Antigo guarda de campo de concentração nazi julgado por cumplicidade com massacres
Aos 94 anos, um ex-soldado das SS responde pela morte de centenas de prisioneiros no campo de concentração de Stutthof.
Um tribunal alemão começou a julgar um antigo guarda de um campo de concentração nazi acusado de ser cúmplice na morte de centenas de prisioneiros durante a II Guerra Mundial.
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Um tribunal alemão começou a julgar um antigo guarda de um campo de concentração nazi acusado de ser cúmplice na morte de centenas de prisioneiros durante a II Guerra Mundial.
O homem de 94 anos foi identificado como Johann Rehbogen, um ex-soldado das SS que foi guarda no campo de concentração de Stutthof, perto da cidade de Gdansk, actualmente em território polaco, mas na época ocupada pela Alemanha, entre 1942 e 1944. Foi o primeiro campo de concentração nazi fora da Alemanha. O julgamento ocorre num tribunal regional na cidade de Münster e vai avaliar o grau de cumplicidade que o acusado teve nos crimes cometidos no campo.
A acusação diz que o guarda ajudou a que fossem massacradas centenas de pessoas no Verão de 1944. Em Junho, mais de cem polacos foram mortos com o gás venenoso conhecido como Zyklon B em apenas dois dias. Poucas semanas depois, 77 prisioneiros de guerra soviéticos foram abatidos da mesma forma. Nos meses que se seguiram “várias centenas” de prisioneiros judeus foram mortos de várias formas, dizem os advogados dos sobreviventes e familiares.
Para além da utilização do gás, os oficiais nazis usaram outros métodos no campo de Stutthof, como “a injecção de gasolina e fenol directamente nos corações” das vítimas, segundo a acusação. Outros prisioneiros, assim que apresentavam sinais de que já não conseguiam trabalhar, eram baleados na nuca enquanto faziam exames médicos.
Ao todo, acredita-se que no período em que o campo de Stutthof esteve em funcionamento, entre Setembro de 1939 e Maio de 1945, mais de 60 mil pessoas lá tenham morrido.
O réu admite que foi guarda no campo, mas diz que nunca soube das atrocidades cometidas pelas SS contra os prisioneiros. Porém, o exercício de qualquer função num campo de concentração poderá ser suficiente para que seja considerado cúmplice. “As acusações pressupõem que [o réu] deu auxílio aos homicídios sistemáticos num campo de concentração ao fazer parte do pessoal responsável pelo campo”, explicou à Deutsche Welle o director do Gabinete Central de Investigação de Crimes Nazis de Ludwigsburg, Jens Rommel.
Na altura dos crimes de que é acusado, Rehboggen ainda não tinha 21 anos, portanto o julgamento ocorre num tribunal de menores. A pena para um adulto pode ir até 15 anos de prisão, mas dada a fragilidade da sua saúde – desloca-se de cadeira de rodas – é improvável que a venha a cumprir.
Rehboggen foi capturado pelo Exército americano pouco depois do final da guerra, mas foi reintegrado na vida civil, tendo trabalhado durante décadas como arquitecto paisagista para a administração do estado federado da Renânia do Norte-Vestfália. Foi identificado através da análise de documentos encontrados no campo de concentração e começou a ser interrogado pela polícia no ano passado.
Alguns familiares de vítimas do campo de Stutthof vão assistir às sessões do julgamento. Ben Cohen, neto de uma sobrevivente do Holocausto, disse à BBC que é “muito poderoso” para a avó perceber que os tribunais alemães continuam sensíveis aos crimes cometidos pelos nazis. “Ela conseguir testemunhar parte deste processo, mesmo ao longe, dá-lhe um sentimento de paz”, disse Cohen.