Julieta: figos-da-Índia em terra de vinho
São plantas alinhadas em fileiras, frutos "fantásticos" vermelhos e laranja que são transformados em chutneys e compotas. Não estamos na Colômbia. Bem-vindos ao Ribatejo.
Estamos habituados a ver as figueiras-da-Índia (também conhecidas como piteiras, figueiras-do-diabo ou tabaibo, como são chamadas na Madeira) nascerem selvagens à beira das estradas. Não é tão comum ver-se um pomar num terreno inclinado, a estender-se até uma casa, com as plantas alinhadas em fileiras. Mas é isso, precisamente, que vemos à nossa frente quando o carro de José António e Patrícia pára à beira de um terreno onde antes crescia vinha.
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Estamos habituados a ver as figueiras-da-Índia (também conhecidas como piteiras, figueiras-do-diabo ou tabaibo, como são chamadas na Madeira) nascerem selvagens à beira das estradas. Não é tão comum ver-se um pomar num terreno inclinado, a estender-se até uma casa, com as plantas alinhadas em fileiras. Mas é isso, precisamente, que vemos à nossa frente quando o carro de José António e Patrícia pára à beira de um terreno onde antes crescia vinha.
Foi em 2013 que plantaram, junto à Arruda dos Vinhos, no Ribatejo, o primeiro hectare de figueiras-da-Índia e este ano foi o primeiro em que começaram a pôr estes frutos no mercado já com a marca própria: Julieta, o nome da avó de Patrícia e Ana Catarina Ponte, com o qual comercializam não só os frutos em cru, como transformados em chutneys e compotas.
Para fazer o pomar, Patrícia e José António decidiram importar plantas da Sicília, um dos locais do Mediterrâneo onde esta planta vinda do México na altura dos Descobrimentos mais se espalhou e é hoje um fruto extremamente popular. Em Portugal, apesar de o clima ser também favorável, os figos-da-Índia nunca se banalizaram como fruta e eram muitas vezes usados para alimentação dos animais.
Hoje as coisas começam a mudar, nos últimos anos tem surgido um número crescente de produtores e nos super e hipermercados já não se vêem apenas os figos-da-Índia caros que eram importados da Colômbia mas também os de produção nacional (alguns identificados como “figos do Alentejo”).
O casal foi aprendendo a lidar com estas plantas que, diz José António, são bastante resistentes (este ano aguentaram melhor o Verão do que a vinha) e dão-se bem com as grandes amplitudes térmicas desta região. “É um fruto fantástico em termos nutricionais”, acrescenta Patrícia. “Não tem muito açúcar e tem uma grande quantidade de fibras e antioxidantes. Não é muito intenso no sabor, mas é fresco e muito agradável.”
No México, de onde a planta é originária, come-se a palma, mas o aproveitamento desta implicaria alterar a forma de produção, porque para ter as palmas jovens e tenras é preciso abdicar de ter o fruto, que nasce nas bordas dessas palmas, em três variedades diferentes, a branca, a laranja e a vermelha.
É a cor intensa dos frutos vermelhos e laranja que impressiona quando chegamos a uma das salas do Palácio do Morgado, no centro da Arruda dos Vinhos, onde Patrícia e José António prepararam um pequeno-almoço de apresentação dos produtos. Dois jarros de sumo muito coloridos dominam a mesa e o sabor refrescante e não demasiado doce de ambos é muito surpreendente — leva-nos mesmo a perguntar por que é que nunca se popularizou entre nós o sumo de figo-da-Índia (e esperar que isso aconteça agora).
Há também os frutos frescos, cortados em fatias (a única coisa a que temos que ter atenção quando os descascamos é aos picos mais fininhos, praticamente invisíveis) e, claro, os doces Julieta, apresentados como existindo “desde 1930” — uma “brincadeira”, explica Patrícia, com a data de nascimento da avó. Tudo começou há uns anos, porque nos pomares da família havia várias frutas que, não sendo sempre todas vendidas, corriam o risco de se estragar. “Nós, como gostamos de fazer coisas, começámos a aproveitá-las em doces e chutneys, que tiveram logo muita aceitação.”
Têm desde doces mais tradicionais como a marmelada ou a uvada, feita com o mosto da uva e com maçã, ou o doce de tomate, como outros diferentes, como o de physalis, o de figo com lima ou o doce de uva Periquita. O figo-da-Índia é aproveitado com maçã e também num molho doce com rum e lima. Nos chutneys, têm por exemplo pimento, tomate e tomilho, abacaxi com malagueta ou figos, chalotas e pimenta preta.
O que é que faz a diferença destes produtos? “Connosco, não é descascar os frutos, pô-los dentro de uma panela e no fim de estar cozinhado, pôr a varinha mágica”, descreve Patrícia, sobre o trabalho que faz com a irmã. “Preferimos que se perceba a lasca, a consistência do fruto, cortamos e lascamos as ameixas e os alperces, cortamos o tomate aos cubinhos, raramente pomos uma varinha mágica, acho que isso faz a diferença porque há ali uma série de texturas e de sabores que se perdem quando fica em puré.”
Quem quiser provar toda a gama — e descobrir o potencial do figo-da-Índia — pode comprá-los em algumas lojas (Arruda dos Vinhos, Azeitão, Lisboa) ou contactar Patrícia e Ana Catarina pelo Facebook dos doces Julieta.