Cem anos sem (e com) Amadeo, entre Espinho, Paris e Amarante
Efeméride vai ser assinalada nas três cidades com novos livros, exposições, concertos e encontros em volta da figura e da obra do pintor modernista desaparecido precocemente com apenas 30 anos.
Amadeo de Souza-Cardoso morreu faz esta quinta-feira um século, em Espinho, com apenas 30 anos, vitimado pela epidemia de pneumónica. A data vai ser evocada pela câmara local com a inauguração de uma exposição colectiva de pintura inspirada na obra do artista que nascera no lugar de Manhufe, numa freguesia de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Também esta autarquia não esquece a efeméride e aproveita-a para lançar um ciclo de actividades a decorrer ao longo de um ano. E a completar a trilogia das terras mais relevantes na curta vida do artista, Paris vai acolher em Dezembro, por iniciativa da Fundação Gulbenkian, um encontro precisamente destinado a abordar “as cidades de Amadeo”.
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Amadeo de Souza-Cardoso morreu faz esta quinta-feira um século, em Espinho, com apenas 30 anos, vitimado pela epidemia de pneumónica. A data vai ser evocada pela câmara local com a inauguração de uma exposição colectiva de pintura inspirada na obra do artista que nascera no lugar de Manhufe, numa freguesia de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Também esta autarquia não esquece a efeméride e aproveita-a para lançar um ciclo de actividades a decorrer ao longo de um ano. E a completar a trilogia das terras mais relevantes na curta vida do artista, Paris vai acolher em Dezembro, por iniciativa da Fundação Gulbenkian, um encontro precisamente destinado a abordar “as cidades de Amadeo”.
Aquele que é unanimemente considerado a principal figura do modernismo português, e cuja obra “rivalizou” com artistas seus contemporâneos, como Modigliani e Brancusi, Picasso e Malevitch, mas também Almada Negreiros e Eduardo Viana, tem sido ultimamente alvo de uma revalorização no mundo da arte, principalmente na sequência das duas grandes exposições que a Fundação Gulbenkian – cuja colecção detém a parte maior das suas criações – promoveu, primeiro em Lisboa (Diálogo de Vanguardas, em 2006), e mais recentemente em Paris (Retrospectiva no Grand Palais, em 2016).
Mas Amarante é a cidade que mais tem aproveitado a circunstância de ser a terra natal do pintor de Manhufe, muito também por via das actividades do museu municipal que tem precisamente o nome de Amadeo de Souza-Cardoso, e que é, a seguir à Gulbenkian, a instituição que detém a maior colecção de obras do artista, fundamentalmente constituída a partir de doações da família.
É pois em Amarante que esta quinta-feira se centra o programa mais vasto da comemoração do centenário, que abre com o lançamento, ao princípio da tarde, no atelier do pintor na Casa do Ribeiro, em Manhufe – que entretanto foi recuperada e transformada em casa de turismo de habitação – do livro Amadeo, Vida e Arte, que foi a tese de doutoramento, concluída em 2016, do historiador de arte Luís Pimenta de Castro Damásio.
Edição da própria autarquia amarantina, Amadeo, Vida e Arte contou com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian e do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
“Até ao momento, em toda a historiografia biográfica de Amadeo, apenas foram estudados de forma sistémica os últimos 12 anos da sua vida”, lembra Luís Damásio, que antecipou para o PÚBLICO as linhas gerais da apresentação do seu trabalho em Manhufe.
Casado com uma sobrinha-neta de Amadeo, Luís Damásio teve acesso privilegiado a documentos e testemunhos familiares do artista, o que lhe permitiu reconstituir “o hiato de 18 anos da sua vida e obra, período desconhecido” entre a data do seu nascimento, em 1887, e o ano de 1905, em que “fugazmente frequentava a Academia de Belas-Artes, em Lisboa”. Ou seja, até à edição deste livro, desconhecia-se “mais de metade da vida de Amadeo”, reclama o historiador, que na sua tese reconstitui “um contexto familiar católico, conservador, monárquico e, não obstante, empreendedor, assim como um território natal saturado de ruralidade, [que] geraram em Amadeo uma tensão positiva que não obstruiu, antes facilitou, harmonizando contradições e paradoxos, a emergência de um vanguardista projectado para além do seu tempo”.
