As noites da Web Summit: a que dá direito uma pulseira da festa?

A resposta inclui shots de poncha, bolas de Berlim, alguns contactos e também muita confusão. O PÚBLICO acompanhou as principais ideias em debate durante o dia na Web Summit, mas foi descobrir o que se passa de noite.

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Os eventos extra da Web Summit, começam às 16h no Pavilhão de Portugal Público/Miguel Manso

Bebidas e concertos grátis, bolas de Berlim para abrir o apetite, pistas de dança com vista para o rio, anúncios a imóveis em Portugal, voluntários com guarda-chuvas na mão, e sobretudo muita confusão, fazem parte da oferta nocturna da Web Summit em Lisboa.

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Bebidas e concertos grátis, bolas de Berlim para abrir o apetite, pistas de dança com vista para o rio, anúncios a imóveis em Portugal, voluntários com guarda-chuvas na mão, e sobretudo muita confusão, fazem parte da oferta nocturna da Web Summit em Lisboa.

Depois de um dia inteiro a criar contactos e a falar de tecnologia, os 70 mil participantes da Web Summit têm a hipótese de usar as pulseiras e crachás de identificação ao pescoço para entrar em vários eventos especiais espalhados pela cidade: entre a panóplia de ofertas na terça-feira, havia shots de poncha e generosas bolas de Berlim (sem creme) no Pavilhão de Portugal, seguidos de copos de jeropiga, jantares e descontos em vinho e cerveja no Cais do Sodré. Bem como um concerto exclusivo dos portugueses The Black Mamba no Music Box.

A viagem começa, todos os dias, mesmo ao lado da Web Summit, no Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, a partir das 16h. É por essa hora que a aplicação da feira envia um alerta a recordar todos os participantes sobre o Sunset Summit. Sem detectores de metais, ou muita fiscalização à entrada, é fácil aproveitar os grupos a caminho do evento do final da tarde para entrar mesmo sem uma pulseira. Os que conseguem dizem que só querem ver o que há de “tão especial” na Web Summit – um bilhete varia entre os 1500 e os 25 mil euros  –mas o Sunset Summit é quase todo sobre Portugal.

Fora um pequeno stand organizado pelo Google sobre o serviço de música premium do Youtube e muitos anúncios aos novos telemóveis da chinesa Huawei (incluindo algumas mesas para os experimentar), o evento não se foca em tecnologia. A experiência, organizada pelo Turismo de Portugal, é acima de tudo um anúncio ao país: com doces, sardinhas em lata e bebidas para provar à entrada, onde um mapa detalha uma viagem que inclui secções dedicadas ao sol, sabor, oceano, natureza e música do país.

A festa dura até às 21h, e apesar de haver muita coisa em oferta, há também muito para comprar: copos de cerveja e cidra entre os três e os cinco euros, fatias de pizza entre os quatro e os sete euros, vinho maturado que pode chegar aos 95 euros por garrafa, e um panfleto da Caixa Geral de Depósitos à saída com uma lista de propriedade à venda. Devido aos preços da Sunset Summit, porém, alguns visitantes tentavam entrar com latas de cerveja debaixo do braço, compradas no Centro Comercial Vasco da Gama. De acordo com estimativas oficiais do Governo sobre o retorno do investimento da Web Summit (e todos os eventos associados no turismo): são ganhos cerca de 300 milhões de euros em serviços como alojamento, transportes e restauração.

“Só gostava era de ter ouvido mais música de cá, é um evento sobre Portugal... Havia muita música inglesa e muita confusão, mas dá para conhecer muito de Portugal, e o vinho é barato!", comentou com o PÚBLICO, Claudia Munz-Najar, uma visitante do Peru à saída. Nos braços, baloiçava uma garrafa de vinho tinto que disse, com orgulho, ter conseguido por seis euros.

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Para muitos participantes, os eventos além da feira são uma boa forma de fazer contactos Público/Miguel Manso

Por volta das 19 horas, já se ouvia música do norte-americano Justin Timberlake e alguns dos éxitos dos Queen no Pavilhão de Portugal. É por esta altura que os convidados da Web Summit são motivados a deixar o Sunset Summit e a fazer a festa noutros pontos da cidade. Às oito em ponto, começa a Night Summit. Na segunda-feira, a festa fez-se no Parque das Nações, na terça-feira na rua cor-de-rosa no Cais de Sodré, e está quarta-feira acontece na Lx Factory, em Alcântara.

