a informação da distinção feita por Costa a um forcado, o agora primeiro-ministro foi acusado de contradição. Na Internet está ainda disponível um vídeo da cerimónia da condecoração, em 2010, que incluiu uma tourada e, nele, vê-se o então autarca a pôr a medalha ao peito de José Luís Gomes e, depois, sentado na assistência a aplaudir.

Na deliberação que consta do Boletim Municipal publicado a 1 de Outubro de 2009, e subscrita por António Costa, pode ler-se que o forcado José Luís Gomes tem um percurso que “já lhe conferiu o direito à diferença”: “Dono de um estatuto de ‘Figura’ no seio dos forcados portugueses, conjuga a arte e vigor, sensibilidade e valentia próprios desta arte taurina.”

Outras justificações ainda para a atribuição da medalha: “Os seus ‘cites’, critérios e modos de recuar, as suas reuniões de invulgar eficácia e a regularidade com que consegue tudo isto, tem-lhe granjeado o afecto do público e as várias distinções dos mais diversos e exigentes júris. Ao longo da sua brilhante carreira, tem actuado em todas as praças de touros em Portugal, Espanha, França, Macau e EUA – Califórnia, onde conseguiu vingar o seu estilo destemido e verdadeiro, levando os valores tradicionais de Lisboa, no que a esta arte se refere.”

A deliberação ainda acrescenta que o nome daquele forcado “está associado de forma inequívoca à cultura taurina, à divulgação da mesma” e da cidade de Lisboa “além-fronteiras”. E que a medalha municipal se destina “a galardoar pessoas singulares ou colectivas, que tenham prestado à cidade de Lisboa serviços de excepcional relevância”.

Tendo ainda em conta que José Luís Gomes ia deixar de ser o cabo dos forcados amadores de Lisboa, a autarquia decidiu atribuir-lhe por unanimidade a medalha municipal de mérito, grau ouro.

O gabinete do primeiro-ministro rejeita as acusações de contradição e insiste que António Costa esteve naquela cerimónia de atribuição de medalha a título institucional, enquanto presidente da CML. E argumenta ainda que o presidente da autarquia tem um lugar próprio no Campo Pequeno para que possa, segundo a tradição, marcar presença na primeira corrida da época, o que nunca aconteceu com António Costa, garante o mesmo gabinete.

Outra justificação avançada é a de que, enquanto presidente da CML, António Costa, por representar todos os lisboetas, também marcou presença em várias cerimónias de diferentes religiões e em jogos internacionais dos diferentes clubes da cidade.

Notícia actualizada com a resposta do gabinete do primeiro-ministro