CT da RTP critica "contratações de luxo" de jornalistas para a direcção e ameaça com greve
Entrada de Cândida Pinto e de Helena Garrido para a nova direcção de Informação do canal acontece na mesma semana dos protestos dos trabalhadores precários da empresa, para os quais continua a não haver solução. Comissão de Trabalhadores vai convocar plenário para discutir marcação de greve.
Demorou poucas horas a reagir e foi com palavras duras para a administração e com uma ameaça de greve que a Comissão de Trabalhadores (CT) da RTP respondeu ao anúncio da contratação das jornalistas Cândida Pinto, da SIC, e Helena Garrido, que foi directora do Jornal de Negócios, para integrar a nova direcção de Informação da televisão pública, liderada por Maria Flor Pedroso desde há quase um mês.
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Demorou poucas horas a reagir e foi com palavras duras para a administração e com uma ameaça de greve que a Comissão de Trabalhadores (CT) da RTP respondeu ao anúncio da contratação das jornalistas Cândida Pinto, da SIC, e Helena Garrido, que foi directora do Jornal de Negócios, para integrar a nova direcção de Informação da televisão pública, liderada por Maria Flor Pedroso desde há quase um mês.
Em comunicado, apesar de realçar que não lhe cabe pronunciar-se sobre as "escolhas legítimas" da directora de Informação ou sobre as "capacidades das jornalistas", aquele órgão representativo dos trabalhadores diz "surpreendida" com as "contratações de luxo" feitas pela administração. Considera-as um "escândalo sem fim", e afirma mesmo que o presidente da RTP, Gonçalo Reis, não tem "nem a moral nem legitimidade para aceitar essas contratações e ao fazê-lo revela que não tem a mínima capacidade para continuar à frente dos destinos da empresa".
A CT avisa que vai marcar um plenário geral de trabalhadores convocando todos os sindicatos da RTP "com um único tema na ordem de trabalhos. Greve!" Não há ainda data para essa reunião.
Para além de Cândida Pinto e de Helena Garrido, a nova direcção conta também com António José Teixeira e Hugo Gilberto como directores-adjuntos - o primeiro mantém o cargo e o segundo é promovido de subdirector. Estão de saída Rosário Lira, João Fernando Ramos e Vítor Gonçalves. Para subdirectores, Maria Flor Pedroso escolheu Alexandre Brito, Joana Garcia e Rui Romano - todos eles são soluções internas. A saída e entrada de adjuntos e subdirectores terá ainda que passar pelo crivo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, cujo parecer é vinculativo.
A CT questiona mesmo "para que serve" o CGI - Conselho Geral Independente, deixando um pedido implícito a que aquele órgão de fiscalização da empresa de serviço público se pronuncie. E pede também a "intervenção por parte do Governo" - algo que, porém, a concretizar-se, seria uma ilegalidade uma vez que a lei proíbe qualquer intromissão governamental neste tipo de decisão. "É ainda mais inaceitável se viermos a perceber que temos um Governo em Portugal que aceita passivamente esta pouca-vergonha."
"Os trabalhadores da empresa aguardam justiça e aguardam que o Governo acorde finalmente do 'Síndrome de Estocolmo' em que se encontra, para resolver o 'caso RTP'", desafia a CT no texto a que o PÚBLICO teve acesso. Que diz ainda que as questões "inerentes à 'novela' da direcção de Informação da RTP-TV, gestão de recursos humanos e as sucessivas decisões desastrosas por parte da gestão merecem uma imediata intervenção nesta empresa por parte do Governo".
No texto intitulado "Uma pouca-vergonha", a CT lembra que existem na RTP trabalhadores que estão há mais de dez anos sem aumentos salariais, assim como "centenas e centenas de trabalhadores precários, muitos deles jornalistas". Mas ainda assim, "o seu presidente considera absolutamente normal contratar mais celebridades e insultar, na cara, cada um dos trabalhadores a seu cargo". Diz a CT que "é inaceitável que uma administração de uma empresa pública, que não cumpre decisões judiciais para integração nos quadros, peça agora excepções ministeriais para estas contratações".
A comissão realça que apesar de a RTP ter "quatro centenas de profissionais competentes e habilitados com a carteira profissional de jornalista", a directora Maria Flor Pedroso até tinha "toda a legitimidade para propor a contratação de quem quiser", mas é o conselho de administração, e em especial o seu presidente, que "não tem, nem a moral, nem legitimidade para aceitar".