Já na linha verde do metropolitano de Lisboa, a visitante peruana disse que tinha vindo à feira, acima de tudo, para aprender e descobrir novas áreas para acrescentar ao currículo tecnológico da Universidade de Engenharia e Tecnologia de Lima, onde trabalha. E que estava a explorar os eventos nocturos para descobrir outra faceta de Portugal e conhecer pessoas num contexto mais descontraído.

Festa continuou pelo Cais do Sodré

No Cais do Sodré, na noite de terça-feira, os espaços com ofertas para a Web Summit estavam identificados com faixas e bandeiras da feira, mas se não estivessem, bastava procurar a multidão de pessoas com os braços levantados a tentar tirar selfies ao espaço. A chuva e o vento, que começou por volta das 10h da noite, não se fazia sentir entre a multidão. No espaço apertado havia investidores, oradores, e participantes a passar de bar em bar à procura das melhores ofertas e brindes.

Pelo meio, estavam ainda voluntários equipados de casaco azul e guarda-chuvas para ajudar a guiar as pessoas (outros voluntários, que já trabalharam durante o dia, aproveitam as noites para se divertir – à semelhança de todos os convidados, as pulseiras dão-lhes acesso a descontos e ofertas especiais). “Estamos aqui para ajudar as pessoas a saber o que é que cada bar oferece, e onde podem arranjar espaço para falar. É um ambiente diferente da feira que alguns preferem para falar”, disse ao PÚBLICO Tânia Rocha, 18 anos, a estudar marketing na Escola Superior de Comunicação em Lisboa. É o segundo ano que faz voluntariado na feira. “É muito giro, e no final por volta das 11 os voluntários têm tempo de ir todos juntos buscar uma bebida de celebração.” Desta vez, ficou encarregue de trabalhar de noite, porque quer aproveitar o dia para ver algumas conversas na feira. “Quero um dia organizar eventos deste tipo. Ao fazer voluntariado ganho experiência, contactos e ideias para quando for eu a responsável.”

A maioria das pessoas que vão ter com Rocha querem saber as ofertas dos vários locais. Dos 13 espaços a participar, apenas um oferecia a opção de comida com desconto.

As filas, porém, eram grandes. “Ainda estou na fila para o meu primeiro copo grátis”, comentou por volta das nove da noite, Katerina Trajchevska, que veio da Macedónia para representar a Adeva, uma startup com o objectivo de unir programadores independentes com empresas de tecnologia. Diz que não conseguiu acabar o trabalho a tempo para ir à Sunset Summit – “mas tenho o resto da noite e da semana para explorar”.

Enquanto esperam para ser atendidos, muitos também aproveitam para trocar contactos na aplicação da feira. É o caso de Anders Nilsen, da Norguega, e Mircea Gutu, da Alemanha, que começaram a trocar ideias sobre os seus projectos em plena rua cor-de-rosa. Apesar de ambos terem copos de cerveja na mão, admitem que desconheciam da existência de descontos especiais, e pensavam que as bandeiras a decorar o espaço serviam apenas para identificar o ponto de encontro de quem está esta semana na Web Summit.

A conversa entre Gutu e Nilsen ia dos projectos que ambos desenvolvem nos seus países (respectivamente, um site de freelance de design gráfico e um centro para estudar o comportamento infantil), às conversas que mais gostaram de ouvir no parco principal da Web Summit. Concordam que a apresentação de Christopher Wylie esteve entre as mais interessantes. Foi o programador canadiano que denunciou a má gestão dos dados pessoais dos utilizadores do Facebook, e que marcou presença na Web Summit para alertar sobre o poder dado às grandes empresas de tecnologia. “Gostei da ideia de que a tecnologia está a colonizar as pessoas. É importante ter isto em atenção quando se trabalha na área”, disse.

Na rua cor-de-rosa, a festa durou até às duas da manhã. Para escapar à chuva, a Music Box dava a hipótese de entrada grátis no espaço entre as dez da noite e a meia-noite para um concerto de The Black Mamba, que apresentaram músicas do álbum The Mamba King, em inglês, para os visitantes internacionais. A noite – que acabou às duas da manhã – foi partilhada nas redes sociais entre hashtags.

A feira de tecnologia não espera, porém, por quem passou parte da noite e madrugada na Night Summit. Às 7h47 da manhã, uma notificação na aplicação da feira lembrava que as várias startups promissoras iam subir ao palco principal, para apresentar os seus projectos, às 9h30. A Web Summit dura até quinta-feira, dia 8 de Novembro.