Game Boy, a consola portátil da partilha fácil

Apesar de nunca ter tido um Game Boy, ele ocupa um lugar nas minhas memórias de criança e juventude. E a imaterialidade dos jogos persiste na minha memória, como imagino acontecer com muitas outras pessoas.

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Hello I'm Nik/Unsplash

Nunca tive um Game Boy, mas joguei bastante. Tinha outra consola, mas que nem por isso a substituía. Aquela maquineta branca era diferente por vários motivos, especialmente por ser portátil. Isto foi revolucionário. Se nas outras consolas emprestávamos jogos, nesta plataforma portátil podíamos emprestar a própria consola com mais facilidade.

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Nunca tive um Game Boy, mas joguei bastante. Tinha outra consola, mas que nem por isso a substituía. Aquela maquineta branca era diferente por vários motivos, especialmente por ser portátil. Isto foi revolucionário. Se nas outras consolas emprestávamos jogos, nesta plataforma portátil podíamos emprestar a própria consola com mais facilidade.

Lembro-me de jogar no Game Boy do vizinho, que por sinal lhe era emprestada regularmente por um primo. Numa semana tive a sorte de mo emprestarem. Estávamos em inícios dos anos 90 e foi brutal. Aquela consola, por ser mais barata e portátil, permitia este tipo de sociabilização. Podíamos partilhar jogos e consolas. Podíamos estar todos a jogar no mesmo espaço com uma que ia rodando por todos ou jogar com várias ao mesmo tempo. Por não ser preciso televisão, não tínhamos de estar em casa. Porque nessa altura a TV era um equipamento sagrado, e nós longe de sermos os seus utilizadores prioritários. Quem mandava na televisão eram os pais. Nós só usávamos exclusivamente se houvesse uma abertura.

O Game Boy permitia ser usado em modo multijogador, desde que tivéssemos o jogo certo para isso e o cabo adequado. Um desses jogos era o Pokemon, isto 20 anos antes do sucesso do Pokemon Go! — embora, na versão do Game Boy, o principal objectivo fosse a troca de itens entre jogadores. No meu caso só tínhamos mesmo um Game Boy, que íamos partilhando e alternando. Era outra forma de jogar com vários jogadores, mas igualmente social. Com o Game Boy vinha o Tetris, um mega sucesso de origem russa que a Nintendo soube aproveitar para alargar públicos. Foi a fusão perfeita. Ainda hoje o Tetris influencia imensos jogos, incluindo jogos de tabuleiro modernos como um que acabou de ser lançado sobre as festas populares portuguesas chamado Arraial.

O Game Boy não foi a primeira consola portátil, mas foi a que mais sucesso teve. Era a mais simples, acessível, portátil e que menos pilhas consumia. Bastavam quatro pilhas AA. Tinha apenas duas cores quando foi lançado, em 1989, nos EUA e no Japão. Foi só em outubro de 1998 que ganhou mais cores no ecrã, com o lançamento do Game Boy Color, recebendo assim um novo impulso. Faz agora 20 anos. Ao longo da sua história foram saindo mais versões, provando o seu sucesso e capacidade de adaptação. Saíram consolas mais pequenas como o Game Boy Pocket, em 1996, e o Game Boy Light, em 1998, que permitia jogar em condições de luz mais reduzidas. Podíamos também adicionar periféricos e acessórios, tais como uma câmara e a impressora, que permitiam fazer da consola uma máquina fotográfica digital a preto e branco com a devida capacidade de impressão. Nessa altura, a fotografia digital estava longe de ser acessível e universalizal. Com o acessório do Super Game Boy podíamos também ligá-lo à televisão através da Super Nintendo. 

Apesar de nunca ter tido um Game Boy, ele ocupa um lugar nas minhas memórias de criança e juventude. E a imaterialidade dos jogos persiste na minha memória, como imagino acontecer com muitas outras pessoas. A própria materialidade do Game Boy ficava, por vezes, aquém dos concorrentes na dimensão gráfica, mas compensava com a facilidade, flexibilidade, interactividade, preço, robustez e oferta de jogos. Parecia uma consola feita para nós. Não tínhamos de ter grandes cuidados para a jogar. Era simples e divertido.