Eleições no Hesse são referendo à "grande coligação" de Merkel

Tanto a CDU como o SPD, que integram o Governo alemão, vão sofrer perdas. As consequências dependem da sua dimensão.

Foto
Angela Merkel em campanha com o primeiro-ministro do Hesse, Volker Bouffier Ralph Orlowski/REUTERS

Os partidos que formam o Governo alemão repetem que as eleições no estado-federado do Hesse deste domingo não devem ser vistas como um referendo à “grande coligação” que está no poder no Governo federal. Mas observadores políticos dizem que é justamente isso que ela é, e traz o risco de precipitar o fim desta coligação entre o centro-direita e o centro-esquerda. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os partidos que formam o Governo alemão repetem que as eleições no estado-federado do Hesse deste domingo não devem ser vistas como um referendo à “grande coligação” que está no poder no Governo federal. Mas observadores políticos dizem que é justamente isso que ela é, e traz o risco de precipitar o fim desta coligação entre o centro-direita e o centro-esquerda. 

A própria secretária-geral da União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler Angela Merkel, mencionou directamente essa hipótese. É possível uma cisão na coligação, e isto depende “sobretudo do desenvolvimento das dinâmicas nos partidos”, alertou no final da semana Annegret Kramp-Karrenbauer (nomeada pelas suas iniciais na imprensa alemã e  conhecida como “mini-Merkel” na imprensa estrangeira). “É preciso dizer isso muito abertamente.”

Esta afirmação, numa acção de campanha em Frankfurt, foi vista como dirigida tanto ao seu próprio campo (União CDU/CSU) como ao Partido Social-Democrata (SPD). Mas a frase seguinte foi para o SPD: “Se este Governo cair, haverá eleições antecipadas”, garantiu. A outra hipótese considerada credível – uma tentativa de renegociar uma chamada coligação Jamaica, com CDU, Verdes e Liberais (as cores dos partidos são as cores da bandeira jamaicana) – não resultaria: Kramp-Karrenbauer nota que a grande subida dos Verdes nas sondagens nacionais, onde ultrapassaram já o SPD e surgem como segundo partido, faria com que preferissem capitalizar nesta subida em eleições e não juntar-se a um Governo. Continua a não ser considerada a hipótese de um executivo minoritário.

No SPD a líder, Andrea Nahles, disse que esta eleição do Hesse não deveria ser vista como decisiva. Mas quando questionada sobre a possibilidade de manutenção da coligação depois da eleição, já foi menos assertiva: “Não posso garantir nada. Mas se tivesse de apostar, diria que sim”.

Pouco depois, uma representante da ala esquerda do SPD veio propor, em declarações à revista Focus, que o partido sujeitasse a referendo a permanência na grande coligação. O acordo de coligação previa uma avaliação a meio do mandato, mas para Hilde Mattheis, isso é demasiado tarde já que em causa está, argumenta, “se o SPD sobrevive”. 

Merkel em campanha

As tomadas de posição da campanha podem ter efeitos perversos: a revista britânica The Economist lembra que Merkel participou muito na campanha para tentar evitar um desastre eleitoral, mas a sua presença pode levar ainda mais eleitores a ver a votação como ligada ao Governo em Berlim, que é cada vez menos popular, afectado por uma discussão sem fim sobre refugiados e migrações entre os dois partidos da União, a CDU e o seu gémeo bávaro, a CSU. O SPD pode querer sair da coligação, mas “os eleitores, que já estão irritados, ficariam exasperados com uma queda do Governo”. O partido seria punido.

Que vai ser uma noite eleitoral de más notícias para a CDU e o SPD, isso parece claro. Mas a dimensão do problema dependerá agora de dois factores: quanto caem, na votação, os dois principais partidos, CDU e SPD, e quem será o novo governador do estado federado (e com que coligação). Segundo as sondagens, a actual coligação entre a CDU e os Verdes não teria maioria, apesar da subida dos ecologistas, parceiro minoritário.

Segundo as sondagens, a CDU desce dez pontos percentuais e estava com 27% nas últimas sondagens, o SPD com uma descida de oito pontos percentuais ficava-se pelos 22%, e os Verdes com 21%. O partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) entrará pela primeira vez no parlamento do Hesse, com 13%, e passará a ter representação nos 16 estados federados.

Die Linke (A Esquerda) tinha projectados 8% e o Partido Liberal-Democrata (FDP) 7%. Os resultados mais prováveis são coligações com três partidos. Poderia ser uma coligação Jamaica, com os liberais a juntarem-se à actual coligação CDU e Verdes, o que salvaria a face à CDU, para quem uma queda do governador Volker Bouffier, aliado de Merkel, seria especialmente complicado; uma coligação “semáforo” (espelhando as cores dos partidos, vermelho-verde-amarelo) com SPD, Verdes e liberais; ou uma coligação à esquerda com SPD, Verdes e Die Linke.

Os Verdes têm declinado fazer campanha com base em cenários de coligação. O seu candidato estrela é Tarek al-Wazir, o actual ministro da Economia. “Primeiro, precisamos de um resultado. Depois veremos o que pode funcionar em termos matemáticos, e no que diz respeito a políticas”, disse Wazir.

Nas ruas, os seus cartazes apresentam-no como a alternativa à coligação que ninguém parece querer: “Tarek em vez de GroKo [grande coligação]”.