Já em Amarante, ao final da tarde, no salão nobre dos paços do concelho, a autarquia apresenta as linhas gerais do programa de um ano de actividades, mas também o projecto de ampliação do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (MMASC), de autoria da arquitecta Andrea Soutinho.
A jornada terminará, no próprio museu, com um concerto na ala que guarda as mais de três dezenas de obras de Amadeo que integram a colecção que ao longo das últimas décadas foi reunida no museu dirigido pelo historiador, e seu director, António Cardoso.
Na lista de actividades promovidas pela Câmara de Amarante está, no dia 10 de Novembro, o lançamento de outra publicação dedicada a Amadeo, e que já se encontra nas livrarias desde o dia 12 de Outubro: Amadeo, a Vida e Obra entre Amarante e Paris é outra biografia, mas esta em registo de banda desenhada, de autoria de Jorge Pinto (texto) e Eduardo Viana (desenho), numa edição da Desassossego.
Ainda no corrente ano, a companhia Filandorra/Teatro do Nordeste faz a 14 de Novembro a estreia da peça Amadeo e o Mundo às Cores, a partir do texto de José Jorge Letria.
Ao longo de 2019, Amarante vai acolher um seminário internacional; vai dedicar a 4.ª edição do festival Mimo (26 a 28 de Julho) a Amadeo; e o MMASC não só promete reforçar o núcleo expositivo dedicado ao artista como vai promover, a encerrar o ano do centenário, no dia 26 de Outubro, a 12.ª edição do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso.
Cem artistas em Espinho
Em Espinho, o Fórum de Arte e Cultura (FACE) inaugura também nesta quinta-feira, pelas 18h00, uma exposição com obras de uma centena de artistas convidados a homenagear, com uma obra própria, o legado do pintor modernista. Entre os convidados pela autarquia para o efeito estão nomes como Álvaro Siza, Manuel Cargaleiro, Joana Vasconcelos, Júlio Resende e Nadir Afonso, mas também Mário Bismarck, Ana Maria Pintora, António Carmo e Norberto Nunes
"Amadeo de Souza-Cardoso teve ao longo da sua vida uma forte presença em Espinho e quisemos assinalar essa ligação com um conjunto de iniciativas entre as quais se destaca esta exposição, que reúne 100 obras de artistas consagrados e emergentes – umas que esses criadores já tinham concebido por sua iniciativa e outras que produziram agora especificamente para atender ao nosso pedido", disse à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Espinho, Joaquim Pinto Moreira.
A inauguração da mostra – que integra também dois originais de Amadeo "cedidos para o efeito por familiares do artista" – vai incluir uma actuação de Fernando Tordo, que aí interpretará o tema Amadeo, lançado em 1997 no álbum Peninsular. A exposição vai ficar patente no FACE até 15 de Dezembro.
Quatro dias antes, em Paris, a delegação da Gulbenkian promove o encontro Villes d’Amadeo, comissariado pela historiadora de arte Marta Soares, e que contará com a participação de Helena de Freitas, Béatrice Joyeux-Prunel, Maria Celeste Natário e Egídia Souto.
“Paris é um lugar incontornável da carreira de Amadeo e uma cidade mítica do modernismo. Ao revisitar a obra de Amadeo, serão indagadas apropriações da máscara africana e abordadas as relações com Paris, incidindo especialmente nos contextos dos salões parisienses. Por fim, far-se-á um balanço do ciclo Cidades de Amadeo, na expectativa de contribuir para o aprofundamento da discussão em torno de Amadeo de Souza-Cardoso e das narrativas do(s) modernismo(s)”, explica a Gulbenkian na apresentação da iniciativa.