Agora, a esquerda
Há dois anos, na X Convenção Nacional do BE, o slogan era "Mais força para vencer". Havia eleições autárquicas no horizonte.
A escolha do slogan para a XI Convenção do Bloco de Esquerda tem duas interpretações e elas foram perceptíveis nos discursos que ao longo da tarde deste sábado foram proferidos no palco do Casal Vistoso. A mensagem tem dois sentidos, como os (pelo menos) dois blocos que subsistem dentro do BE. Ou, como disse Luís Fazenda: “O BE tem uma faceta oposicionista e outra que infuencia o poder.”
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A escolha do slogan para a XI Convenção do Bloco de Esquerda tem duas interpretações e elas foram perceptíveis nos discursos que ao longo da tarde deste sábado foram proferidos no palco do Casal Vistoso. A mensagem tem dois sentidos, como os (pelo menos) dois blocos que subsistem dentro do BE. Ou, como disse Luís Fazenda: “O BE tem uma faceta oposicionista e outra que infuencia o poder.”
Agora, a esquerda: interpretação 1
O poder chama os bloquistas. É hora de a esquerda pensar no poder e assumir-se como um partido de poder, com desejos de integrar um futuro governo. Isso está bem claro na moção de Catarina Martins ("Em 2019, o Bloco quer ser força de governo") e nas diferentes declarações que os dirigentes foram fazendo nos últimos dias. Depois dos anos da troika, dos tempos de um executivo dominado pelo PSD, com a presença do CDS, e de uma geringonça que faz funcionar um governo socialista minoritário, é a vez de a esquerda mostrar o seu valor.
“Já provámos que com 10% podemos fazer a diferença, agora cabe-nos dizer que queremos muito mais, não para influenciar mas para decidir a governação”, assumiu Joana Mortágua, sem falar em números, pastas ou outras trocas políticas. “Nesta casa não se fia: Não trocamos nenhuma carreira europeia pela carreira dos professores, dos enfermeiros, não abdicamos de um SNS mais forte e de uma escola pública mais forte”.
Agora, a esquerda: interpretação 2
É preciso fazer o Bloco regressar à sua matriz de esquerda. É hora de o Bloco se virar, de novo, para a esquerda. Esta ideia parece menos evidente, mas a julgar pelas poucas intervenções mais críticas (e curiosamente mais jovens) e menos institucionais, o BE precisa de se reencontrar.
Bem se esforça Catarina Martins para contrariar a ideia de que o Bloco está muito diferente do que era em 1999. Mais do que mudar de política, o que aconteceu foi que “o Bloco mudou a política”, disse a coordenadora do partido. Mas nem todos os bloquistas parecem comungar a mensagem da líder.
“O Bloco não pode ser um partido encostado. Vivemos das migalhas que o PS nos dá”, queixou-se Mateus Sadock. “Falhou a esquerda porque se encostou”, disse João Patrocínio, imediatamente antes de falar Luís Fazenda. Antes, Américo Campos, representante da moção C, pedira “um sobressalto" para o BE.
“O Bloco é um partido fantasma, que não está nem no Governo, nem na oposição”, criticou também Inês Ribeiro Santos. Esta jovem insistiu ainda na necessidade de “recriar o partido-movimento” que o BE já foi. E sublinhou, sem medo: “A verdade é que estamos mais fracos porque a organização à esquerda está mais fraca e descredibilizada. A radicalidade do Bloco perdeu-se entre a sede de mediatismo e o trabalho burocrático e parlamentar, confundindo os meios com os fins, seguindo uma estratégia clara”.
A escolha do slogan podia ser menos dúbia, mas não seria a mesma coisa. E ainda falta saber se a mensagem era mais para dentro do partido ou para fora.