Congresso do PPE quer Weber na presidência da Comissão Europeia

A maior bancada política do Parlamento Europeu reúne-se em Helsínquia para decidir a estratégia para as próximas eleições europeias. Corrida para Spitzenkandidat sem suspense.

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Manfred Weber é o rosto moderado da CSU alemã JOSE MANUEL VIDAL/EPA

A competição nem terá sido assim tão renhida: os mais de 700 delegados ao Congresso do Partido Popular Europeu (PPE), reunidos a partir desta quarta-feira em Helsínquia, vão previsivelmente escolher o líder da sua bancada no Parlamento Europeu, Manfred Weber, para ser o cabeça-de-lista da sua família política e candidato à presidência da Comissão Europeia, após as eleições de Maio de 2019.

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A competição nem terá sido assim tão renhida: os mais de 700 delegados ao Congresso do Partido Popular Europeu (PPE), reunidos a partir desta quarta-feira em Helsínquia, vão previsivelmente escolher o líder da sua bancada no Parlamento Europeu, Manfred Weber, para ser o cabeça-de-lista da sua família política e candidato à presidência da Comissão Europeia, após as eleições de Maio de 2019.

A jogar em casa, o seu concorrente Alexander Stubb, antigo ministro e primeiro-ministro da Finlândia, que construiu toda a sua carreira profissional e política em torno da Europa, nunca teve verdadeiramente hipótese de suplantar a vantagem do político alemão da CSU da Bavária: teve o apoio declarado da chanceler Angela Merkel, dos restantes chefes de Estado e de Governo do PPE e de quase todos os líderes dos partidos do grupo.

O alemão de 46 anos, que é a cara da facção mais moderada do partido bávaro, representa o establishment do PPE. O grupo, que reúne o centro-direita europeu e é o maior do Parlamento Europeu, detém praticamente um monopólio na “nomeação” de líderes europeus: os actuais presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Conselho Europeu, Donald Tusk, e do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, saíram todos das suas fileiras.

O grupo — que acolhe os partidos portugueses PSD e CDS — domina a vida política de Bruxelas, e nas próximas eleições europeias de Maio de 2019 joga mais uma vez todas as suas fichas na exigência de que, na designação do futuro presidente da Comissão Europeia, os chefes de Estado e de governo da UE respeitem os resultados do processo democrático conhecido pelo nome alemão de Spitzenkandidaten, ou seja, que escolham o cabeça-de-lista do grupo político com mais votos no Parlamento Europeu.

Jean-Claude Juncker foi o primeiro Spitzenkandidat que foi oficialmente seleccionado para a presidência da Comissão, em 2014. Mas vários líderes europeus, de diferentes famílias políticas, já vieram pôr em causa a aplicação do modelo nas próximas eleições, reclamando para si a prerrogativa de indicação da personalidade que vai presidir ao executivo comunitário — uma manobra de afirmação de força política, à qual não será alheia a perspectiva de terem que se confrontar com uma panóplia pouco entusiasmante de candidatos.

Apesar da turbulência política europeia, com a criação de novos movimentos políticos, o recrudescimento dos fenómenos populistas e nacionalistas e a subida da taxa de abstenção, as projecções de voto nas próximas europeias ainda continuam a apontar uma nova maioria do PPE, que deverá ser mais desafiado pelas forças liberais ou ecologistas do que pelos seus rivais tradicionais da família socialista (social-democrata).

Aposta arriscada?

Assim, a aposta do PPE em Manfred Weber, que parece ser a opção mais conservadora, pode também ser vista como uma jogada arriscada. Quem acompanha a polícia germânica sabe que é uma voz influente da CSU e um aliado de Angela Merkel. Mas nem na Alemanha ocupou o palco principal: a sua carreira política circunscreve-se ao Parlamento Europeu, onde nunca se destacou pela sua oratória ou o seu carisma. O político alemão, que é descrito como um conhecedor dos meandros parlamentares e um “construtor de pontes”, é virtualmente desconhecido pelo eleitorado europeu: não será o reconhecimento do seu nome que vai atrair os cidadãos às urnas.

No mesmo sentido, a sua escolha como cabeça-de-lista do PPE nada fará para mudar a opinião dos líderes do Conselho Europeu, que defendem a escolha de um “campeão” da Europa, um nome forte e incontestável, que não mereça críticas ou suscite resistências e possa entrar no cargo já com um capital político para gastar.

Alexander Stubb teria, pelo menos teoricamente, melhores hipóteses de agradar aos líderes nacionais, muitos dos quais se sentaram com ele em cimeiras e outras reuniões da União Europeia. Mas, para muitos, a sua candidatura terá servido apenas para criar a ilusão de competição na corrida do PPE, e elevar o seu perfil, projectando o seu nome para outros cargos relevantes na Europa.

O finlandês montou uma campanha profissional e verdadeiramente mediática, ao contrário de Manfred Weber, que conduziu a sua candidatura de forma discreta, mais com discursos em fóruns fechados do que com entrevistas abertas. E só renitentemente acedeu a participar num debate com o seu concorrente: o frente-a-frente, que vai durar só meia hora, tem lugar esta quarta-feira no Congresso.

Além do confronto entre os dois concorrentes a Spitzenkandidat, e da apresentação dos respectivos manifestos eleitorais e visões políticas para o futuro da União Europeia, o programa do Congresso do PPE prevê a discussão de quatro “policy papers” relativos às questões de defesa e segurança, economia, sustentabilidade e política externa.

Os delegados vão ainda ter a oportunidade para debater uma proposta de resolução submetida à última hora à mesa do Congresso, que defende a condenação política de todos aqueles que violem os valores fundamentais da Europa e os princípios do Estado de direito defendidos pelo PPE. “O populismo e os extremismos nacionalistas, a desinformação, a discriminação e as ameaças ao Estado de direito representam as maiores ameaças à liberdade e democracia na Europa desde a queda da Cortina de Ferro. Pedimos a todos membros e associações do PPE que respeitem, protejam e promovam estes princípios e valores”, diz o texto, cujos promotores garantem não ser dirigido contra os membros do partido Fidezs, do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.