Quercus estuda venda de terrenos no Tejo Internacional — e já está debaixo de fogo por isso

Há uma petição online contra a venda. É “maliciosa”, diz o presidente da organização ambientalista, garantindo que não há qualquer compromisso.

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O Parque do Tejo Internacional foi criado em 2000. Sebastiao Almeida

Mais de 300 pessoas assinaram já uma petição, posta a correr nas últimas horas, contra a possível venda, por parte da Quercus, de cerca de 180 hectares de terrenos no Parque Natural do Tejo Internacional, onde a associação começou a comprar parcelas ainda na década de 1980 para projectos de conservação da natureza. O presidente da Quercus garante que a petição, que classifica como “maliciosa”, tem vários erros, desde logo na área a envolver num possível negócio que, nota, não está decidido e necessita de parecer interno favorável para ser concretizado.   

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Mais de 300 pessoas assinaram já uma petição, posta a correr nas últimas horas, contra a possível venda, por parte da Quercus, de cerca de 180 hectares de terrenos no Parque Natural do Tejo Internacional, onde a associação começou a comprar parcelas ainda na década de 1980 para projectos de conservação da natureza. O presidente da Quercus garante que a petição, que classifica como “maliciosa”, tem vários erros, desde logo na área a envolver num possível negócio que, nota, não está decidido e necessita de parecer interno favorável para ser concretizado.   

No abaixo-assinado, posto a circular no site Petição Pública e dirigido à direcção nacional da Quercus, lê-se que “é já do conhecimento público” que esta “se prepara para vender a uma zona de caça quase 180 hectares (cerca de 31 hectares dos quais em compropriedade) de terrenos no Tejo Internacional que foram adquiridos nas décadas de 1980 e 1990, para fins exclusivos de conservação da natureza”. No mesmo texto, argumenta-se ainda que “os terrenos foram adquiridos com fundos comunitários, donativos de centenas de cidadãos nacionais e estrangeiros e de organizações não governamentais de ambiente europeias”, pelo que a sua venda “é uma abominável traição a todos quantos acreditaram na idoneidade da Quercus e depositaram na associação toda a confiança para gerir o seu dinheiro em prol da conservação da natureza, e não da caça. A dignidade não deveria estar à venda!”, lê-se ainda.

Contactado pelo PÚBLICO, João Branco deplorou esta petição cujo objectivo, considera, “é afectar a imagem da Quercus”. Questionado sobre se essa imagem não está a ser prejudicada pela possível venda, o líder desta organização ambientalista explicou que tem sido política da organização aumentar o seu património, como aconteceu na região, com a aquisição de mais uma quinta de 80 hectares, no ano passado, e que o que acontece neste caso é que receberam uma proposta de um proprietário vizinho interessado na aquisição de parcelas dispersas, “encravadas no meio dos terrenos dele”, que no total terão uma área de cerca de cem hectares, e não de 180, como é referido na petição.

João Branco nega também que os terrenos em causa incluam “cerca de 2450 metros de frente de rio (Tejo e seus afluentes)”, como se lê na petição, acusando o autor ou autores da mesma de terem misturado uns “pedaços de verdade” no texto, para lhe darem mais credibilidade. Nota que, nas escarpas, que as há, incluídas nestas propriedade nidificaram, mas não nidificam, espécies com estatuto de conservação desfavorável, mas que o potencial de nidificação da zona está garantido pelo facto de toda ela, incluindo a área já na posse do proprietário vizinho, estar em Rede Natura 2000 e no interior do Parque Natural do Tejo Internacional, em cuja gestão a Quercus participa, numa iniciativa-piloto.   

Necessidades de “liquidez” 

Tendo em conta a importância desta área protegida para a conservação de espécies como a águia-de-bonelli e o abutre-do-egipto (ambas em perigo em Portugal), da cegonha-preta (com estatuto vulnerável), do grifo, do bufo-real e do corvo (as três com estatuto quase ameaçado), os subscritores dizem-se “escandalizados com a situação”, e “pedem aos actuais dirigentes da Quercus para alterarem esta sua decisão a bem da conservação da natureza e em prol da manutenção da confiança dos cidadãos no trabalho das associações de defesa do ambiente”.

João Branco garante, por seu turno, que não há qualquer decisão tomada, e que esta depende sempre de um parecer interno da Quercus, que foi pedido, mas não emitido. O dirigente não revela os montantes em causa, no possível negócio, mas recorda que a organização está a investir em aquisição de outras propriedades e na reabilitação de construções, para projectos de conservação e de turismo de natureza, para as quais “alguma liquidez” é, assume, bem-vinda. A Quercus terá eleições em Março do próximo ano, e João Branco, que diz não ter tomado uma decisão quanto a uma futura recandidatura, associa esta petição a esta proximidade do acto eleitoral.

Já sob liderança de João Branco, a Quercus enfrentou há três anos um momento delicado, com a criação, por parte de alguns elementos históricos da associação, de uma nova organização ambientalista, a Zero. Um deles, Francisco Ferreira, antigo presidente da Quercus, da qual se mantém como sócio, escreveu online, na sua página de Facebook: “A potencial venda de terrenos no Tejo Internacional pela Quercus não é uma notícia inventada. Na altura foi um trabalho de mobilização enorme para se adquirir terrenos cruciais em termos de conservação da natureza, onde também o meu dinheiro foi bem investido e que têm de continuar nas mãos de uma organização não governamental, independentemente da vitória que foi a criação do Parque Natural do Tejo Internacional e o estatuto de alguma protecção que foi assegurado.”

Francisco Ferreira recorda que, desde que deixou de ter um papel activo na Quercus, há três anos, se tem “abstido de comentar a actividade da associação de que foi presidente de 1996 a 2001 e membro da direcção até 2011”. Mas abriu uma excepção para este caso, para insistir que “eventuais dificuldades financeiras não podem pôr em causa esta jóia da coroa da história da Quercus”.