Médicos pedem a ministra que acabe com falhas informáticas. Há consultas e exames adiados
Representantes dos médicos falam em "catástrofe e vergonha" e pedem à ministra da Saúde que “abandone” a “passividade” e exija soluções aos responsáveis pelos sistemas informáticos da saúde.
Os representantes dos médicos estão a queixar-se em uníssono das falhas nos sistemas informáticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, denunciam, se agravaram nos últimos dias e estão já a provocar adiamentos de consultas e exames de diagnóstico.
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Os representantes dos médicos estão a queixar-se em uníssono das falhas nos sistemas informáticos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, denunciam, se agravaram nos últimos dias e estão já a provocar adiamentos de consultas e exames de diagnóstico.
O problema não é novo mas nos últimos dias estará a atingir proporções que os médicos dizem ser insustentáveis, porque os sistemas informáticos bloqueiam ou não funcionam com frequência, provocando atrasos, adiamentos de consultas e exames e até problemas na prescrição de medicamentos.
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) confirmaram a existência de problemas nos sistemas de informação do Serviço Nacional de Saúde, adiantando que o problema está a ser acompanhado no terreno por técnicos para resolver a situação. "Nos últimos dias ocorreram alguns problemas nos sistemas de informação centrais do Ministério da Saúde que provocaram, em alguns momentos, instabilidade na utilização dos mesmos, condicionando o trabalho dos profissionais e das instituições de saúde sobretudo ao nível dos Cuidados de Saúde Primários", afirmam os SPMS em comunicado.
As críticas sucederam-se nos últimos dias. O presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, João Rodrigues, queixou-se especificamente da falha informática a nível nacional que se verifica num dos sistemas, o SClínico, que desde esta segunda-feira “se encontra persistentemente a falhar no seu módulo de prescrição de exames de diagnóstico e terapêutica”, segundo adiantou em nota à imprensa.
“Consultas paralisadas"
Como os médicos não têm hipótese de prescrever os exames em papel, há “consultas paralisadas, tempos infinitos a tentar resolver problemas que vão surgindo com as aplicações utilizadas”, lamenta, pedindo à ministra da Saúde, Marta Temido, que “abandone” a “passividade” e exija soluções aos responsáveis pelos sistemas informáticos.
João Rodrigues explicou esta quinta-feira à TSF que a referida aplicação foi lançada isoladamente sem estar finalizada e testada e que a maior parte das vezes está a falhar, fazendo com que o médico fique numa situação complicada. “Não pode passar os exames ao doente, não pode continuar as consultas, o que cria uma irritabilidade, um cansaço e até uma desconfiança perante o sistema", sintetizou.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, também não poupa críticas aos problemas que se estão a verificar sobretudo nos centros de saúde. A situação é "desesperante" e os problemas, que se fazem sentir a norte a sul do país, interferem "na relação com os doentes", disse Rui Nogueira à Renascença.
Os dirigentes da Ordem dos Médicos (OM) também se desmultiplicaram em críticas. O presidente da Secção Centro da OM, Carlos Cortes, considerou, em declarações à TSF, que foram ultrapassados "os limites da decência" e defendeu mesmo que o que está a acontecer com os sistemas informáticos é “uma absoluta catástrofe”.
Esta semana, "na grande maioria dos centros de saúde, muitos utentes vão ter que lá voltar, porque o exame não foi prescrito". No mínimo, um médico demora "três minutos" à espera que o sistema informático responda ao pedido de um exame, o que afecta sobretudo os centros de saúde.
Horas mais tarde, em comunicado, o bastonário Miguel Guimarães não hesitou em classificar as sucessivas falhas que se têm verificado nos sistemas informáticos como “uma vergonha”. Miguel Guimarães adiantou que já enviou para o Ministério da Saúde e os SPMS "um ofício a dar nota das sucessivas falhas nos sistemas informáticos e da cada vez maior burocracia que envolve a utilização dos sistemas e aplicações informáticas”.
“Hoje, um médico passa mais de 50% do tempo de consulta ao computador e menos tempo a ouvir e a observar o seu doente”, o que é “inadmissível”, enfatiza. “Chegou o momento de atribuir responsabilidades técnicas e políticas aos SPMS que se têm revelado incapazes para resolverem a situação”, reclama o bastonário que inclui na nota um "desafabo" de uma médica "desgastada" com os "estúpidos" problemas informáticos.
Esta semana, os sindicatos que representam os médicos já tinham reclamado medidas para resolver os problemas informáticos. A Federação Nacional dos Médicos quer que sejam apuradas responsabilidades à equipa que gere os sistemas informáticos da saúde e o Sindicato Independente dos Médicos pediu à ministra que ponha termo à "publicidade enganosa" e à "incompetência" dos SPMS, lamentando os "apagões, falhas, lapsos, as intermitências e indisponibilidades das várias aplicações, de manhã, à tarde e à noite" com que os médicos se debatem, não só no SClínico, mas também noutras aplicações, como Alert P1 (pedidos de marcação de consltas de especialidade) e a PEM (prescrição electrónica de medicamentos).