Doutoranda cria tecnologia que valoriza resíduos das cascas de ananás
Projecto de Débora Campos, estudante de doutoramento da Escola Superior de Biotecnologia do Porto, permite que “a indústria valorize os seus resíduos”
Uma estudante da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto, desenvolveu uma tecnologia que permite, através da extracção de enzimas de cascas de ananás, a valorização de resíduos que são considerados “lixo”.
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Uma estudante da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto, desenvolveu uma tecnologia que permite, através da extracção de enzimas de cascas de ananás, a valorização de resíduos que são considerados “lixo”.
Em entrevista à Lusa, Débora Campos, estudante de doutoramento da Escola Superior de Biotecnologia do Porto responsável pelo estudo, explicou que o projecto, para além da “valorização dos resíduos do ananás”, teve como objectivo desenvolver uma tecnologia “verde e sustentável” que substituísse as actualmente utilizadas no mercado.
“Este projecto permite que uma indústria valorize os seus resíduos, porque, até agora, todas as indústrias compram as matérias-primas, transformam-nas e enviam os resíduos para o lixo. Portanto, a introdução desta tecnologia permite introduzir valor ao reduzir o excesso de lixo e criar ingredientes que podem ser novamente usados”, afirmou.
Assim, ao submeter as cascas de ananás a esta tecnologia, totalmente desenvolvida em laboratório, a investigadora consegue “extrair as enzimas“ e evitar ”problemas a reintroduzir estes resíduos na indústria”.
“Esta enzima extraída do ananás é considerada uma ‘enzima sexy’, porque todas as indústrias estão a procurar alternativas às actuais opções, utilizando as enzimas para optimizar os seus processos ou até como produto final. Vários estudos do mercado demonstram que as enzimas, até 2025, vão ter uma procura de mercado de 5% de valor económico”, salientou, acreditando que esta solução vai permitir às indústrias uma “diferenciação pela qualidade”, isto porque “não estão a ser retirados alimentos ao mercado”.
O projecto, que já conta com patente europeia e é financiado por uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, deu origem a “uma ideia de negócio” designada AgroGrIN Tech. O plano é “aplicar as ‘tecnologias verdes’ e sustentáveis a indústrias de transformação de frutas, de modo a utilizar os seus resíduos na extracção de compostos de interesse, como são as enzimas”, frisou. A estudante de doutoramento está agora a negociar com duas empresas nacionais a implementação da tecnologia desenvolvida.
Além da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, estiveram também envolvidos no projecto coordenadores da Universidade do Minho, do Laboratório Ibérico Internacional de Tecnologia (INL) e da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.