Superbactérias podem matar quase 50 mil pessoas em Portugal até 2050. Mas há forma de evitá-lo
Um estudo da OCDE mostra que com a aplicação de algumas medidas é possível reduzir o número de mortes causadas por infecções por bactérias resistentes a antibióticos e que não custa assim tanto.
Até 2050, as infecções por bactérias resistentes a antibióticos poderão matar 2,4 milhões de pessoas na Europa, América do Norte e Austrália. Só em Portugal a estimativa aponta para 49.443 mortes. Os números são avançados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num relatório divulgado nesta quarta-feira.
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Até 2050, as infecções por bactérias resistentes a antibióticos poderão matar 2,4 milhões de pessoas na Europa, América do Norte e Austrália. Só em Portugal a estimativa aponta para 49.443 mortes. Os números são avançados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num relatório divulgado nesta quarta-feira.
Em 2015, em Portugal, estima-se que estas infecções tenham sido a causa da morte de 1158 pessoas. Na Europa, morreram cerca de 24 mil. Mas a tendência pode ser contida, declara a OCDE. “Três em cada quatro mortes por infecções por bactérias resistentes a antibióticos podem ser evitadas gastando apenas dois dólares por pessoa.”
Melhorar a higiene dos hospitais, incluindo a lavagem das mãos, promover programas de gestão de antibióticos, utilizar métodos de diagnóstico rápidos, retardar a prescrição de antibióticos e criar campanhas de sensibilização são as medidas avançadas pela OCDE para conter as superbactérias, com base em sugestões anteriores da Organização Mundial da Saúde.
Adoptar estas práticas custaria por ano, a Portugal, o equivalente a 541.825 dólares em paridade do poder de compra (PPS) — medida que permite a comparação entre diferentes países. Mas a poupança gerada ultrapassa esses custos. A OCDE estima que os gastos relacionados com infecções decresçam 977.749 dólares em PPS.
O próprio título do relatório Stemming the superbug tide: just a few dollars more (que significa “Conter a tendência das superbactérias: só mais uns dólares”) indica que o esforço financeiro não será muito exigente.
Entre as medidas propostas, promover a lavagem das mãos é aquela que resulta numa maior redução de custos com superbactérias em Portugal: menos 351.489 dólares em PPS por ano. Aplicá-la custaria cerca de 30 mil dólares em PPS por ano. Também é esta medida que previne mais mortes anualmente: menos sete em cada 100 mil pessoas.
Ao nível da OCDE, a aplicação deste conjunto de práticas “poderia salvar até 1,6 milhões de vidas até 2050 nos 33 países incluídos na análise”. Além disso, “o investimento nessas políticas pagar-se-ia dentro de um ano e acabaria por permitir poupar 4,8 mil milhões de dólares por ano”.
Na sua análise a OCDE divide ainda estas medidas em três pacotes: hospitalares, comunitárias e mistas. Cada grupo reduz os encargos com infecções por bactérias resistentes em 85%, 23% e 73%, respectivamente.
Para chegar as estas previsões foi construído um modelo que tem em conta oito bactérias, com 17 combinações, e simula infecções resistentes e susceptíveis que ocorrem em cinco zonas do corpo: corrente sanguínea, sistema respiratório, trato urinário e sítio cirúrgico.
Qualidade de vida
A resistência a antibióticos também tem impacto na qualidade de vida da população. Anualmente, as infecções por bactérias resistentes resultam em 568 milhões de dias de internamento a mais do que aquilo que seria esperado só na União Europeia. Em Itália contam-se 2300 por 100 mil habitantes. Em Portugal são 1250.
O peso destas infecções é aferido através do indicador que mede os anos de vida saudáveis perdidos (aquilo que a gíria científica denomina de anos de vida ajustados por incapacidade). Em cada ano, em Portugal, até 2050, vamos perder em média 260 por 100 mil habitantes.
Melhorar a higiene das mãos é a medida que tem mais impacto na redução destes números.
Importância dos antibióticos
Apesar de chamar a atenção para este problema, a OCDE faz questão de lembrar que “os antibióticos eficazes são vitais para a medicina moderna. Pacientes submetidos a quimioterapia ou transplantes, por exemplo, dependem destes medicamentos para prevenir infecções e complicações”. Mesmo assim, “após meio século de prescrição excessiva de antibióticos aumenta a preocupação em que os hospitais fiquem sem opções para salvar vidas”.
As “bactérias resistentes a antibióticos específicos causam quase uma em cada cinco infecções nos países da OCDE e União Europeia”. Fica o aviso: “a resistência aumentará ainda mais, a menos que sejam tomadas medidas.”