Lobby pela Europa
As fronteiras atraem e repelem como poucos elementos. Há quem queira de novo construir muros. Mas haverá sempre quem só queira derrubá-los.
No último texto escrevia como me parecia importante que houvesse uma defesa activa e transnacional da União Europeia, no sentido de defesa de valores como a solidariedade e a lealdade entre nações, a intransigência perante direitos fundamentais, o cosmopolitismo, a tolerância e a paz.
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No último texto escrevia como me parecia importante que houvesse uma defesa activa e transnacional da União Europeia, no sentido de defesa de valores como a solidariedade e a lealdade entre nações, a intransigência perante direitos fundamentais, o cosmopolitismo, a tolerância e a paz.
Se é esta actual União Europeia institucional e económica a mais perfeita e acabada criação, isso será sempre discutível. Mas é inquestionável que a União Europeia estabeleceu na Europa o mais longo período de paz e de estabilidade económica e social da sua história. E assegurou princípios e direitos fundamentais, não apenas formais ou semânticos, como foram os de diversas ditaduras, incluindo a portuguesa, mas reais, aferíveis no funcionamento imaculado das democracias europeias, desde logo nos seus momentos eleitorais, num espaço geográfico e demográfico alargado, que é por si só um rótulo de segurança e de credibilidade. Ao longo dos anos fui conhecendo em diversas geografias muitas pessoas que não sabiam o que era ou onde ficava Portugal (é assim a vida, para mal da nossa soberba imperial...) – mas que, ao perceberem que se situava na Europa, não muito longe de Espanha e de França, descobriram de repente este Portugal. Ou seja, perceberam como viviam e como pensavam os portugueses, porque somos desde sempre europeus, mesmo quando nascidos pelo mundo.
A apetência pela União Europeia, notória hoje como sempre – centenas de milhares de portugueses emigrados nos anos 60 e 70 emigraram para a União Europeia, já agora – justifica-se pela sua identificação com oportunidades económicas, laborais, educativas, sociais. E justifica-se também pelo seu modelo de vida, de quotidiano, de paz social. Justifica-se por quase tudo o que encontramos e reconhecemos na Europa. A motivação pela Europa de um refugiado de guerra afegão ou sírio é a mesma de um académico brasileiro de classe média alta ou de um investidor chinês? Sim e não. E no sim é que reside a identidade e o valor europeu.
A União Europeia teve também o mérito – para mim, é um mérito – de diluir a ideia de fronteira física e política. Uma fronteira significa hoje para as presentes gerações de europeus algo de muito diferente daquilo que era efectivamente uma fronteira para os seus pais e avós. Muitos deles, e os seus próprios pais e avós, morreram afinal em nome das fronteiras na Europa. Há pouco mais de quarenta anos a mulher precisava de autorização do marido para sair de Portugal. Por delitos de opinião ou de pensamento político havia gente impedida de cruzar a fronteira – e impedida de regressar.
As fronteiras atraem e repelem como poucos elementos. Há quem queira de novo construir muros. Mas haverá sempre quem só queira derrubá-los.
PS: O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, quis o juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça do seu governo e este aceitou – como alternativa, dizia o novo presidente, poderia também passar a ser juiz do Supremo Tribunal Federal. O importante era dar-lhe mais relevância pública, portanto, e assim poder beneficiar disso mesmo. É a pior notícia para todos os envolvidos, pelas razões óbvias. Quando mandar prender políticos for visto, em qualquer país do mundo, como o elemento determinante para uma rápida “evolução na carreira” de um juiz ou de um procurador, então está tudo dito.