Azeredo Lopes não será ouvido tão cedo sobre Tancos
Ex-ministro da Defesa disponibilizou-se para prestar esclarecimentos ao Ministério Público, mas investigadores consideram prioritário apurar com mais detalhe circunstâncias do achamento das armas.
Os investigadores do achamento das armas de Tancos não consideram prioritário ouvir já o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes. Ao que o PÚBLICO apurou, apesar de o seu ex-chefe de gabinete, o tenente-general Martins Pereira, ter contado esta quarta-feira às autoridades que informou o ministro do memorando que revela a encenação da descoberta do material militar, e de na sequência disso Azeredo Lopes se ter disponibilizado para ser ouvido pelo Ministério Público, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal não tenciona chamar tão cedo o antigo governante.
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Os investigadores do achamento das armas de Tancos não consideram prioritário ouvir já o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes. Ao que o PÚBLICO apurou, apesar de o seu ex-chefe de gabinete, o tenente-general Martins Pereira, ter contado esta quarta-feira às autoridades que informou o ministro do memorando que revela a encenação da descoberta do material militar, e de na sequência disso Azeredo Lopes se ter disponibilizado para ser ouvido pelo Ministério Público, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal não tenciona chamar tão cedo o antigo governante.
Antes disso, vai ser preciso determinar com mais detalhe as circunstâncias do achamento das armas – sendo certo que dois dos arguidos da GNR que se tinham remetido inicialmente ao silêncio perante o juiz de instrução criminal João Bártolo já mudaram de ideias, tendo o seu advogado requerido que possam voltar a ser ouvidos pelo magistrado.
Seja como for, a Procuradoria-Geral da República já informou esta quinta-feira que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal "não tem, neste momento, qualquer diligência agendada" no âmbito da chamada Operação Húbris.
Foi há menos de um ano que o director da Polícia Judiciária Militar e o seu subordinado Vasco Brazão se reuniram com o chefe de gabinete de Azeredo Lopes no Ministério da Defesa para lhe entregarem o dito memorando. Perante eles, o tenente-general ligou via Whatsapp para o ministro, que estava fora, e informou-o do conteúdo do documento, contou ontem o próprio aos procuradores titulares do processo em que se investiga o reaparecimento do material militar. Ainda segundo o relato de Martins Pereira, que foi ouvido na qualidade de testemunha, no dia seguinte falou pessoalmente com o governante sobre a questão, tendo ficado decidido não lhe dar relevância. Resta saber se Azeredo Lopes informou o primeiro-ministro António Costa.
Esta quinta-feira, o chefe do Governo veio expressar o seu desejo de que as autoridades competentes esclareçam cabalmente o que se passou em Tancos, “com a maior brevidade possível, responsabilizando os autores do furto e os seus eventuais cúmplices e encobridores, sejam quem forem”. Um discurso algo diferente daquele que teve à margem da cerimónia das comemorações do 5 de Outubro, altura em que ainda defendia a manutenção de Azeredo Lopes no Governo e apontava baterias contra os investigadores de Tancos.
“Falta esclarecer muita coisa e, desde logo, a captura dos ladrões. Devemos confiar que a justiça faça o seu trabalho e os ladrões propriamente ditos sejam presos”, declarou então. Para acrescentar ainda que quer Azeredo Lopes quer o seu chefe de gabinete já tinham desmentido de forma categórica terem conhecimento da encenação a propósito do reaparecimento do material.
Só que, entretanto, o cenário alterou-se: o ministro que tentou segurar a todo o custo acabou por demitir-se e o seu ex-chefe de gabinete veio assumir que sempre entregou o memorando ao ministro, ao contrário do que tinha afirmado inicialmente.