Funk em tronco nu, bell hooks e as zines feministas da Sapata Press
Música bem gulosa e documentos da resistência feminista - eis a minha mesa de cabeceira.
Se Prince e James Brown tivessem tido um filho, ele seria Puscie Jones. Há poucas vozes tão poderosas e galvanizantes como esta. Ouçam isto, rápido: The Pursuit, o álbum de estreia dos The Puscie Jones Revue. É funk suculento e turbinado, directo às ancas, é soul bem guloso que tresanda a sexo e a amor (juntos ou separados), com algumas políticas identitárias à mistura, mas sem intelectualizações desnecessárias. Aqui está tudo a ferver, e Puscie Jones quer que vivamos a vida como bem entendermos: “Ladies, gentlemen, queers, freaks, be the facilitator to your happiness, pursue your satisfactions, pursue what make you move (…) Do not apologize”, canta ele, qual reverendo pró-LGBTI, no arranque do disco. Conheci Puscie Jones nas minhas férias de 2017 no The Viper Room, em Los Angeles, num domingo de marcha do orgulho LGBTI+. No meio de todos os mixed feelings e problemas que tenho com aquela cidade (e com os EUA em geral), há duas imagens que me ficaram para sempre na cabeça: Puscie Jones, dinamite funk de tronco nu, cabelo afro, six-pack barrado a purpurinas, calças bem apertadas com a bandeira da América estampada; e aquelas duas senhoras lésbicas na Sunset Boulevard, com os seus 70 e tal anos, de cadeira de rodas, de mãos dadas e com t-shirts anti-Trump.
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Se Prince e James Brown tivessem tido um filho, ele seria Puscie Jones. Há poucas vozes tão poderosas e galvanizantes como esta. Ouçam isto, rápido: The Pursuit, o álbum de estreia dos The Puscie Jones Revue. É funk suculento e turbinado, directo às ancas, é soul bem guloso que tresanda a sexo e a amor (juntos ou separados), com algumas políticas identitárias à mistura, mas sem intelectualizações desnecessárias. Aqui está tudo a ferver, e Puscie Jones quer que vivamos a vida como bem entendermos: “Ladies, gentlemen, queers, freaks, be the facilitator to your happiness, pursue your satisfactions, pursue what make you move (…) Do not apologize”, canta ele, qual reverendo pró-LGBTI, no arranque do disco. Conheci Puscie Jones nas minhas férias de 2017 no The Viper Room, em Los Angeles, num domingo de marcha do orgulho LGBTI+. No meio de todos os mixed feelings e problemas que tenho com aquela cidade (e com os EUA em geral), há duas imagens que me ficaram para sempre na cabeça: Puscie Jones, dinamite funk de tronco nu, cabelo afro, six-pack barrado a purpurinas, calças bem apertadas com a bandeira da América estampada; e aquelas duas senhoras lésbicas na Sunset Boulevard, com os seus 70 e tal anos, de cadeira de rodas, de mãos dadas e com t-shirts anti-Trump.
Da música para as leituras: passou-me pelas mãos a fanzine Hair, da ilustradora lisboeta Andreia Coutinho (banda-sonora possível: Cabelo Crespo de Negra Jaque, Mine de Princess Nokia, Don’t Touch My Hair de Solange e Respeitem Meus Cabelos Brancos de Xênia França). É uma edição da Sapata Press, um projecto editorial entre Portugal e o Brasil centrado na banda desenhada feita por mulheres e pessoas não-binárias, fundado por Cecília Silveira, artista brasileira residente em Lisboa. Há muito que as fanzines são um dos veículos de resistência feminista, e por cá o cenário está cada vez mais composto.
Ainda nas leituras feministas, o meu livro de mesinha de cabeceira das últimas semanas tem sido Não serei eu mulher? As mulheres negras e o feminismo, de bell hooks, que, a par de Angela Davis, Sueli Carneiro e Judith Butler, é a minha intelectual feminista de eleição. Não serei eu mulher? é um documento fulcral, acessível e incontornável do feminismo negro, ou, dito de outra forma, um clássico obrigatório da teoria feminista interseccional, em que as opressões de género, raça, classe social e orientações sexuais são pensadas de forma entrecruzada. Já o tinha lido de modo indisciplinado e meio aleatório, em capítulos soltos que encontrava online, mas a primeira edição em português da obra, lançada pela Orfeu Negro em Setembro e integrada na Colecção Estudos de Género da editora, fez-me voltar a ele. Pelo meio houve James Baldwin, com Se Esta Rua Falasse, e o próximo vai ser Quem Tem Medo do Feminismo Negro?, da brasileira Djamila Ribeiro.