Tensão entre Marcelo e Costa sobe por causa de Tancos

O CDS mantém o Presidente afastado do caso, o PSD diz que não o envolve “até ver”.

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António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa Daniel Rocha

Ao fim de um dia em que o primeiro-ministro receitou menos “ansiedade” ao Presidente da República sobre o caso de Tancos, Marcelo Rebelo de Sousa veio tentar pôr um ponto final sobre o seu alegado grau de conhecimento em torno da operação de recuperação das armas desaparecidas: vincou que não foi informado previamente sobre a operação nem falou a sós com responsáveis da Polícia Judiciária Militar (PJM). Sinal de que há tensão entre São Bento e Belém é que o primeiro-ministro nega os "atritos" com Marcelo, mas o Presidente não responde quando questionado sobre se há "mal-estar" entre os dois.

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Ao fim de um dia em que o primeiro-ministro receitou menos “ansiedade” ao Presidente da República sobre o caso de Tancos, Marcelo Rebelo de Sousa veio tentar pôr um ponto final sobre o seu alegado grau de conhecimento em torno da operação de recuperação das armas desaparecidas: vincou que não foi informado previamente sobre a operação nem falou a sós com responsáveis da Polícia Judiciária Militar (PJM). Sinal de que há tensão entre São Bento e Belém é que o primeiro-ministro nega os "atritos" com Marcelo, mas o Presidente não responde quando questionado sobre se há "mal-estar" entre os dois.

Desde sexta-feira que Marcelo não esconde a sua indignação sobre uma investigação do programa da RTP Sexta às 9 que noticiou que a Presidência da República tinha sido informada sobre a operação de encobrimento da recuperação de material militar desaparecido em Tancos em 2017. Falou de “nebulosa" que estava a ser criada em torno do caso, durante uma visita à Madeira, na sexta-feira, e ao PÚBLICO foi peremptório: “Se pensam que me calam, não me calam”.

Marcelo Rebelo de Sousa dava assim um recado aos que queriam envolver a figura do Presidente no caso. Para o comentador e ex-líder do PSD Marques Mendes a mensagem era dirigida ao executivo, por considerar que, “directa ou indirectamente, o Governo ajudou à festa, ou seja, ajudou a tentar envolver a Presidência”.

No seu espaço de opinião de domingo à noite na SIC, o conselheiro de Estado disse mesmo que há “pequenos atritos” entre Belém e São Bento a propósito deste caso. Essas fricções transpareceram esta segunda-feira. Um dia depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter advertido contra “o uso das Forças Armadas ao serviço de interesses pessoais ou de grupo de jogos de poder”, o primeiro-ministro veio corroborar, assegurando haver "total convergência entre o Governo e o Presidente da República sobre essa matéria". O primeiro-ministro fez suas as palavras do Presidente mas não deixou de lhe dar uma alfinetada: “O senhor Presidente da República, aliás, não se tem cansado em expressar publicamente a sua ansiedade e o Governo, naturalmente, deve ser mais contido em expressar a sua ansiedade, mas [esta] não é menor”.

Quanto aos "atritos" entre os dois órgãos de soberania, o primeiro-ministro desmentiu, alegando que se tratam de "teorias conspirativas bastante absurdas”, já que os dois têm “tido uma posição absolutamente convergente desde o primeiro dia" sobre a matéria. O mesmo já não fez Marcelo Rebelo de Sousa. Ao final do dia, e já depois de a Presidência ter emitido a nota em que Marcelo nega ter sido informado sobre a recuperação das armas, o chefe de Estado disse aos jornalistas não querer "acrescentar mais nada" quando questionado sobre se havia mal-estar na relação com o Governo. 

Incondicionalmente ao lado do Presidente da República posicionou-se o CDS-PP de Assunção Cristas. Não só deu razão a Marcelo contra o uso das Forças Armadas para “jogos de poder”, mas também o secundou na sua declaração ao PÚBLICO de sábado. Questionado sobre a frase “se pensam que me calam, não me calam”, o líder da bancada do CDS, Nuno Magalhães, sublinha que quem “nunca se calou perante a gravidade deste caso, nunca o desvalorizou e nunca o deu por encerrado foi o Presidente da República e, já agora, o CDS também.”

Muito menos taxativo sobre o papel de Marcelo Rebelo de Sousa no caso de Tancos foi o líder do PSD. "Até ver, eu não coloco isso no patamar do Presidente da República", disse Rui Rio, em declarações aos jornalistas, após uma reunião com a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Portugal, no Porto. Sobre "se as Forças Armadas estão ao serviço de jogos de poder", o líder social-democrata lembrou que "para isso é que há a investigação judicial e para isso é que vai haver a comissão parlamentar de inquérito". No fim, acrescentou, o PSD tirará "as conclusões". Nem BE nem PCP comentaram a troca de palavras entre o Presidente e o primeiro-ministro.

Rui Rio respondeu ainda a Marques Mendes que o acusou de ter sido subserviente face ao primeiro-ministro, quando há duas semanas afastou a hipótese de António Costa vir a responder (ainda que por escrito) na comissão de inquérito, defendendo que bastava dar esclarecimentos no plenário. "Eu, falinhas mansas? Fui eu que levantei a questão em Setembro e que fui eu que disse que o primeiro-ministro, até pelo cargo institucional que ocupa - neste caso é este primeiro-ministro, poderia ser outro qualquer - devia responder em plenário que é onde os primeiros-ministros devem responder. Não sei onde é que aqui há falinhas mansas", sustentou. Rio recuou e admite, agora, que o primeiro-ministro pode responder perante uma comissão de inquérito, "numa situação excepcional".

A data de arranque da comissão parlamentar de inquérito proposta pelo CDS é definida nesta terça-feira em conferência de líderes, mas é certo que deverá funcionar durante o processo orçamental em que a maioria das comissões está suspensa. O BE nomeou o deputado João Vasconcelos para a comissão, CDS e o PCP indicam hoje os coordenadores. Pelo PSD a função será exercida pela deputada Berta Cabral, ex-secretária de Estado da Defesa.