Não vale tudo!
Nada do que vemos indicia, em Bolsonaro, um caminho minimamente aceitável numa sociedade moderna. É isso que estão dispostos a aceitar?
Amigos brasileiros, provavelmente já não se recordam de me ler fazer política; de me ouvir rasgar o status quo. Alguns de vós, cuja proximidade é mais recente, talvez nem saibam do que estou a falar; não somos desse tempo. A verdade é que, em determinada altura, também eu diminuí a intervenção política, para gerir a sanidade mental que sentia fugir com tanta absurdidade. Mas há momentos que não nos podem deixar indiferente; e este é, certamente, um deles.
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Amigos brasileiros, provavelmente já não se recordam de me ler fazer política; de me ouvir rasgar o status quo. Alguns de vós, cuja proximidade é mais recente, talvez nem saibam do que estou a falar; não somos desse tempo. A verdade é que, em determinada altura, também eu diminuí a intervenção política, para gerir a sanidade mental que sentia fugir com tanta absurdidade. Mas há momentos que não nos podem deixar indiferente; e este é, certamente, um deles.
Domingo é dia de eleições, e o fim desejado é o mesmo para todos, certamente: um Brasil mais desenvolvido. Podia facilmente explicar-vos por que razão é imprescindível e inadiável votar no próximo domingo. Poderia ainda dar-vos uma argumentação mais elaborada com as razões para votarem Haddad. Mas reconheço-vos a inteligência que a mim atribuo para não me dar a ares condescendentes e paternalistas — vocês sabem o que fazem.
Mas há algo que não consigo compreender. Décadas de evolução de convivência humana, humanitária e solidária estão a dias da sarjeta. Nada do que vemos indicia, em Bolsonaro, um caminho minimamente aceitável numa sociedade moderna. É isso que estão dispostos a aceitar? Admitir um retrocesso civilizacional para tentar avançar um país — ou deverei dizer sanear?
A liberdade democrática existe para escolher os caminhos que pretendemos seguir, não para cortar as pernas de quem quer caminhar. Não se queima uma floresta para que não nos roubem uma árvore; não se destrói uma sociedade para lhe impor outra por cima.
Dir-me-ão que quando a maior parte das árvores está podre, melhor será replantar; mas a que custo? Com que vidas? Que daqui a quatro anos tudo estará melhor e poderão então voltar à decência — que o que pedem agora é a indecência que actua, e não a inocência que pactua. Sim, a história mostra-nos que essa estratégia funcionou sempre bem no passado, não foi?
Que o vosso voto seja então histórico, é o que desejo; mas que na história dos tempos não o relembrem mais tarde com a tristeza dos meios que para tal fim escolheram. Não vale tudo!