O Rochedo: um restaurante que mostra a outra versão de Priscos
Produtos frescos e com evidentes preocupações de origem e qualidade num restaurante que desafia critérios e convenções.
O nome de Priscos põe-nos em respeito. A paróquia que deu a conhecer uma das mais fascinantes figuras da culinária nacional não guarda memória do célebre abade ou das suas receitas, mas basta a evocação do nome para espevitar o palato, criar curiosidade e expectativa gastronómica.
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O nome de Priscos põe-nos em respeito. A paróquia que deu a conhecer uma das mais fascinantes figuras da culinária nacional não guarda memória do célebre abade ou das suas receitas, mas basta a evocação do nome para espevitar o palato, criar curiosidade e expectativa gastronómica.
É em Priscos que está O Rochedo, uma casa de feições modernas, que oferece produtos frescos e com evidentes preocupações de origem e qualidade. Duas salas amplas (uma em cave), bem postas e acolhedoras e apelativo contexto de restaurante, se bem que a casa se apresente também como marisqueira e snack bar.
E percebe-se logo à primeira impressão que por trás dessa apelativa face de restaurante há toda a alma, espírito e dinâmica de snack. Nem rasto ou memória do abade ou das suas elaboradas receitas, a oferta privilegia a intervenção culinária mínima e a partir de mariscos, peixes e carnes grelhadas.
A cozinha de tacho fica-se pelo arroz de mariscos e a caldeirada de peixes, sendo que assados ou outros pratos da culinária regional também podem aparecer em dias festivos ou por encomenda antecipada. Há, no entanto, os arrozes caldosos que acompanham a generalidade dos pratos para comprovar a competência nos fogões e as aptidões culinárias da casa. Perfeitos, feitos ao momento e servidos em tachinhos de ferro.
Pouco convencional é também a carta. Uma pequena encadernação em papel brilhante e luxuoso, que começa pelas sobremesas. Continua depois pelas carnes, peixes, mariscos e alonga-se nas propostas de vinhos, que, mesmo sendo extensas, em pouco reflectem a grande variedade que se vê exposta por ambas as salas ao jeito de decoração.
É o caso da sala principal onde, logo à entrada e por cima da convidativa vitrina frigorífica com peixes e mariscos, se insinua grande variedade de champanhes, incluindo alguns dos mais conhecidos e reputados rótulos.
A primeira evidência é a de que há matéria e qualidade, mesmo que ao arrepio das convenções e critério. Qualidade como a do “Presunto” (5€), que foi servido logo de início, em quantidade generosa de fatias em corte grosseiro à moda tradicional minhota, em contraste com o critério dos “Queijinhos” (2€) que o complementavam. Flamengo do tipo mais básico em cubinhos oleados com azeite e orégãos.
Os pescados, informaram, são diariamente escolhidos nas lotas de Póvoa de Varzim e/ou Angeiras, como atesta a frescura luminosa de quanto se dá a mostrar na vitrina frigorífica. Delicioso o camarão da costa, que literalmente se devorou enquanto eram preparados os filetes de pescada. Cozedura mínima e sabor a maresia, mesmo que tenha havido o cuidado de informar que eram da pescaria da véspera e não o tenham incluído na conta final.
Primorosos os “Filetes de pescada dourada” (16€), em três suculentos nacos do lombo do peixe e fritura impecável e escorrida em fina cobertura de ovo e farinha. Acompanharam com batata frita — de palitos escorridos cortados na hora —, tachinho de arroz branco e seco, e vistosa salada com tomate, alfaces e pepino.
Esgotado o peixe-galo frito, foi proposta a alternativa em rodovalho (22€). Peixe em tiras de fritura exemplar (exterior crocante e carne suculenta), a convencer logo pelos aromas gulosos mas com o complemento do arroz malandro (em tachinho, claro!) de tomate com grelos e ovas de peixe. Cozinha pura!
Para lá da variedade de mariscos (sapateira, amêijoas, lagosta, lavagante e camarões), com preços a variar por quilo e consoante as preparações, a oferta de peixes como robalo, rodovalho, cherne ou tamboril alarga-se ainda aos bacalhaus — à lagareiro e recheado (frito com cebolada) — e polvo.
Quanto às carnes, do lombo ou da vazia, são propostas em posta (12,50€), bife à Rochedo (12,50€), costeletão (14€). Optámos pelo “Naco de boi” (13/26€), que chegou à mesa cortado em tiras largas de textura macia e aveludada, carne de cor púrpura carregada, suculenta e sabor concentrado. Um privilégio, tanto pela qualidade da carne como pelo rigor de confecção. Acompanhou com batata a murro com azeite e alho e feijão verde cozido.
Oferta de sobremesas corriqueira, com tarte de maçã aceitável e o pudim (4€) que é bem uma outra versão do Abade de Priscos.
Em espaço amplo, com decoração e apresentação modernas, mobiliário confortável e baixela atractiva que lhe conferem ares de restaurante fidalgo, o Rochedo não esconde o espírito, a alma e a dinâmica de snack , que lhe marcam o carácter, do serviço à oferta culinária. E, a par da frescura e qualidade dos produtos, essa é a sua marca identitária.