Marisa Matias insiste na revisão do Tratado Orçamental e há quem fale na perda de radicalidade do Bloco

A recém anunciada cabeça de lista do BE ao Parlamento Europeu, Marisa Matias apresentou os eixos da moção de estratégia da direcção. Das outras duas moções vieram as críticas à estratégia de apoio ao PS e a defesa da radicalidade que dizem perdida.

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Marisa Matias RUI GAUDENCIO

Depois de ser anunciada como cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, a eurodeputada Marisa Matias subiu ao palco da Convenção do BE no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, para levantar de novo a bandeira bloquista da revisão do Tratado Orçamental.

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Depois de ser anunciada como cabeça de lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, a eurodeputada Marisa Matias subiu ao palco da Convenção do BE no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, para levantar de novo a bandeira bloquista da revisão do Tratado Orçamental.

Marisa Matias defendeu que o programa eleitoral que o BE propõe para Portugal e que irá apresentar às eleições legislativas “é incompatível com o Tratado Orçamental”, depois de apresentar os cinco eixos em que esse programa irá assentar.

Falando no período dedicado à apresentação das moções de estratégia global e falando em nome dos subscritores da Moção A, de que faz parte bem como toda a direcção, Marisa Matias anunciou que o BE irá apostar na recuperação dos direitos laborais, na defesa da contratação colectiva e no combate à precariedade e à pobreza. O segundo eixo do programa eleitoral será a defesa da soberania e dos serviços públicos. Segue-se a reconversão energética, a defesa do investimento público a níveis pré-troika e o crescimento da soberania alimentar.

E citando Jeremy Corbyn, afirmou que o BE irá actuar “em defesa dos muitos e não dos poucos”. E garantiu que a aposta deste partido é a da representação das causas dos movimentos e das lutas sociais, como forma de concretizar e ampliar a democracia.

Os descontentes

Pela boca de Inês Ribeiro Santos chegaram as primeiras críticas ao Bloco. Ao apresentar a Moção M, a jovem bloquista foi ao palco explicar que "a organização à esquerda está mais fraca e descredibilizada" porque se perdeu a "radicalidade do Bloco".

"A verdade é que estamos mais fracos porque a organização à esquerda está mais fraca e descredibilizada. A radicalidade do Bloco perdeu-se entre a sede de mediatismo e o trabalho burocrático e parlamentar, confundindo os meios com os fins, seguindo uma estratégia clara", disse Inês Ribeiro Santos.

A subscritora da Moção M explicou que, na sua opinião, é assim que os partidos da esquerda "perdem a sua identidade e a ideia de representação alternativa" e é assim que se vão abrindo brechas à "demagogia e ao populismo". Neste contexto, lembrou o dia da eleição de Jair Bolsonaro. "Foi feia a festa, pá!"

Sem negar a importância do trabalho parlamentar ou a aprovação de medidas favoráveis à melhoria imediata das condições de vida dos portugueses, Inês Ribeiro Santos instigou o Bloco a mais "militância de base" e mais "presença nas ruas" para recuperar a confiança da maioria da classe trabalhadora.

"Estamos posicionados num espectro político centrista e recuado face àquilo que é a génese do Bloco", defendeu a bloquista, enunciando aquelas que devem ser as lutas do BE: a renegociação da dívida, ou mesmo o seu não pagamento; a nacionalização de sectores estratégicos da economia; a garantia dos direitos das minorias; a implementação de uma política de fronteiras abertas; etc. "É necessário um Bloco combativo", concluiu.

Na altura de apresentar a Moção C, nos seus oito minutos disponíveis, Américo Campos disse que "o BE precisa de um sobressalto": Mas não só. Criticando o documento estratégico da líder, o bloquista acrescentou: "A Moção A está mais preocupada com a institucionalização do Bloco de Esquerda e e obcecada por lugares, cargos e empregos, objectivos egoístas e pequeno-burgueses".

Américo Campos lembrou ainda que "nunca uma revolução socialista se fez para derrubar um governo eleito".