Sánchez fala no "interesse de Espanha" para continuar a vender armas à Arábia Saudita
Primeiro-ministro espanhol condenou "sem reservas" o assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, em Istambul, mas não vai seguir apelo da Alemanha para boicotar venda de armamento à Arábia Saudita.
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, evocou nesta quarta-feira, no Parlamento, o “interesse de Espanha” para justificar a decisão de manter a venda de armas à Arábia Saudita, depois de a Alemanha ter apelado a um boicote ao reino como retaliação à morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita na cidade turca de Istambul.
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O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, evocou nesta quarta-feira, no Parlamento, o “interesse de Espanha” para justificar a decisão de manter a venda de armas à Arábia Saudita, depois de a Alemanha ter apelado a um boicote ao reino como retaliação à morte do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita na cidade turca de Istambul.
Chamado ao Congresso espanhol para discutir um eventual boicote à venda de armas à Arábia Saudita, que é defendido pelo Podemos e pelos independentistas catalães, cujo apoio sustenta o Governo socialista, Sánchez condenou “sem reservas” o assassínio do jornalista saudita na Turquia e exigiu uma investigação para que “todo o peso da lei caia sobre os responsáveis deste terrível crime”.
No entanto, Sánchez pretende “conciliar os interesses” e actuar “com responsabilidade", dando “prioridade à gestão pública”. Referindo que os contratos com Riade foram assinados pelo Governo anterior, chefiado Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), o primeiro-ministro espanhol apelou à “segurança jurídica”.
Um desses contratos diz respeito à construção de cinco corvetas nos estaleiros da empresa Navantia, em Cádis, cuja venda à Arábia Saudita vai render aos cofres de Espanha 1,8 mil milhões de euros. Sánchez não referiu especificamente este negócio, mas garantiu que a sua obrigação é “defender os interesses estratégicos de Espanha, que estão situados em zonas muito afectadas pelo drama do desemprego” – a trabalhar nos estaleiros em Cádis estão seis mil funcionários, que dependem do contrato assinado com Riade.
Outro dos factores que levou ao pedido de comparência de Sánchez no Congresso foi a troca de posição do Governo em relação à venda de 400 bombas de orientação a laser ao regime saudita. O executivo do PSOE anunciou, num primeiro momento, a suspensão deste contrato mas, depois, manteve o negócio receando o cancelamento da venda das corvetas.
Tanto Pablo Iglesias, líder do Podemos, como Joan Tardá, da Esquerda Republicana da Catalunha, partidos que apoiam o executivo e que chamaram o primeiro-ministro ao Congresso, criticaram a relação comercial entre Madrid e Riade, mas apontaram baterias à família real espanhola. Iglesias exibiu uma fotografia de Felipe VI com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, considerando “inaceitável a imagem que a monarquia espanhola deu na sua relação com o regime criminoso da Arábia Saudita”.