Netflix veio a Lisboa anunciar duas séries, ainda sem planos para produzir em Portugal
Produção fora dos EUA e Inglaterra é a grande estratégia para o serviço de streaming, confirma Greg Peters na WebSummit. Nova parceria com operador português pode estar para breve. “Num futuro não muito distante haverá mais originais internacionais" do que séries de Hollywood no Netflix.
Greg Peters, director de produto do Netflix, anunciou esta quarta-feira em Lisboa que o serviço de streaming vai ter duas novas séries internacionais: a espanhola Alma e a norueguesa Ragnarok, do criador de Borgen. Mas após uma palestra na Web Summit, o responsável disse que não há “nada a anunciar nesta altura” quanto a produção original Netflix no mercado português, embora acredite que Portugal possa ter “o mesmo tipo de sucesso” que as séries vindas de Espanha. Crê, sobretudo, que “num futuro não muito distante, haverá mais originais internacionais do que originais Hollywood” no Netflix.
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Greg Peters, director de produto do Netflix, anunciou esta quarta-feira em Lisboa que o serviço de streaming vai ter duas novas séries internacionais: a espanhola Alma e a norueguesa Ragnarok, do criador de Borgen. Mas após uma palestra na Web Summit, o responsável disse que não há “nada a anunciar nesta altura” quanto a produção original Netflix no mercado português, embora acredite que Portugal possa ter “o mesmo tipo de sucesso” que as séries vindas de Espanha. Crê, sobretudo, que “num futuro não muito distante, haverá mais originais internacionais do que originais Hollywood” no Netflix.
Numa conversa com jornalistas portugueses e espanhóis, Greg Peters respondia ao PÚBLICO: “Estamos abertos em geral a séries que venham de qualquer lado, estamos constantemente à caça de uma grande história que venha de Portugal ou de quaisquer outros territórios que sirvamos. Nada a anunciar nesta altura, mas assim que encontrarmos a série perfeita anunciamos”. Greg Peters, que foi dos primeiros subscritores Netflix quando este era um serviço de entrega de DVD pelo correio e hoje lida com os seus mais de 137 milhões de “membros”, como lhes chama, só entra em maior detalhe quando fala de outras presenças em Portugal – nos operadores de televisão por subscrição.
“Temos uma série de parcerias em curso, estamos disponíveis em set top boxes”, exemplificou quando questionado sobre se tinha no horizonte parcerias com canais ou produtoras portuguesas, mas focando-se em operadores como a Vodafone e a Altice, em cujas plataformas já está presente. “Acho que verão mais desses [acordos]", deixou no ar – só a Nos e a Nowo não dispõem ainda de Netflix.
Num evento em que na mesma sala, a certa altura, se vê passar o antigo primeiro-ministro Tony Blair, o xadrezista e político russo Garry Kasparov dar uma conferência de imprensa e um robot com cabeça feminina a falar com jornalistas, Peters anunciou a entrada em produção em 2019 de duas novas séries: Ragnarok, sobre um jovem de 17 anos que encarna um deus nórdico, e de Alma, série juvenil sobre uma jovem que sofre um acidente que a obriga a combater a sua amnésia dentro de um mistério. Ambas se estreiam em 2020.
Qual o peso, num planeta de 7,7 mil milhões de pessoas em que só 1,5 mil milhões falam inglês e em que o Netflix tem mais subscritores fora dos EUA do que nos EUA, da produção internacional na operação da empresa? Não dando números, Greg Peters respondeu ao PÚBLICO que considera que esta é “a oportunidade por realizar”, que “não foi alavancada: a capacidade de encontrar histórias de todo o mundo, não em inglês e não de Hollywood, e conseguir torná-las um sucesso global. Temos hoje as ferramentas para o fazer de uma forma que nunca existiu. Essa é a verdadeira dimensão da oportunidade para nós. Acredito mesmo que há um futuro não muito distante em que haverá mais originais internacionais do que originais Hollywood. É super estratégico. Para mim é a oportunidade estratégica”, enfatizou.
Há três anos em Portugal, o Netflix é um serviço cuja capacidade de produção de conteúdo original (e de distribuição de títulos de outros canais) tem contribuído fortemente para a abundância inédita de produtos televisivos no mundo. A produção espanhola foi uma das estrelas da palestra do responsável de operações do Netflix - falou rodeado de figurantes com fatos-macaco vermelhos e máscaras de La Casa de Papel. Tem um “sucesso tremendo” em todo o mundo, confirmaria depois, a par de Elite ou Las Chicas del Cable. O Netflix abriu um hub (centro) de produção em Madrid, onde planeia fazer uma dúzia de séries e embora se destine sobretudo a títulos espanhóis, “seguramente haverá oportunidades para lá filmar outras produções europeias”, diria aos jornalistas.
O segredo do sucesso das séries espanholas? Uma indústria madura, “os storytellers têm muita experiência, as histórias são frescas e em muitos casos são jovens, o que é muito apelativo globalmente”, responde. E o caso português? “Não vejo razão pela qual não devamos ver o mesmo tipo de sucesso aqui, com tempo.”
O trabalho de Greg Peters é precisamente ajustar tecnologia a conteúdo internacional e a sua palestra foi um longo elogio, sustentado em números, de uma espécie de mantra – “as grandes histórias podem vir de qualquer lado, e podem viajar para qualquer lado”.
Falou de “formas autênticas de contar histórias, [porque as pessoas] querem uma perspectiva de um criador local que esteja alicerçado numa realidade e cultura local”, e da conclusão “deprimente” que é saber que a maioria dos espectadores americanos diz que nunca verá um filme ou série que não seja em inglês. Gabou o trabalho de dobragem e legendagem do serviço, e equiparou dados como os que tornaram a alemã Dark numa série que teve 90% das suas audiências fora da Alemanha ou Casa de Papel na série não falada em inglês mais vista de sempre no Netflix, com os que dizem que “90% das séries de horário nobre originárias da Europa nos últimos três anos foram lançadas em dois ou menos países europeus”, mostrando o poder de circulação do streaming.