Fundador do Twitter vê futuro para o jornalismo: ser um produto pago
“Estamos a sair da fase em que assumíamos que o jornalismo de qualidade era gratuito para toda a gente”, disse Evan Williams, na Web Summit.
Evan Williams, co-fundador do Blogger e do Twitter, faz parte do grupo de empreendedores da tecnologia que virou do avesso o sector da comunicação social, ao permitir que qualquer pessoa pudesse difundir informação com um alcance antes reservado a televisões, rádios e jornais. Nos últimos anos, tem tentado encontrar uma forma de voltar a pôr o sector dos media em forma. A solução, defende, é cobrar por jornalismo de qualidade. Mas é um plano que não é fácil de pôr em prática.
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Evan Williams, co-fundador do Blogger e do Twitter, faz parte do grupo de empreendedores da tecnologia que virou do avesso o sector da comunicação social, ao permitir que qualquer pessoa pudesse difundir informação com um alcance antes reservado a televisões, rádios e jornais. Nos últimos anos, tem tentado encontrar uma forma de voltar a pôr o sector dos media em forma. A solução, defende, é cobrar por jornalismo de qualidade. Mas é um plano que não é fácil de pôr em prática.
“Julgo que há um futuro brilhante para o jornalismo. Estamos a sair da fase onde assumíamos que o jornalismo de qualidade era gratuito para toda a gente. Isso não é verdade para nenhuma outra categoria de produto”, disse Williams, numa conferência de imprensa no final da Web Summit. Pouco antes, tinha subido ao palco para ser o penúltimo orador (antes do Presidente da República) e tinha recebido do fundador do evento, Paddy Cosgrave, uma tarefa complexa: explicar “como ressuscitar [os media] do limiar da extinção.”
“O que me entusiasma neste momento é ver o início desta transição”, disse Williams em palco. “A subscrição funciona muito bem, faz sentido para muitas pessoas, consegue-se uma experiência drasticamente melhor. Todos os tipos de media vão beneficiar da subscrição.”
A realidade tem mostrado que este não é um caminho fácil para todos. Muitos sites de notícias voltaram-se para modelos de assinatura nos últimos anos, quando as organizações de media perceberam que a publicidade, cujos preços baixaram graças à abundância de opções online para os anunciantes (que têm canalizado dinheiro para plataformas como as do Google e do Facebook). Alguns sites conseguiram um grande número de assinantes, numa mistura de causas que incluem uma reacção dos utilizadores a fenómenos políticos e uma aposta em conteúdos como jogos e receitas de culinária.
Em Portugal – onde vários jornais, como é o caso do PÚBLICO – têm modalidades pagas, a propensão para pagar parece ser reduzida. Um estudo internacional recente indicou que apenas 9% dos utilizadores no país tinha pago por conteúdo jornalístico (o que inclui publicações estrangeiras). “É muito claro que o modelo de assinatura não vai funcionar em cada um dos países”, observou um dos investigadores responsáveis pelo estudo.
Evan Williams, porém, está há anos a pôr dinheiro nas ideias que defende.
Em 2012, fundou o Medium, uma plataforma de publicação que mistura conceitos de blogues e de redes sociais, e que já passou por várias metamorfoses em busca de uma fórmula de sucesso. Numa das últimas transformações, acabou com a publicidade e passou a cobrar uma assinatura – mas muitos dos textos, que podem ser escritos por profissionais ou amadores, continuam a ser de acesso livre.
“É uma espécie de YouTube para artigos”, descreveu Williams, que, questionado pelo PÚBLICO, se recusou a divulgar resultados financeiros do Medium. “O nosso maior desafio é descobrir o que é mais relevante para cada utilizador”, acrescentou.
Arrependimentos
Evan Williams assumiu uma postura cautelosa quando a jornalista da CNN Laurie Segall lhe perguntou em palco se tinha arrependimentos. O empresário reconheceu que, hoje, não faria o Twitter exactamente da mesma forma. “Mostrar o número de seguidores, em última instância, foi prejudicial. Foi dizer logo na nossa cara que era um jogo de popularidade”, exemplificou.
Contudo, argumentou que as redes sociais trouxeram mudanças positivas. “A sociedade está melhor com os media sociais?”, questionou, dando eco a uma pergunta que se tem tornado frequente e lançado algumas empresas, como o Facebook, em introspecções existenciais. “Quando se pergunta isto, deve-se pensar em tudo o que hoje se dá por garantido e que não teríamos sem os media sociais. Todas as pessoas têm uma voz.”
Williams também admitiu que há espaço para melhorias. “Não tenho ilusões de grandeza de que eu e os co-criadores do Twitter destruímos a democracia. [Mas] acho que podemos fazer melhor”. Como também é frequente no meio das startups, defendeu que a tecnologia pode bem ser a solução: “Muitos dos problemas que temos podem ser enfrentados com a tecnologia, tal como foram causados pela tecnologia. Isto pende para os dois lados.”