Maior e mais transatlântico, este é o Guimarães Jazz versão 2018
Sem a habitual pausa de três dias, o festival arranca esta quinta-feira e estende-se até dia 17, com 13 concertos. O cartaz inclui nomes da cena de Nova Iorque, mas também dá espaço à música de Chicago, visita a Europa e investe nas residências artísticas. O contrabaixista Dave Holland, no activo há mais de 50 anos, é o primeiro a actuar.
O Centro Cultural Vila Flor vai transformar-se no coração do jazz em Portugal a partir desta quinta-feira, quando Dave Holland, um dos contrabaixistas mais reconhecidos da segunda metade do século XX, subir ao palco, às 21h30. Com mais de 50 anos de carreira, o músico inglês, radicado em Nova Iorque, colaborou, por exemplo, com Miles Davis em dois dos seus álbuns mais experimentais – In a Silent Way (1969) e Bitches Brew (1970) – e aparecerá em Guimarães como líder do quarteto AZIZA, criado há dois anos.
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O Centro Cultural Vila Flor vai transformar-se no coração do jazz em Portugal a partir desta quinta-feira, quando Dave Holland, um dos contrabaixistas mais reconhecidos da segunda metade do século XX, subir ao palco, às 21h30. Com mais de 50 anos de carreira, o músico inglês, radicado em Nova Iorque, colaborou, por exemplo, com Miles Davis em dois dos seus álbuns mais experimentais – In a Silent Way (1969) e Bitches Brew (1970) – e aparecerá em Guimarães como líder do quarteto AZIZA, criado há dois anos.
O concerto de abertura da 27.ª edição do Guimarães Jazz, diz ao PÚBLICO o programador Ivo Martins, vai “explorar uma matriz africana, a nível de rítmica e de sonoridade”. Depois, o festival viajará por sons de outras latitudes, até por ser mais extenso em 2018 – o habitual intervalo de três dias foi suprimido e o cartaz estende-se ininterruptamente até 17 de Novembro, com 13 concertos, mais dois do que em 2017.
Os sons nova-iorquinos vão ecoar de novo em Guimarães, com actuações como a da Millennial Territory Orchestra do trompetista Steven Bernstein, em parceria com a cantora Catherine Russell, idealizada apenas para o festival, no dia 10; e do projecto UPLIFT, criado em 2016 pelo trompetista Dave Douglas como manifesto em defesa da democracia e da igualdade, no dia 15. O encerramento estará também a cargo de uma formação nascida naquela metrópole – composta por 14 músicos, a Mingus Big Band homenageia outro dos contrabaixistas mais relevantes da segunda metade do século XX, Charles Mingus, sendo liderada pela sua viúva, Sue Mingus.
Da América à Europa
Esta edição do festival co-organizado pela Oficina, pela Câmara de Guimarães e pela associação Convívio distingue-se, no entanto, por abrir as portas ao jazz criado na Europa. O aumento do número de concertos, afirma Ivo Martins, foi uma oportunidade para incluir músicos obrigados a ficar de fora em anos anteriores e, simultaneamente, mostrar ao público as diferenças entre o jazz norte-americano e o europeu. “A essência do jazz norte-americano é a cultura afro-americana. Já um músico europeu vem da escola da música clássica”, realça. Para o programador, o jazz europeu tende a ser “mais racional, frio e desinserido do aspecto sociológico”, embora tais características estejam hoje “mais diluídas” face à crescente mobilidade dos artistas.
A Europa pisa pela primeira vez o palco no dia 10, com o Pablo Held Trio, formação alemã cuja música assenta no bebop – estilo que apareceu nos anos 40 do século XX –, e volta a ser protagonista no dia 12, com Random/Control, projecto de um trio austríaco liderado pelo pianista David Helbock, cuja música tanto se inspira em nomes do jazz como Duke Ellington como no folclore do país alpino. Mas o Guimarães Jazz também guarda espaço para um concerto de João Barradas, acordeonista português que vai actuar ao lado do saxofonista Greg Osby, no dia 13.
Programador do Guimarães Jazz desde 1996, Ivo Martins considera que a cidade está hoje mais preparada, mesmo a nível turístico, para oferecer mais concertos, sobretudo ao fim-de-semana, e atrair os amantes de jazz. “O primeiro fim-de-semana tem cinco concertos. Quem gosta de jazz desloca-se muito mais rapidamente a Guimarães para ver cinco concertos do que para ver um ou dois”, antevê.
Também se vai ouvir Chicago
Habituado a receber artistas de Nova Iorque, o Guimarães Jazz direccionou este ano o ouvido para Chicago, cidade que acolheu muitos dos afro-americanos que, no início do século XX, migraram para o Norte dos Estados Unidos, entre os quais Louis Armstrong. “Nova Iorque é uma cidade-mundo, com todo o tipo de influências. Chicago tem uma componente afro-americana fortíssima e está menos exposta a influências exteriores”, argumenta Ivo Martins. A cidade do Midwest vai estar representada no festival pelo trompetista Marquis Hill, no dia 9, e pela mais recente formação do contrabaixista Matt Ulery, Delicate Charms.
Com cerca de 20 anos de carreira, Matt Ulery já se encontra em Guimarães e, em conversa com o PÚBLICO, descreveu a sua música como uma espécie de “jazz de câmara”, semelhante à que os “músicos clássicos tocam”. Apesar de dizer que a geografia não dita necessariamente o estilo de jazz que se toca, o músico reconhece que, neste momento, há “muita coisa a acontecer em Chicago” e que os “músicos tendem a ser influenciados por quem está em seu redor.
O contrabaixista vai participar ainda em algumas das jam sessions que vão percorrer a cidade ao longo de todo o Guimarães Jazz e dirigir o habitual concerto da Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE, no dia 11. O festival integra ainda dois concertos criados em residência artística: a associação Porta-Jazz vai apresentar, também no dia 11, um espectáculo produzido por músicos nacionais e internacionais, em parceria com o cineasta Miguel Tavares, e a Orquestra de Guimarães vai actuar ao lado da flautista e compositora brasileira Léa Freire, no dia 14.